Descrição de chapéu guerra israel-hamas

Visita de 'filho do Hamas' ao Brasil atiça guerra ideológica nas redes sociais

Declarações de Mosab Hassan Yousef, ex-membro da facção que se tornou espião de Israel, são atacadas e aplaudidas na internet

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São Paulo

A passagem de Mosab Hassan Yousef pelo Brasil foi breve —o combatente do Hamas transformado em espião a serviço de Israel ficou no país por apenas quatro dias, de quinta-feira (23) a domingo (26).

Seus compromissos no período foram, contudo, mais do que suficientes para atiçar a guerra entre ativistas da causa palestina e os defensores de Israel nas redes sociais, em mais um exemplo de como o conflito no Oriente Médio vem irradiando pelo mundo inteiro.

homem sentado de terno e traços árabes levanta o dedo indicador do braço esquerdo
Mosab Hassan Yousef, filho de um dos fundadores do Hamas que se tornou espião a serviço de Israel, em evento no clube Hebraica, na zona oeste de São Paulo - @standwithus_brasil/Instagram/Reprodução

Yousef é o primogênito de Hassan Yousef, um dos fundadores da facção terrorista palestina cujo atentado a Israel em 7 de outubro disparou a guerra atual na Faixa de Gaza. Sua vinda ao Brasil foi motivada em parte pelo relançamento de sua autobiografia, "O Filho do Hamas", pela editora Sextante, e patrocinada pela organização StandWithUs Brasil, voltada para o combate ao extremismo e ao antissemitismo por meio da educação.

A história que ele narra no livro, sobre como e por que se voltou contra a organização no seio da qual foi criado e as consequências disso, foi tema de sua participação em um evento no clube Hebraica, na zona oeste de São Paulo, no sábado (25).

Algumas das declarações de Yousef têm um tom mais polarizador. Um exemplo foi sua fala no Hebraica, na qual afirmou que aqueles que defendem a solução de dois Estados (isto é, a convivência entre Israel e uma eventual nação palestina) como resolução para o atual conflito são "perdedores" que "chegaram na hora errada, no lugar errado" e disse que os ativistas pró-Palestina que defendem o Hamas deveriam ir viver com os terroristas em Gaza.

A maioria das publicações nas redes se voltou, porém, para dois momentos específicos da conferência. Em um deles, aplaudido por antipetistas, o palestino critica Lula por não ter chamado o Hamas de terrorista. A equipe do presidente afirmou repetidas vezes que, historicamente, o governo brasileiro segue a classificação da ONU nesse quesito.

Em outro instante, Yousef diz que "a Palestina não existe". Questionado sobre a declaração pela Folha, André Lajst, presidente da StandWithUs Brasil, argumenta que o trecho foi tirado de contexto. Segundo o porta-voz, em outros instantes da fala do convidado fica claro que ele não rejeita a ideia de um Estado palestino, e sim defende que antes de se pensar na fundação de um país é preciso que a população se una de forma a conviver em paz com Israel. Isso seria impossível com o Hamas no poder, uma vez que a organização nem sequer reconhece a existência do Estado judeu.

Lajst também responde a críticas à StandWithUs Brasil de internautas que dizem que a entidade não deveria ter trazido Yousef ao Brasil devido a outras falas polêmicas recentes dele. Uma das mais citadas nas redes, retirada de uma entrevista ao podcaster americano Jordan Harbinger, traz o palestino afirmando não querer outro país árabe na região porque já "há 22 Estados árabes na região e todos eles são um lixo" ao se queixar do fato de que as nações não reconhecem o Hamas como terrorista.

"Obviamente não somos responsáveis pela forma como ele respondeu a perguntas em outras entrevistas, e a StandWithUs não compartilha de todas as crenças de todos que convida", diz Lajst. Mais importante para a organização é que Yousef tem um "lugar de fala que pouquíssimas pessoas têm" —é isso que justificaria sua presença em um evento da organização.

"Ele entende como funciona a ideologia e a estrutura do grupo, e cresceu em uma casa de onde saiu o movimento. Tem uma educação a respeito do Hamas, que não tem a ver [necessariamente] com a causa palestina ou o povo palestino. Acho que é importante para as pessoas que são pró-Palestina ou solidárias aos palestinos conseguir distinguir uma coisa da outra", acrescenta Lajst.

Ualid Rabah, presidente da Fepal (Federação Árabe Palestina do Brasil), questiona a legitimidade da figura do ex-espião israelense. Para ele, "é muito estranho que alguém que trabalhou como infiltrado para um serviço de inteligência estrangeiro tenha condições éticas e morais de falar" sobre o grupo que ele tinha a função de minar.

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