Presidente da Câmara dos EUA compara aborto a 'Holocausto americano'

Declarações controversas de Mike Johnson ressurgem e atrapalham Partido Republicano a um ano das eleições presidenciais

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Washington

O presidente da Câmara dos Deputados, o republicano Mike Johnson, já comparou o aborto a um "Holocausto americano". A declaração constrange o mainstream do partido, que vem sofrendo derrotas nas urnas em votações sobre o direito à interrupção da gravidez —e teme seu impacto em 2024.

Em uma entrevista a uma rádio veiculada em maio do ano passado, o deputado afirma que grandes clínicas que oferecem, legalmente, a interrupção da gravidez, como a Planned Parenthood, instalam-se em áreas pobres porque veem essas pessoas como "presas fáceis".

O presidente da Câmara dos EUA, o republicano Mike Johnson - Elizabeth Frantz/Reuters

A fala foi recuperada como parte de uma investigação realizada pela CNN sobre declarações passadas feitas pelo conservador. Johnson era um político desconhecido até tomar posse como presidente da Câmara em 25 de outubro, após semanas de confusão no Partido Republicano, que não conseguia entrar em acordo sobre um nome.

Desde então, a imprensa americana se voltou aos posicionamentos do deputado, até então ignorados por sua falta de relevância. Declarações contra o casamento homoafetivo, o direito ao aborto e seu papel na tentativa de reverter a derrota de Donald Trump nas urnas em 2020 ressurgiram. O ex-presidente apoiou seu nome para a presidência da Câmara.

Segundo o levantamento feito pela CNN, Johnson já defendeu revisar decisões da Suprema Corte que derrubaram restrições ao uso de contraceptivos e ao casamento e relações entre pessoas do mesmo sexo. Profundamente religioso, ele também já fez declarações contra a separação entre igreja e Estado.

Ele ainda já associou o aumento de custos da Previdência Social nos EUA ao aborto, argumentando que a interrupção da gravidez reduziria o número de trabalhadores jovens contribuindo para a aposentadoria dos mais velhos.

As posições radicais, embora alinhadas com alas da direita americana, são minoritárias no país –a maioria da população apoia o direito ao aborto, mostram pesquisas de opinião. Desde que a Suprema Corte mudou seu entendimento sobre o tema, relegando aos estados legislarem sobre a interrupção da gravidez, republicanos foram derrotados em suas tentativas de restringir o procedimento mesmo em estados conservadores, como Kansas e Kentucky.

O tema se tornou espinhoso para o partido, que vem sendo punido nas urnas pela associação à posição restritiva. Com isso, alguns candidatos, como Nikki Haley e até Trump, têm enfatizado que não são contra o procedimento, defendendo apenas a definição de um prazo dentro do qual ele pode ser realizado.

Já os democratas aproveitam a plataforma para tentar atrair eleitores. Nesta terça (21), a vice-presidente americana, Kamala Harris, afirmou no X que defende que o Congresso aprove uma legislação federal para restaurar as proteções ao direito ao aborto como eram estabelecidas na decisão Roe vs. Wade –a sentença vista pela Suprema Corte no ano passado.

""As proibições do aborto aprovadas pelos chamados líderes extremistas continuam a causar caos, confusão e medo. As mulheres dos EUA merecem o melhor", escreveu a vice de Biden.

Formado em direito pela Universidade Estadual da Louisiana, Johnson, antes de entrar para a política, especializou-se em advogar pautas conservadoras na Justiça. Por 20 anos, ele trabalhou para a Alliance Defending Freedom (Aliança em Defesa da Liberdade), que se define como um "escritório de advocacia cristão comprometido com a proteção da liberdade religiosa, liberdade de expressão, casamento e família, direitos dos pais, e a santidade da vida".

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