Suspeito de matar 18 pessoas em ataque a tiros nos EUA é encontrado morto

Corpo do reservista Robert Card foi encontrado em um bosque perto de Lisbon, em Maine, após 48 horas de busca

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Lewiston (EUA) | Reuters

O homem suspeito de matar 18 pessoas e ferir 13 em um ataque a tiros em Maine, nos Estados Unidos, foi encontrado morto nesta sexta-feira (27), segundo a polícia. A informação encerra uma perseguição de 48 horas para achar o possível responsável pelo episódio mais letal de violência armada na história do estado.

Segundo a emissora americana CNN, o corpo de Robert Card, de 40 anos, foi encontrado nos arredores de um centro de reciclagem que o demitiu recentemente, em um bosque perto de Lisbon. A cidade fica a quase 12 quilômetros de Lewiston, onde aconteceu o ataque em uma pista de boliche e em um restaurante, na noite da última quarta-feira (25).

Policiais procuram suspeito de abrir fogo em pista de boliche e bar em Maine, nos EUA - Joe Raedle/Getty Images via AFP

"Ele está morto", disse a governadora do Maine, Janet Mills, em uma entrevista coletiva, agradecendo aos policiais envolvidos na busca. "Assim como muitas pessoas, estou respirando aliviada esta noite ao saber que Robert Card não é mais uma ameaça para ninguém. Agora é hora de curar."

Acredita-se que o sargento da reserva do Exército dos EUA tenha sido o autor do crime que abalou a comunidade tranquila da antiga cidade têxtil de 40 mil habitantes, a segunda mais populosa do Maine. O município fica às margens do rio Androscoggin, cerca de 56 km ao norte da maior cidade do estado, Portland, e quase tão distante da capital, Augusta.

Card foi descrito pelas autoridades como um instrutor de armas treinado que atuava como especialista em abastecimento de petróleo quando estava na ativa em uma base militar em Saco, no Maine.

Horas após o ataque, a polícia divulgou fotos de câmeras de vigilância de um dos locais do crime. As imagens mostravam um homem com barba vestindo um moletom marrom com capuz e calça jeans enquanto carregava o que parecia ser um rifle semiautomático.

Enquanto isso, centenas de membros de diversas agências, da polícia local até a federal, se juntaram à busca. Até mesmo agentes de fronteira do Canadá estavam em alerta.

As investigações chegaram à cidade em que ele morava, Bowdoin. No município vizinho a Lewiston, autoridades cumpriram uma série de mandados de busca e cercaram a casa de Card, localizada em uma área de mata, por mais de duas horas. Um oficial do FBI usou um megafone para ordenar que ele saísse do local com as mãos para cima, mas aparentemente não havia ninguém na residência.

Foi em Lisbon que a Polícia Estadual do Maine encontrou um SUV branco, que Card possivelmente usou para fugir, estacionado perto de um cais no rio. Arquivos públicos mostram que ele era proprietário de pelo menos uma embarcação fabricada pela Sea-Doo, empresa conhecida por suas motos aquáticas estilo jet ski.

Mais cedo, o comissário do Departamento de Segurança Pública do Maine, Mike Sauschuck, afirmou à imprensa que uma mensagem havia sido encontrada durante as operações, mas se recusou a revelar qual era o conteúdo do texto ou seu suposto autor.

Como parte das buscas por Card, a polícia vasculhou as águas do rio Androscoggin com mergulhadores e sonar nesta sexta, além de enviar equipes de policiais de porta em porta em busca de mais pistas e possíveis testemunhas oculares. Mais cedo, a polícia suspendeu a ordem que havia mantido dezenas de milhares de pessoas em suas casas durante a perseguição.

De acordo com o Exército dos EUA, Card se alistou em 2002, mas nunca participou de combates. Um boletim policial emitido na noite de quarta dizia que ele havia relatado recentemente "problemas de saúde mental", incluindo alucinações auditivas, e ameaçado "atirar na base da Guarda Nacional em Saco". Segundo autoridades policiais, ele foi internado em uma instituição psiquiátrica por duas semanas durante 2023.

Maine é descrito pelo FBI, a polícia federal americana, como o estado menos violento dos EUA, e o número de pessoas mortas na quarta é um pouco menor do que sua média anual de homicídios, que variou entre 16 e 29 indivíduos entre 2012 e 2022.

Nesta sexta, as autoridades também divulgaram oficialmente os nomes e idades das vítimas pela primeira vez.

Quatro dos mortos pertenciam à comunidade surda, disse Sauschuck, que pediu às emissoras para enquadrar o intérprete da língua de sinais americana presente na entrevista coletiva nas transmissões.

A irmã de uma das vítimas falou ao Lewiston Sun Journal que, no momento do ataque no restaurante Schemengees Bar & Grille, nove pessoas com deficiência auditiva participavam de um torneio de "cornhole", jogo em que os participantes tentam acertar saquinhos cheios de milho seco em um buraco sobre uma plataforma de madeira inclinada.

Entre eles estava Joshua Seal, 36. Ele era diretor de serviços de tradução da Pine Tree Society, uma organização sem fins lucrativos que ajuda pessoas com deficiência, informou o Sun Journal, citando Noel Sullivan, presidente do grupo. Segundo Noel, Seal prestou serviços vitais de tradução para pessoas isoladas durante a pandemia do coronavírus.

Stephen Vozella, 45, outra vítima, era um funcionário dos correios e membro ativo do New England Deaf Cornhole, disse o grupo em sua página no Facebook, acrescentando que um momento de silêncio seria realizado no próximo torneio. Bryan MacFarlane, 41, um motociclista ávido, também participava da competição ao ser morto.

Bill Young, 44, e seu filho de 14 anos, Aaron, foram baleados e mortos enquanto jogavam boliche juntos, disse Rob, irmão de Bill, à agência de notícias Reuters. Bob Violette, 76, e sua mulher, Lucille, 73, jogavam em uma liga de casais quando foram mortos, segundo o Sun Journal.

Tricia Asselin, 53, era uma funcionária de meio período da pista de boliche que estava tentando ligar para o 911 quando foi baleada. Joseph Walker, 57, era gerente do restaurante e permaneceu no local para tentar ajudar após ter a chance de escapar por uma porta perto de seu escritório, disse seu pai, Leroy, à Reuters.

"Fomos informados de que ele pegou uma faca de açougueiro na área do bar onde estava e foi atacar o atirador", disse Leroy sobre seu filho, a quem chamava de Joey. O atirador, porém, atirou no gerente.

O Gun Violence Archive, que compila dados relacionados a ataques a tiros nos EUA, afirma que o número de episódios do tipo no país em que quatro ou mais indivíduos foram atingidos deve chegar a 679 em 2023, ante 647 em 2022. Os esforços feitos pela gestão Joe Biden para adotar leis mais estritas nesse sentido esbarram na oposição de diversos parlamentares, defensores ferrenhos do direito constitucional ao porte de armas.

Este texto está em atualização.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.