Rússia envia ao Atlântico primeiro navio com mísseis hipersônicos

Em meio à tensão devido à Guerra da Ucrânia, fragata irá depois ao Índico; arma pode carregar ogiva nuclear

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São Paulo

A Rússia colocou em operação pela primeira vez uma fragata armada com mísseis hipersônicos e a despachou para patrulha nos oceanos Atlântico e Índico, elevando ainda mais a tensão militar com o Ocidente em meio à Guerra da Ucrânia.

A Almirante Gorchkov, uma das duas novas fragatas dessa classe já comissionada na Marinha Russa, deixou seu porto em Severomorsk (Ártico), a base da Frota do Norte, segundo o presidente Vladimir Putin.

Míssil Tsirkon é lançado da Almirante Gorchkov em teste no mar Branco (Ártico) em 2019
Míssil Tsirkon é lançado da Almirante Gorchkov em teste no mar Branco (Ártico) em 2019 - Divulgação Ministério da Defesa da Rússia - 19.jul.19/Reuters

"Desta vez o navio está equipado com o mais recente sistema de míssil hipersônico, o Tsirkon, que não tem análogos", afirmou Putin em uma videoconferência com o capitão da embarcação, Igor Krokhmal, e o ministro Serguei Choigu (Defesa). "Quero desejar à tripulação sucesso no serviço pelo bem da pátria mãe."

O míssil 3M22 Tsirkon (zircão, em russo) é uma das "armas invencíveis", como Putin as chamou ao revelá-las ao mundo em 2018. Propaganda à parte, é um sistema que causa preocupação no Ocidente, e seu desenvolvimento foi acelerado pela Rússia já em meio aos preparativos para a invasão do vizinho.

Foi concebido como um míssil antinavio, mas pode acertar alvos em terra também. Em testes, alcançou nove vezes a velocidade do som (11 mil km/h), mas acredita-se que opere regularmente a menos que isso, podendo atingir alvos entre 1.000 km e 1.500 km de distância.

Não se sabe se Putin armou esses Tsirkon com ogivas nucleares, o que aumentaria ainda mais o grau de ameaça da fragata, que entrou em operação em 2018. Ele também pode ser operado de submarinos.

O míssil pode levar, segundo especialistas militares russos a partir de dados não confirmados, 300 kg de explosivos ou uma bomba atômica de 200 kt (pouco mais de dez vezes mais potente que a de Hiroshima).

Mais importante, o Tsirkon pode manobrar no ar, escapando de defesas antiaéreas já bastante atordoadas por um projétil nessa velocidade. Naturalmente, ninguém sabe exatamente sua funcionalidade real no Ocidente, dado que os testes foram secretos, mas seu potencial não é descartado.

Não foi divulgado quantos navios de apoio irão na missão. Na estreia, em 2018, a primeira circum-navegação global russa desde o século 19, a Almirante Gorchkov foi acompanhada de duas embarcações.

Ao indicar a rota da fragata, Putin dá um sinal de capacidade militar de longo alcance enquanto sofre críticas pelo desempenho na Ucrânia. Resta saber quais portos a aceitarão para reabastecimento com a Rússia em conflito: ela tem autonomia para cerca de 7.500 km em velocidade total e 30 dias de mar.

Na Ucrânia, o Kremlin já disse ter utilizado um míssil hipersônico em combate, o Kinjal (punhal), lançado por caças MiG-31K ou bombardeiros Tu-22M3. O modelo, outra arma que pode levar uma ogiva nuclear, difere do Tsirkon por ter carga pouco maior e sistema de propulsão mais simples, de combustível sólido.

Já o Tsirkon usa o chamado scramjet. Levado inicialmente por um propulsor sólido de primeiro estágio, aciona um motor especial que promove a queima de combustível líquido numa câmara de ar comprimido em velocidades supersônicas, chegando então ao nível hipersônico (cinco vezes acima do som).

Outro tipo na categoria é o chamado planador hipersônico, levado à velocidade final por um foguete potente e, depois, como o nome diz, plana em altíssima velocidade de forma manobrável, atingindo seu alvo com uma ogiva nuclear, convencional ou só usando sua energia cinética.

A Rússia opera ao menos um regimento desse modelo, o Avangard (vanguarda), que a China também possui. Pequim também diz operar modelos antinavio semelhantes ao Tsirkon. Os EUA estão correndo atrás do prejuízo, depois de considerarem superestimado o valor dos hipersônicos.

Neste ano, a Força Aérea americana conseguiu pela primeira vez testar com sucesso todas as etapas de seu planador hipersônico. Outros países dizem ter capacidades no meio, como Irã e Coreia do Norte, mas pouco se sabe sobre a realidade dos programas.

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