Descrição de chapéu guerra israel-hamas

Síria acusa Israel de atacar aeroportos; Rússia alerta para escalada

Ação, que Tel Aviv não comenta, eleva o risco de uma conflagração em meio à guerra contra o Hamas

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São Paulo

O governo da Síria acusou Israel de bombardear nesta quinta (12) seus dois principais aeroportos, na capital Damasco e em Aleppo, maior cidade do país, ao norte. A Rússia, aliada dos sírios, confirmou a ação e criticou duramente Tel Aviv.

As IDF (Forças de Defesa de Israel) não confirmaram a ação, como é usual, mas tudo indica que foram as autoras do ataque. O episódio eleva o risco de uma conflagração regional na esteira do mortífero ataque do grupo terrorista palestino Hamas no sábado passado (7), que matou mais de 1.200 israelenses.

Dois caças F-16I de Israel, usualmente empregados em ataques contra a Síria
Dois caças F-16I de Israel, usualmente empregados em ataques contra a Síria - Jack Guez - 26.abr.2023/AFP

O Ministério das Relações Exteriores russo disse que "os ataques violam grosseiramente a lei internacional". "No contexto da grave escalada da situação na zona de conflito palestino-israelense, tais ações podem levar a consequências extremamente graves, já que podem provocar uma escalada armada na região. Isso não pode ser permitido", afirmou em nota.

Israel ataca a Síria, ditadura liderada por Bashar al-Assad que desde 2011 está imersa em uma guerra civil, com frequência regular. Usualmente, seus alvos são comboios do Hizbullah libanês com armas vindas do vizinho Irã —tanto Teerã quanto os milicianos xiitas são aliados de Damasco.

A ação mais recente havia sido no último dia 3, e feriu dois soldados sírios em Deir Ez-Zor, no nordeste do país. Ataques mais sérios já ocorreram, com o bombardeio de posições da Guarda Revolucionária do Irã no país e de depósitos de armas químicas de Assad.

Na terça-feira (10), houve troca de disparos de morteiros na região das colinas de Golã, território sírio ocupado por Israel desde a Guerra dos Seis Dias, em 1967. As IDF afirmam suspeitar que o ataque foi iniciado pelo Hizbullah, como forma de buscar tergiversar a atenção da operação que está em curso para invadir Gaza e destruir o Hamas.

Elas acompanharam outros incidentes na fronteira norte de Israel, como um ataque com o foguete de maior alcance do Hamas contra Haifa, principal cidade costeira da região.

Mas ações contra aeroportos são diferentes, pois sugerem algo coordenado. Afinal, a primeira coisa que um Exército invasor costuma fazer é destruir pistas de pouso, infraestrutura militar e energética de países alvejados. Segundo a rede privada Sham TV e a agência estatal Sana, ambos os aeródromos estão inutilizáveis.

Isso colocaria nas mãos de Israel a escalada da crise. Isso, em tese, não deveria interessar a Tel Aviv, absorta com Gaza. Mas há uma nada desprezível hipótese de que a ação tenha sido apenas um recado mais incisivo para que Assad não permita ações do Hizbullah contra o norte israelense.

Por outro lado, a convocação de 300 mil dos 450 mil reservistas de Israel após a declaração de guerra contra o Hamas chama a atenção. O premiê Binyamin Netanyahu já disse que o Oriente Médio não será o mesmo após sua nova guerra.

As IDF têm, regularmente, 169,5 mil soldados, o mesmo tamanho do Exército sírio —mas são uma força altamente capaz, enquanto as tropas de Assad dependem do Irã, do Hizbullah e da Força Aérea da Rússia, que tem uma grande base em Hmeimin (norte), para lutar na guerra civil em que o país está mergulhado há mais de uma década.

A presença russa é outro fator importante, já que, antes da Guerra da Ucrânia, a Síria era a principal vitrine da musculatura militar de Vladimir Putin no mundo. Sua intervenção no conflito local, em 2015, salvou o governo em frangalhos de Assad.

Mas, desde então, Moscou mantinha uma linha direta para desescalar crises potenciais com Tel Aviv, que, por exemplo, informava os russos acerca dos ataques que pretendia fazer contra os sírios. Era um acordo tácito importante, dada a maciça presença estrangeira no conflito —ao menos 19 países se envolveram com algum dos lados ao longo dos anos.

Nem sempre deu certo, como em 2018, quando dois aviões russos foram derrubados pela defesa síria, que os confundiram com uma aeronave de Israel. A partir dali, a coordenação melhorou, baseada também no bom relacionamento entre Putin e Netanyahu.

Assim, é bastante improvável que um ataque de maior magnitude contra a Síria não tenha sido informado a Moscou. Isso deverá causar ruído com Teerã, até porque o ataque ocorre um dia antes da visita do chanceler do país, Hossein Amirabdollahian, a Damasco.

Os iranianos, assim como os sírios, não reconhecem Israel e fornecem armas e dinheiro para o Hamas, o Hizbullah e outros grupos radicais, como o palestino Jihad Islâmica. Até aqui, contudo, nem Israel nem seus fiadores americanos acusaram diretamente o Irã de participar da organização do ataque do sábado.

O Hamas tem uma estrutura bastante independente, mas analistas ponderam que a facção dificilmente faria algo com tal impacto sem ao menos sinalizar a ação a seus patrocinadores. Teerã nega isso, e a moderação de todos os lados sugere que ninguém gostaria de ver uma guerra regional ampliada —o que coloca interrogações sobre o sentido do bombardeio que a Síria acusa nesta quinta.

De seu lado, os Estados Unidos advertiram o Irã a ficar longe da guerra em Israel e, para reforçar a mensagem, enviaram seu mais poderoso porta-aviões para a costa do aliado, onde ele desembarcou armas. Com efeito, Putin queixou-se disso, questionando se os americanos pretendiam "bombardear o Líbano ou o quê?", "inflamando" a crise.

Enquanto isso, os preparativos para a operação em Gaza seguem, com as IDF amontoando blindados, tanques e soldados perto das fronteiras do território. Os bombardeios continuaram durante esta noite e manhã, de forma incessante, assim como sirenes de alarme de ataque de foguetes do Hamas soaram em várias regiões de Israel.

O nó dessa ação é como libertar os cerca de 150 reféns feitos por Hamas no sábado. Nos últimos seis dias, ao menos 1.400 palestinos já morreram em Gaza, área sob bloqueio pelos israelenses e pelos egípcios desde 2007, quando o Hamas expulsou seus rivais palestinos e dominou o governo.

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