Putin ameaça com mísseis hipersônicos porta-aviões enviado pelos EUA a Israel

Aliado do Irã, russo diz querer controlar 'o que está acontecendo no Mediterrâneo'

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São Paulo

Vladimir Putin ameaçou nesta quarta (18) os dois grupos de porta-aviões enviados pelos Estados Unidos para apoiar Israel contra o Hamas e tentar dissuadir o Irã, aliado de Moscou, de se envolver na guerra. Ele determinou o início de patrulhas de caças armados com mísseis hipersônicos capazes de alvejar navios perto da zona de conflito.

Em uma declaração em Pequim, o russo criticou os EUA por enviar os grupos "em meio ao conflito" e disse: "Isso não é uma ameaça... Baseadas nas minhas instruções, as Forças Aeroespaciais Russas irão começar patrulhas de forma permanente na zona de espaço aéreo neutro sobre o mar Negro, e os MiG-31 estarão armados com sistemas Kinjal".

Caças russos MiG-31K, armados com mísseis hiperônicos Kinjal, durante exibição em Moscou
Caças russos MiG-31K, armados com mísseis hiperônicos Kinjal, durante exibição em Moscou - AFP - 9.mai.2018

"Eu enfatizo que isso não é uma ameaça, mas vamos exercer controle visual, controle com armas sobre o que está acontecendo no mar Mediterrâneo", afirmou o russo, respondendo a uma pergunta sobre o significado da ação. O mar Negro banha a região do conflito com a Ucrânia.

Traduzindo a dita não ameaça: a região a ser patrulhada pelos supersônicos MiG-31K, no centro do mar Negro, fica a cerca de 1.300 km da costa israelense, e o míssil hipersônico Kinjal tem um alcance estimado em cerca de 1.500 km —Putin falou em "velocidade acima de Mach 9 (11 mil km/h) e alcance de mais de 1.000 km".

Embora não tenha sido desenhado como uma arma antinavios, como é o também já operacional Tsirkon a serviço de uma fragata russa, o míssil pode atingir alvos na superfície do mar. Eles são algumas das "armas invencíveis" apresentadas por Putin em 2018. Na Guerra da Ucrânia, o Kinjal já foi usado, e sua invencibilidade foi contestada em 14 ocasiões, segundo Kiev.

Já opera no Mediterrâneo oriental o grupo liderado pelo USS Gerald Ford, o maior navio de guerra do mundo, mais recente aquisição da frota americana de 11 porta-aviões. O presidente Joe Biden, que esteve nesta quarta em Israel, já colocou um outro grupo, do USS Dwight Eisenhower, a caminho.

Cada grupo tem navio principal, um cruzador, três destróieres, um submarino nuclear e embarcações de apoio. Traz um poder de fogo enorme, de cerca de 400 mísseis disparados das escoltas, fora todas as armas dos aviões.

"Minha mensagem para o Irã é clara: não cruze a fronteira, não escale a guerra", disse Biden no domingo (15). Teerã, adversária existencial de Tel Aviv, municia e banca não só o palestino Hamas, mas também o mais poderoso Hizbullah, grupo xiita do Líbano.

Desde o início da atual guerra, iniciada pelo ataque terrorista do Hamas no último dia 7, o Hizbullah tem marcado posição com cada vez mais intensos ataques na fronteira norte de Israel. A sugestão nada sutil feita por Washington é que, se o Irã tentar usar seu preposto para abrir uma segunda frente na guerra, ao menos os libaneses poderão ser alvo dos porta-aviões.

Putin é um dos principais aliados do Irã, e apoia diretamente a ditadura de Bashar al-Assad na Síria, onde desde 2015 opera um destacamento aéreo que atua em conjunto com a Guarda Revolucionária iraniana contra os adversários de Damasco na guerra civil que assola o país. Na prática, salvou Assad de ser trucidado.

Assim, configura-se uma divisão em blocos que, do lado russo, era mais de retórica política. Agora, o discurso foi militarizado, embora na prática não seja do interesse russo qualquer tipo de escalada regional que possa envolver suas forças.

Isso porque os russos estão focados na problemática Guerra da Ucrânia, onde estão em uma tentativa de ofensiva nesse momento. E, apesar de, como o Irã, apoiar a Síria, Putin tem boas relações com o governo de Binyamin Netanyahu, tanto que suas forças se falam quando os israelenses resolvem bombardear alvos no vizinho árabe.

Os ataques são frequentes, e na semana passada aeroportos sírios que poderiam receber armas iranianas rumo ao Hizbullah foram alvos de mísseis israelenses em duas ocasiões. Moscou apenas alertou para os perigos de regionalização da crise.

Nesse sentido, agora é a vez de Putin marcar sua posição, até porque é preciso muita imaginação para supor que ele atacaria diretamente um porta-aviões americano para defender o Hizbullah, exceto que Terceira Guerra Mundial seja uma opção no caso.

Politicamente, é uma forma de o russo ocupar espaço internacional, o que reforça sua imagem interna de liderança, contestada pelo desgaste que os 601 dias da Guerra da Ucrânia lhe geraram. Apoiadora histórica dos palestinos, a Rússia tenta mediar o conflito de um lado, apesar de não estar em posição de criticar violência estatal, e parecer forte do outro.

Também nesta quarta, o Parlamento russo atendeu ao presidente e derrubou a adesão russa ao tratado que proibia todos os testes nucleares, que nunca foi ratificado pelos EUA. Com isso, a carta de uma explosão simbólica, por assim dizer, volta ao baralho de ameaças atômicas feitas pelo russo para tentar demover o apoio ocidental a Kiev.

Seja como for, o anúncio em meio ao aumento da violência entre israelenses e o Hizbullah apenas alimenta as chamas do temor de que algo saia de controle no volátil Oriente Médio, que até por causa da guerra europeia vinha esquecido como preocupação do noticiário ocidental.

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