Descrição de chapéu guerra israel-hamas tiktok

Carta de Bin Laden ressurge no TikTok e conquista jovens americanos

Texto antissemita e com defesa dos atentados do 11 de Setembro viralizou em meio a guerra em Gaza

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Sapna Maheshwari
The New York Times

Vídeos apoiando uma carta publicada há décadas por Osama bin Laden com críticas aos Estados Unidos e o apoio do país a Israel ganharam popularidade no TikTok na semana passada e se somaram a acusações de que a rede social alimenta a disseminação de conteúdo antissemita. A Casa Branca condenou o ressurgimento da carta.

O texto, intitulado "Carta à América", foi publicado um ano após os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001. A carta defende os ataques orquestrados por Bin Laden e diz que os americanos se tornaram "servos" dos judeus, que, segundo ele, controlavam a economia e a imprensa do país. Os contribuintes americanos, escreveu Bin Laden, eram cúmplices em prejudicar os muçulmanos no Oriente Médio.

Fumaça após bombardeio em Rafah, no sul da Faixa de Gaza, no início de novembro
Fumaça após bombardeio em Rafah, no sul da Faixa de Gaza, no início de novembro - Said Khatib - 6.nov.23/AFP

Alguns usuários do TikTok publicaram vídeos em que dizem ter visto o documento como um despertar para o papel dos EUA no mundo e expressaram sua decepção com o país. Um vídeo popular mostra uma usuária do TikTok escovando o cabelo com a legenda: "Quando você lê a carta de Osama bin Laden para a América e percebe que foi enganada a vida inteira".

Outro vídeo, com quase 100 mil curtidas, mostrava uma usuária do TikTok na pia da cozinha com a legenda: "Tentando voltar à vida normal depois de ler a 'Carta de Osama bin Laden' e perceber que tudo o que aprendemos sobre o Oriente Médio, o 11 de Setembro e o 'terrorismo' era uma mentira". Outra publicação, com mais de 60 mil visualizações, mostrava outra pessoa dizendo que a carta mostrou a ela que os EUA eram uma "praga para o mundo inteiro".

Na última quinta-feira, uma busca por #Lettertoamerica mostrou vídeos com 14,2 milhões de visualizações. Ao meio-dia, quando o TikTok tentou bloquear o conteúdo, as pesquisas no site por "osama bin laden", "bin laden letter" e "osama letter" e a hashtag #lettertoamerica não mostraram resultados na guia "vídeos" do TikTok, embora alguns vídeos ainda fossem visíveis a partir de outros termos de pesquisa.

Alex Haurek, porta-voz do TikTok, disse que "o conteúdo que promove esta carta claramente viola nossas regras contra o apoio a qualquer forma de terrorismo" e que a empresa está "removendo agressivamente esse conteúdo e investigando como ele chegou à nossa plataforma".

Ele disse que a maioria das visualizações ocorreu depois que organizações de notícias escreveram sobre os vídeos e que a carta também "apareceu em várias plataformas e na mídia".

A Casa Branca se manifestou na quinta. "Não há nunca justificativa para espalhar as mentiras repugnantes, malignas e antissemitas que o líder da Al-Qaeda emitiu logo após cometer o pior ataque terrorista da história americana."

"Ninguém jamais deveria insultar as 2.977 famílias americanas que ainda estão de luto por entes queridos associando-se às palavras vis de Osama bin Laden", disse Andrew Bates, vice-secretário de imprensa da Casa Branca, em comunicado. "Particularmente agora, em um momento de crescente violência antissemita no mundo, e logo após terroristas do Hamas terem realizado o pior massacre do povo judeu desde o Holocausto em nome das mesmas teorias conspiratórias."

Uma transcrição da carta de Bin Laden publicada no britânico The Guardian em 2002 se tornou a segunda página mais visualizada em seu site na quarta-feira (15), levando o grupo a removê-la do site.

"A transcrição publicada em nosso site em 2002 foi amplamente compartilhada nas redes sociais sem o contexto completo", disse Matt Mittenthal, porta-voz do Guardian. "Portanto, decidimos removê-la e direcionar os leitores para o artigo de notícias que a contextualizou originalmente."

A remoção alimentou mais uma onda de vídeos sobre a carta no TikTok com teorias da conspiração de que o documento de acesso público estava sendo de alguma forma ocultado dos usuários.

A carta também foi mencionada em uma reunião privada entre executivos do TikTok e criadores e celebridades judaicas da rede social na noite de quarta, quando os criadores pediram à empresa que fizesse mais para combater o aumento do antissemitismo e do assédio no aplicativo. "Este aplicativo precisa proibir esta carta", disse um deles.

A guerra entre Israel e o Hamas colocou o TikTok, que é de propriedade da empresa chinesa ByteDance, novamente na mira de Washington. A companhia foi acusada de amplificar conteúdo pró-Palestina e antissemita, e o aumento de vídeos em torno da carta de Bin Laden fez ressurgir acusações de que o aplicativo trabalha para promover os interesses do regime chinês.

Parlamentares republicanos renovaram apelos para banir o aplicativo do país, como os senadores Marco Rubio, da Flórida, e Josh Hawley, do Missouri, que compartilharam vídeos relacionados à carta nas redes sociais nesta semana. No X, antigo Twitter, Hawley chamou o TikTok de "um gêiser de propaganda terrorista e a ferramenta de vigilância mais eficaz já inventada por um governo estrangeiro".

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