Papa Francisco abre possibilidade de bênção a casais do mesmo sexo

Iniciativa, segundo o pontífice, deve ser limitada e não confundida com cerimônias de casamentos heterossexuais

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Cidade do Vaticano | Reuters

O papa Francisco, 86, deixou aberta a possibilidade de padres católicos darem bênçãos a casais formados por pessoas do mesmo sexo. A iniciativa, segundo o pontífice, deve ser limitada, decidida caso a caso, e não confundida com cerimônias de casamentos heterossexuais.

A declaração de Francisco foi uma resposta a cinco cardeais conservadores na chamada "dubia" (dúvidas, em latim), em que o papa recebe perguntas sobre temas variados. Um dos questionamentos mencionou que a bênção a casais do mesmo sexo estava se tornando "relativamente comum" na Alemanha.

O papa Francisco cumprimenta fiéis na praça de São Pedro, no Vaticano
O papa Francisco cumprimenta fiéis na praça de São Pedro, no Vaticano - Filippo Monteforte - 27.set.2023/AFP

O debate por escrito ocorreu em julho, e o Vaticano publicou o posicionamento do papa nesta segunda-feira (2), após os cinco cardeais manifestarem insatisfação com as respostas de Francisco.

"Em nosso relacionamento com as pessoas, não devemos perder a caridade pastoral, que deve permear todas as nossas decisões e atitudes", disse o papa na resposta, segundo o Vatican News, o portal de notícias oficial da Santa Sé. "Quando se pede uma bênção, está se expressando um pedido de ajuda a Deus, uma súplica para poder viver melhor, uma confiança em um Pai que pode nos ajudar a viver melhor."

O pontífice enfatizou, porém, que o posicionamento da igreja é claro em relação ao sacramento do matrimônio, e que esse deve ocorrer apenas entre um homem e uma mulher. Disse ainda que a instituição deve evitar qualquer outro ritual que contrarie esse ensinamento.

Para Francisco, a Igreja não deve agir como "juízes que apenas negam, rejeitam e excluem". Segundo ele, algumas vezes os pedidos de bênção são oportunidades para que as pessoas "se aproximem de Deus e tenham vidas melhores", mesmo que alguns atos sejam "objetivamente moralmente inaceitáveis".

A igreja ensina que ter atração por pessoas do mesmo sexo não é pecado, mas engajar-se em atos homossexuais, sim. De acordo com Francisco, quaisquer eventuais bênçãos não devem se tornar a norma ou obter aprovação explícita das jurisdições da igreja, como dioceses e conferências nacionais de bispos.

Se as respostas motivaram reclamações da ala conservadora na igreja, por outro lado foram bem recebidas por setores progressistas. Francis DeBernardo, diretor do New Ways Ministry, que promove a aproximação da igreja com os católicos da comunidade LGBTQIA+, afirmou que, embora as declarações não sejam "um endosso pleno e sonoro" das bênçãos, as falas mostram "que a igreja reconhece que o amor sagrado pode existir entre casais do mesmo sexo, e que o amor dessas pessoas espelha o de Deus".

As respostas do papa foram divulgadas na mesma semana em que começa a 16a edição da Assembleia do Sínodo dos Bispos, convocada por Francisco para debater o futuro da Igreja Católica. O encontro, com início nesta quarta (4), irá discutir e sintetizar visões sobre as prioridades indicadas pelos católicos.

Pelas próximas três semanas, 464 participantes, entre bispos, cardeais, religiosos e laicos, vão se debruçar sobre temas como a maior participação das mulheres, inclusive o acesso delas ao diaconato, e como se aproximar de grupos marginalizados, como divorciados em segundo casamento e pessoas LGBTQIA+. Também tratarão da ordenação de homens casados e de prevenção de abusos sexuais e de poder por parte do clero.

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