Descrição de chapéu Todas guerra israel-hamas

Ato em SP chama a atenção para violência sexual sofrida por vítimas do Hamas

Protesto organizado pela Federação Israelita de São Paulo reproduziu cena de israelense que foi levada por terroristas

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São Paulo

Quem esteve na rua Oscar Freire no início da tarde desta quinta-feira (30) se deparou com uma cena estranha àquele endereço. Nela, uma jovem com a calça de moletom e outras partes do corpo sujas de tinta vermelha e as mãos atadas na frente do corpo era guiada e agredida regularmente por um homem vestido de preto, com colete à prova de balas e o rosto coberto por uma balaclava.

Atores encenam manifesto contra o Hamas na rua Oscar Freire - Zanone Fraissat/Folhapress

A encenação reproduz um vídeo que viralizou depois de ser divulgado pelo grupo terrorista Hamas nas redes sociais. Nele, Naama Levy, 19, que servia em uma base do Exército quando foi capturada, aparece nas mesmas condições que a atriz que percorria a Oscar Freire até ser empurrada para dentro de um veículo ao som de um coro de "Deus é grande" em árabe. Levy segue desaparecida.

O ato foi organizado pelo grupo de Empoderamento de Liderança Feminina (ELF) da Federação Israelita do Estado de São Paulo (Fisesp), com o apoio da StandWithUs Brasil, entidade voltada para o combate ao extremismo e ao antissemitismo por meio da educação.

Seu objetivo, de acordo com a vice-presidente da Fisesp, Miriam Vasserman, era pressionar organizações de direitos humanos a se manifestarem em relação às denúncias de violência sexual cometidas pelos terroristas durante sua incursão a Israel de 7 de outubro, que deixou cerca 1.200 mortos —e serviu de estopim para uma resposta militar que matou mais de 15 mil palestinos, civis em sua maioria, na Faixa de Gaza, segundo as autoridades locais ligadas ao Hamas.

Vídeos feitos por equipamentos de vigilância, civis, socorristas e mesmo membros do Hamas equipados com câmeras corporais registraram diversos estupros ocorrendo durante o ataque. Corpos de muitas das vítimas femininas também trazem evidências de violência sexual, tendo sido encontrado nus ou mutilados.

"Achamos que o mundo se calou. Cadê o MeToo? As ativistas todas, as atrizes, cadê elas?", pergunta Vasserman, ecoando a frase estampada na faixa carregada durante o ato que dizia "cadê vocês, feministas?".

Ela cobra sobretudo a ONU Mulheres, que esta semana editou uma publicação de modo a apagar uma parte do texto que condenava o Hamas por seus atentados. À Agência Telegráfica Judaica, a organização disse que buscava com isso refletir as prioridades da entidade. "Você não pode trabalhar numa causa feminina e selecionar que mulheres serão citadas", diz Wasserman.

A vice-presidente da Fisesp conta que o ato encenado nesta quinta foi concebido por Aiden Platt, uma israelense-americana que mora em Los Angeles e assumiu ela mesma o papel de Naama Levy ao sair pelas ruas de Beverly Hills uma semana atrás. Desde então, já foi reproduzido em pelo menos três outros países, Israel, França e, agora, o Brasil.

Questionada sobre o local da ação, Vasserman diz que a escolha foi feita em conjunto com as autoridades responsáveis, e que o principal fator da decisão foi a segurança dos manifestantes.

O ato desta quinta-feira durou cerca de duas horas. Atrás dos dois atores que interpretavam a vítima e seu algoz —voluntários, de acordo com outra organizadora da ação, Mariza de Aizenstein—, vinham duas mulheres envoltas em bandeiras de Israel, cada uma segurando um cartaz com a imagem da Naama Levy verdadeira. Mais duas mulheres seguravam a faixa com a pergunta "cadê vocês, feministas?", que às vezes voltavam diretamente para as vitrines dos restaurantes.

A princípio, a maior parte dos transeuntes passou pelo ato sem se deter, no máximo erguendo o celular para filmá-lo. À medida que ele avançou, contudo, vários dos passantes começaram a aplaudi-lo ao avistá-lo, e as reações a ele tornaram-se mais intensas —uma mulher chegou a soltar um grito de "que horror!" ao se deparar com a encenação.

Mulheres reagem a ato contra o Hamas realizado na rua Oscar Freire - Zanone Fraissat/Folhapress

As amigas Ana, 56, Cássia, 64, e Kátia, 63, que não revelaram seus sobrenomes, disseram concordar que o assunto do protesto não estava sendo suficientemente discutido. "Ninguém está mostrando que elas estão sendo sequestradas, estupradas, mortas. São meninas", disse Ana.

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