Lula visita Arábia Saudita e Qatar em busca de petrodólares para investimentos

Presidente também pedirá apoio de Doha para repatriação de brasileiros em Gaza; na sequência, vai à COP28 e a Berlim

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São Paulo

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deu início nesta segunda-feira (27) a uma série de viagens ao exterior cuja primeira parada, em nações do Oriente Médio de economia petroleira, tem como objetivo selar parcerias de investimentos.

O petista partiu à tarde para Riad, capital saudita, onde permanece na terça (28) e na quarta (29). Desde o final do governo anterior, de Jair Bolsonaro (PL), a monarquia autoritária vem sinalizando interesse em ampliar sua cartela de investimentos no Brasil.

O presidente Lula e a primeira-dama Janja embarcam no helicóptero presidencial, no Palácio da Alvorada - Pedro Ladeira/Folhapress

Na época, Riad sinalizou interesse de investir o montante de US$ 10 bilhões (cerca de R$ 50 bilhões na cotação atual) no Brasil —hoje a balança de exportações e importações entre os dois países, segundo dados atualizados do Comex, soma cerca de US$ 5,6 bilhões anuais (R$ 27 bilhões). Faltava, porém, bater o martelo nas áreas de investimento.

Ao longo deste segundo semestre, de acordo com o Itamaraty, missões empresariais sauditas vieram ao Brasil para ampliar as prospecções. Em setembro, durante a cúpula do G20 em Nova Déli, Lula reuniu-se com o príncipe herdeiro e premiê Mohammed bin Salman, que demonstrou interesse em campos como petróleo, gás e fontes renováveis.

Por parte de Brasília, um dos objetivos principais da viagem é apresentar a cartela de possibilidades oferecida pelo Novo PAC, o Programa de Aceleração do Crescimento retomado na gestão Lula 3.

A despeito da força econômica saudita assentada no petróleo, figura de Mohammed bin Salman, ou MbS, como é conhecido, não é bem-vista na comunidade global. A inteligência americana acredita que o príncipe herdeiro tenha ordenado o assassinato do jornalista Jamal Khashoggi, torturado e esquartejado em 2018.

Ainda assim, o próprio presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, já se reuniu com ele. O ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro também esteve com MbS no início do mandato e o afirmou que ele era "quase um irmão". Ele chegou a convidar o saudita para vir ao Brasil, mas a visita não se concretizou.

Depois dos dias na Arábia Saudita, Lula vai ao vizinho Qatar, onde fica até quinta-feira (30). O petista já havia recebido convites do emir Tamim bin Hamad al-Thani para estar em Doha, um deles após a visita que fez à China em abril.

Também lá o objetivo é atrair investimentos para o Brasil. Mas a viagem deve ser, ao menos em parte, dominada por debates sobre a guerra Israel-Hamas, uma vez que o emirado vem ganhando destaque no mundo árabe e no Ocidente pelo protagonismo que assumiu como mediador no conflito. Foi ele, por exemplo, que articulou o acordo que permitiu na última semana um cessar-fogo nas hostilidades durante o qual reféns israelenses foram libertados pelo Hamas ao mesmo tempo em que prisioneiros palestinos foram soltos por Tel Aviv.

A ideia de Brasília é, assim, barganhar apoio nos pleitos de repatriação de brasileiros que ainda estão em Gaza. A diplomacia brasileira já tem esboçada uma nova lista com 86 nomes de pessoas para serem retiradas da faixa por meio da fronteira com o Egito.

O primeiro grupo de repatriados de Gaza, formado por 32 pessoas, desembarcou no Brasil no início da segunda quinzena de novembro. O imbróglio que antecedeu a repatriação chegou a gerar mal-estar com a diplomacia israelense.

De Doha, finalizadas suas viagens bilaterais, Lula vai a Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, participar da 28ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, a COP28. A expectativa sobre a participação brasileira é grande entre seus parceiros globais pelo fato de o governo Lula 3 ter retomado a agenda climática e a pautado no xadrez internacional após a marginalização do tema no governo anterior.

O chanceler Mauro Vieira encontra-se com Lula apenas nesta parada, nos Emirados Árabes. A ida do diplomata a Riad e a Doha foi impedida pelo fato de o Conselho de Segurança da ONU, presidido temporariamente pela China, ter convocado para esta semana uma reunião a nível ministerial para debater a guerra no Oriente Médio.

O Brasil viu sua presidência do órgão ao longo do mês de outubro ser dominada pelo conflito e colheu frustrações ao não aprovar resoluções que pediam o fim do conflito e o envio de ajuda humanitária a Gaza. A sequência de vetos terminou em um discurso duro —Vieira disse que o conselho vive uma "paralisia moralmente inaceitável".

Enfim, no domingo, 3 de dezembro, o presidente Lula parte para Berlim, onde tem uma série de encontros com membros do governo do premiê Olaf Scholz. O alemão foi um dos primeiros líderes globais a fazer uma visita oficial de Estado ao Brasil no governo Lula 3, ainda em janeiro. Também neste primeiro ano de gestão, a ministra das Relações Exteriores alemã, Annalena Baerbock, esteve no país.

Um dos objetivos principais da viagem ao país europeu é colocar o pé no acelerador para o acordo de livre comércio entre a União Europeia e o Mercosul, que a diplomacia brasileira ainda afirma ser possível selar neste ano, a despeito do ceticismo.

A ministra Marina Silva, do Meio Ambiente, acompanhará Lula. Afinal, são as condicionantes ambientais do texto, o principal entrave à sua assinatura.

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