Descrição de chapéu guerra israel-hamas

Guerra Israel-Hamas mata mais jornalistas que 20 meses da Guerra da Ucrânia

Profissionais enfrentam riscos particularmente elevados em Gaza, diz Comitê para a Proteção de Jornalistas

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Em pouco mais de um mês, ao menos 39 jornalistas foram mortos enquanto cobriam a guerra Israel-Hamas, segundo o Comitê para a Proteção de Jornalistas (CPJ). O número é mais que o dobro do registrado nos 20 meses da Guerra da Ucrânia, conflito que registrou 17 óbitos de profissionais de imprensa.

A CPJ alerta que "os jornalistas em Gaza enfrentam riscos particularmente elevados conforme tentam cobrir o conflito face a um ataque terrestre israelense à Cidade de Gaza, a devastadores ataques aéreos israelenses, a interrupções nas comunicações e a extensos cortes de energia".

Também sublinha que Israel avisou as agências de notícias de que não poderia garantir a segurança dos profissionais na guerra.

Homem lamenta a morte de Muhammad Abu Hatab, correspondente de TV palestino, em Gaza
Homem lamenta a morte de Muhammad Abu Hatab, correspondente de TV palestino, em Gaza - Rizek Abdeljawad - 3.nov.23/Xinhua

Dos 39 jornalistas mortos até esta quarta —mais de um por dia—, 34 eram palestinos; 4, israelenses; e 1, libanês. "[Trata-se do] mês mais mortal para os jornalistas que cobrem conflitos desde que o CPJ começou a documentar suas mortes, em 1992", diz a organização com sede em Nova York.

Pelo menos oito jornalistas ficaram feridos, e vários tiveram familiares mortos no conflito. Um dos profissionais atingidos pela guerra foi o cinegrafista palestino Mohammed Alalou, 37, que trabalha para a agência de notícias turca Anadolu. Ele perdeu quatro de seus cinco filhos em um bombardeio na segunda-feira (6) que atingiu a sua casa no campo de refugiados Maghazi, na Faixa de Gaza.

Segundo o jornal americano The New York Times, Alalou estava trabalhando quando recebeu uma enxurrada de mensagens no celular. Ao checar as notificações, soube que os corpos de quatro de seus filhos —Qais, Ahmad, Rahaf e Kenaan— haviam sido encontrados nos escombros da casa destruída.

Além dos filhos, Alalou disse que quatro de seus irmãos e "vários sobrinhos" morreram na ofensiva. A esposa do cinegrafista foi hospitalizada com queimaduras graves no rosto, múltiplas fraturas e ferimentos por estilhaços. Após o caso ganhar repercussão, um porta-voz militar de Israel disse que autoridades do país estavam investigando se o Exército israelense estava atuando na área durante o bombardeio.

"O CPJ enfatiza que os jornalistas são civis que realizam um trabalho importante em tempos de crise e não devem ser alvo de partes em conflito", disse Sherif Mansour, coordenador do programa do CPJ para o Oriente Médio e África do Norte, em fala reproduzida pelo site da organização. "Os que estão em Gaza, em particular, pagaram, e continuam a pagar, um preço sem precedentes e enfrentam ameaças exponenciais."

O balanço da CPJ não contabiliza apenas profissionais que foram mortos em Israel ou na Faixa de Gaza. O cinegrafista da agência Reuters Issam Abdallah, por exemplo, foi morto quando Tel Aviv atirou contra posições do Hezbollah no sul do Líbano, em 13 de outubro.

Além dos jornalistas mortos ou feridos, há ainda tentativa de censura contra os profissionais, alerta a CPJ. Ao menos nove foram presos desde o começo da guerra, e a organização aponta "múltiplos registros" de agressões, ameaças, ataques cibernéticos e assassinatos de familiares.

Já o Comitê de Apoio a Jornalistas (JSC, na sigla em inglês) diz que mais de 40 casas de profissionais da imprensa foram destruídas em ataques, e 55 organizações de mídia tiveram suas instalações derrubadas ou danificadas.

Israel tem sido criticado por punir de maneira coletiva e indiscriminada os civis de Gaza. Desde o início da guerra, em 7 de outubro, mais de 10,5 mil palestinos morreram no território, segundo o Ministério da Saúde local, controlado pelo Hamas; do lado israelense, foram ao menos 1.400 óbitos.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.