Descrição de chapéu guerra israel-hamas

População de Gaza rejeita tanto bloqueio de Israel, como ditadura do Hamas, diz pesquisa

Cientista política da Universidade de Princeton (EUA) entrevistou palestinos pouco antes de conflito atual irromper

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Nicolas Revise
AFP

Os moradores da Faixa de Gaza se sentem presos entre a "ocupação" de Israel e a "ditadura" dos movimentos palestinos, resume Amaney Jamal, cientista política da Universidade de Princeton e autora de uma pesquisa concluída pouco antes dos ataques do Hamas em território israelense, no dia 7 de outubro.

Segundo a pesquisadora palestino-americana, reitora da Escola de Assuntos Públicos e Internacionais da universidade, dois terços da população de Gaza, submetida ao bloqueio israelense desde 2007, não confiam no poder "corrupto" e "autoritário" do Hamas.

Famílias palestinas fogem do norte para o sul da Faixa de Gaza em meio a incursão israelense no território
Famílias palestinas fogem do norte para o sul da Faixa de Gaza em meio a incursão israelense no território - Mahmud Hams - 26.nov.23/AFP

"Existe a ocupação israelense" dos territórios palestinos e "existem os regimes do Hamas e da Autoridade Palestina, que ao longo do tempo se tornaram mais ditatoriais e autoritários", afirma Jamal à AFP. "O palestino médio, acostumado com a ocupação de Israel, vive agora sob ocupação dos dois poderes", analisa a pesquisadora de 52 anos —nascida na Califórnia, ela passou a juventude em Ramallah, cidade natal de sua família, na Cisjordânia.

Com o colega Michael Robbins, Jamal criou o "Arab Barometer" (Barômetro Árabe), que desde 2006 realiza estudos sociológicos e pesquisas de opinião a cada dois anos em 16 países do Oriente Médio e do Norte da África.

A 8ª edição, intitulada "O que os palestinos realmente pensam do Hamas", foi realizada entre o final de setembro e o dia 6 de outubro, com uma amostra de 790 pessoas na Cisjordânia e 399 na Faixa de Gaza. A pesquisa foi interrompida pelos ataques do Hamas a Israel, que deixaram 1.200 pessoas mortas, segundo Tel Aviv.

"Antes dos ataques, 67% dos palestinos de Gaza não confiavam ou confiavam pouco no Hamas", afirma Jamal. Para ela, esse resultado deveria mudar a tese de que "toda a Faixa de Gaza apoia o Hamas e que, portanto, todo o território deveria ser responsabilizado pelos atos atrozes" perpetrados pelo grupo terrorista.

Jamal e Robbins publicaram os resultados da pesquisa há um mês na revist Foreign Affairs e a pesquisadora comentou sobre o assunto em um podcast do jornal The New York Times.

Em Gaza, a análise teve como foco o bloqueio econômico imposto por Israel desde 2007. "Quem [você] considera responsável pelos seus problemas econômicos?", perguntaram aos entrevistados. "Pensamos que o primeiro culpado seria Israel por causa do bloqueio. Mas a maioria das pessoas citou a corrupção do Hamas", diz ela.

"O que os moradores da Cisjordânia e de Gaza dizem nesta pesquisa é que, para completar, a corrupção dos seus governos se soma ao bloqueio israelense", afirma. Eleito pela última vez em 2005, Mahmoud Abbas, presidente da Autoridade Nacional Palestina, que governa a Cisjordânia, tem apenas 9% de opiniões favoráveis.

Antes do ataque do Hamas, de acordo com Jamal, dois terços dos entrevistados declararam que nos últimos 30 dias não tiveram como alimentar suas famílias. Um sinal de que a sociedade de Gaza está economicamente "desfavorecida" e em conflito com o "poder corrupto do Hamas".

Sem eleições desde 2006, a maioria dos habitantes de Gaza "é contra o autoritarismo do Hamas", diz a pesquisadora. Na verdade, antes do dia 7 de outubro, "60% diziam que não podiam expressar livre e abertamente sua opinião, e 72% não podiam manifestar-se pacificamente por medo de represálias".

Em relação a uma possível solução para os problemas na região, mesmo antes do atual conflito entre Israel e Hamas, 80% dos palestinos entrevistados queriam uma solução negociada com Israel. Destes, 56% eram a favor de uma solução de dois Estados, e os restantes, a favor de uma solução de um Estado ou de uma confederação, afirma Jamal.

"A população de Gaza parecia favorável a uma solução de dois Estados, a uma reconciliação pacífica com Israel com base nas fronteiras de 1967", diz a pesquisadora. Os outros 20% preferiram a "resistência armada", afirma.

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