Legado de Kissinger, figura-chave no Oriente Médio, ecoa na guerra Israel-Hamas

Morto nesta quarta, diplomata teve papel significativo no estabelecimento da paz entre Israel e Egito

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John Yoon
The New York Times

Uma das contribuições mais notáveis de Henry Kissinger, diplomata americano morto nesta quarta-feira aos 100 anos, foi seu papel no estabelecimento da paz entre Israel e Egito. Desde então, as duas nações cooperaram na imposição de um bloqueio de 16 anos na Faixa de Gaza e na entrega de ajuda humanitária aos palestinos após ataques liderados pelo Hamas contra Israel provocarem uma guerra em grande escala.

O Egito, por meio da diplomacia de Kissinger, "deixou de estar na esfera de influência soviética para a entrar na esfera da influência americana", diz Bren Carlill, porta-voz da Federação Sionista da Austrália, organização que é um guarda-chuva da comunidade judaica australiana. "Isso, na minha opinião, foi uma das vitórias da Guerra Fria para a política externa americana, senão a maior."

O ex-secretário de Estado dos EUA Henry Kissinger durante cerimônia em homenagem a sua carreira - Brendan Smialowski - 9.mai.2016/AFP

Após sua fundação, em 1948, Israel travou cinco guerras com o Egito —uma das principais foi a árabe-israelense de 1973. Também conhecida como Guerra do Yom Kippur, começou após Egito e Síria coordenarem um ataque surpresa a Israel sobre o território ocupado na Península do Sinai e nas Colinas de Golã. Esse foi o último conflito entre as duas nações.

Kissinger, que foi um refugiado judeu em sua juventude, facilitou intensas negociações entre Israel, Egito e seus aliados árabes, que ajudaram a encerrar aquela guerra. Essas conversas foram um ponto de virada na história do Oriente Médio.

Ao longo de 33 dias viajando pela região —uma jornada de ida e volta que foi chamada de "diplomacia de vaivém"— ele persuadiu Israel e Egito a iniciarem conversas diretas e fazer concessões significativas. Suas reuniões em Jerusalém, Cairo e Damasco, na Síria, ajudaram a pavimentar o caminho para os Acordos de Camp David de 1978, que formalmente encerraram o estado de guerra entre Israel e Egito, ajudaram a abrir o caminho para relações diplomáticas entre os dois países e levaram à retirada das forças israelenses da Península do Sinai.

"Ele nunca perdeu de vista a necessidade de manter o equilíbrio no Oriente Médio", disse Bilahari Kausikan, ex-diplomata e presidente do Instituto do Oriente Médio da Universidade Nacional de Singapura.

Em casa, ele foi uma figura complicada para algumas pessoas da comunidade judaica. Em uma gravação que veio à tona em 2010, Kissinger foi ouvido dizendo ao presidente Richard Nixon em 1973 que ajudar judeus na União Soviética a emigrar para os Estados Unidos para escapar da opressão "não era um objetivo da política externa americana". Alguns líderes de organizações judaicas chamaram suas palavras de "desprezíveis", "insensíveis" e "chocantes", embora outros tenham amenizado suas críticas, observando seu apoio de longa data a Israel.

"Kissinger era um judeu muito, muito orgulhoso", disse Carlill. "Mas, principalmente em sua vida profissional, ele absolutamente colocou os interesses dos EUA em primeiro lugar, além de sua identidade judaica e além de Israel —o que era totalmente apropriado."

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