Em resposta a premiê de Israel, Dino diz que nenhuma força estrangeira manda na PF

Ministro rebate declarações do gabinete de Netanyahu sobre investigação no Brasil que mira suspeitos de ligação com Hezbollah

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Brasília

O ministro da Justiça, Flávio Dino, rebateu nesta quinta-feira (9) afirmações feitas pelo gabinete do primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, sobre a operação da Polícia Federal que prendeu dois brasileiros suspeitos de ligação com o grupo extremista Hezbollah.

Em uma rede social, Dino afirmou que o Brasil é "um país soberano" e que "nenhuma força estrangeira manda na Polícia Federal do Brasil".

"Nenhum representante de governo estrangeiro pode pretender antecipar resultado de investigação conduzida pela Polícia Federal, ainda em andamento", afirmou.

O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino - Pedro Ladeira - 1º.nov.2023 - Folhapress

"Apreciamos a cooperação internacional cabível, mas repelimos que qualquer autoridade estrangeira cogite dirigir os órgãos policiais brasileiros, ou usar investigações que nos cabem para fins de propaganda de seus interesses políticos."

A PF deflagrou uma operação nesta quarta (8) para prevenir atos terroristas no país. De acordo com a apuração que deu origem à ação, atos preparatórios estavam em andamento para ataques a prédios da comunidade judaica no Brasil.

Segundo informações às quais a Folha teve acesso, dois homens envolvidos no caso já foram presos no Brasil. Outros dois que estariam no Líbano tiveram seus nomes incluídos na difusão vermelha da Interpol, o canal de foragidos da polícia internacional. Os quatro têm nacionalidade brasileira.

A polícia cumpriu 11 mandados de busca e apreensão em Minas Gerais, São Paulo e no Distrito Federal.

Em uma nota publicada nesta quarta sobre o caso, o gabinete de Netanyahu afirmou que "os serviços de segurança brasileiros, juntamente com o Mossad [agência de inteligência e operações especiais de Israel] e os seus parceiros na comunidade de segurança israelense, juntamente com outras agências de segurança internacionais, frustraram um ataque terrorista no Brasil, planejado pela organização terrorista Hezbollah, dirigida e financiada pelo Irã".

O titular da Justiça, por sua vez, disse que esses mandados "derivaram de decisões do Poder Judiciário do Brasil".

"Se indícios existem, é dever da Polícia Federal investigar, para confirmar ou não, as hipóteses investigativas", afirmou.

"Quem faz análise da plausibilidade de indícios que constam de relatórios internacionais são os delegados da Polícia Federal, que submetem pedidos ao nosso Poder Judiciário."

Dino disse que a conduta da PF decorre exclusivamente das leis brasileiras, que nada tem a ver com conflitos internacionais e que não cabe à corporação analisar temas de política externa. De acordo com ele, as investigações são anteriores à deflagração da guerra no Oriente Médio.

O ministro concluiu sua publicação afirmando a que a PF apresentará ao Judiciário os resultados da investigação, classificada por ele de técnica, isenta e com apoio em provas analisadas exclusivamente pelas autoridades brasileiras.

No mesmo dia em que a PF realizou a operação citada por Netanyahu, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e parlamentares de direita se encontraram com o embaixador de Israel no Brasil, Daniel Zonshine. O encontro foi visto com desconfiança por integrantes do governo Lula.

O ministro da Defesa, José Mucio Monteiro, afirmou nesta quinta que não interessa ao governo "politizar um momento desses".

"Se todos estiverem procurando meios para salvar vidas, [o contato de Bolsonaro com o embaixador] pode interessar. Mas fazer política com a vida dos outros não é interessante. É mais uma coisa da diplomacia brasileira, e estamos prontos para fornecer a estrutura necessária [para a repatriação do brasileiros na Faixa de Gaza]", disse Mucio em coletiva para agradecer a cooperação da companhia aérea Azul na missão de resgate dos brasileiros no Oriente Médio.

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