Rebeldes pró-Irã derrubam drone americano no mar Vermelho

Região, com navios dos EUA, é instável teatro secundário da guerra Israel-Hamas; houthis atacam novamente

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São Paulo

Forças rebeldes pró-Irã houthis do Iêmen abateram, na quarta (8), um drone de ataque americano MQ-9 Reaper no mar Vermelho, na primeira ação do tipo desde que a guerra Israel-Hamas começou, há pouco mais de um mês.

Os houthis são uma minoria xiita do país árabe, em guerra civil desde 2014 contra o governo central. São apoiados e financiados pelo Irã, em oposição às forças oficiais de maioria sunita, que têm suporte da Arábia Saudita.

Um drone armado Reaper, modelo igual ao derrubado por rebeldes houthis no mar Vermelho
Um drone armado Reaper, modelo igual ao derrubado por rebeldes houthis no mar Vermelho - William Rosado - 14.jan.2020/Força Aérea dos EUA/AFP

O mar Vermelho é um perigoso e instável teatro secundário do conflito iniciado quando o Hamas palestino lançou o mega-ataque terrorista de 7 de outubro, respondido por Tel Aviv com maior operação militar da história da Faixa de Gaza.

Os houthis, assim como o Hezbollah libanês ao norte, declararam apoio aos palestinos. Com recursos limitados pela distância e pelo fato de o território que controlam estar do outro lado do mar em relação a Israel, iniciaram uma campanha com mísseis e drones.

Até aqui, promoveram ao menos cinco ataques contra a costa sul israelense. Nesta quinta (9), um drone atingiu pela primeira vez na guerra a principal cidade israelense na região, Eilat, e os houthis são os principais suspeitos de terem lançado o aparelho. Não houve feridos. No começo da noite, um míssil de cruzeiro rumo a Eilat foi abatido pelo sistema de longo alcance Arrow.

Logo que o conflito começou em Israel, os Estados Unidos mobilizaram formidável poder de fogo no Oriente Médio para apoiar o aliado. O alvo da dissuasão é o Irã, que manteve uma postura ambígua, incentivando seus prepostos regionais a manter Tel Aviv sob pressão, mas sem uma escalada ampla do conflito para não se chocar com os americanos.

Mas incidentes como o de quarta estão na conta do risco do ambiente saturado de ativos militares. O mar Vermelho tem hoje um grupo de porta-aviões, liderado pelo USS Dwight Eisenhower e sua escolta de três navios, além de outras quatro embarcações e um submarino nuclear americano.

É uma área de operação relativamente pequena, e o fato de os houthis poderem atingir Eilat, a 1.500 km de distância de suas bases, dá a noção do perigo para navios americanos. Há duas semanas, um deles, o destróier USS Carney, abateu uma leva de mísseis de cruzeiro e drones que rumava a Israel.

Todas essas embarcações têm meios de defesa sofisticados, mas não está fora do radar a possibilidade de serem atacadas. A assimetria na guerra naval moderna é bem conhecida: em 1998 um destróier americano, o USS Cole, foi atacado no porto de Áden (Iêmen) por um barco-bomba da rede Al Qaeda, e navios russos são alvo de drones marítimos da Ucrânia no mar Negro constantemente na guerra ora em curso.

Já a derrubada do drone Reaper, principal modelo de ataque dos EUA que já teve uma unidade derrubada no choque com um caça russo no mar Negro neste ano e outras assediadas sobre a Síria por Moscou, adiciona tensão ao cenário. Os houthis divulgaram um vídeo, que não tem como ser validado como verdadeiro, mostrando a ação. Para executá-la, provavelmente usaram sistemas antiaéreos soviéticos 2K12 Kub.

Modelos inicialmente produzidos nos anos 1970, eles eram operados pelo Iêmen e foram capturados pelos rebeldes. Em 2019, os houthis já haviam abatido um Reaper americano com a bateria de mísseis, além de diversos drones da Arábia Saudita em operação na região. Cada drone desse tipo custa cerca de R$ 150 milhões.

O mar Vermelho não é a única preocupação dos americanos. Desde o começo da guerra, suas bases no Iraque e na Síria passaram a sofrer ataques constantes de drones, nenhum com muita gravidade. Em retaliação, na noite de quarta caças americanos bombardearam uma base ligada à Guarda Republicana do Irã na Síria.

Já no Mediterrâneo, a presença do grupo de porta-aviões liderado pelo USS Gerald Ford, maior e mais novo modelo do tipo do mundo, serve de lembrança ao Hezbollah para não entrar com tudo no conflito. Em discurso na semana passada, o líder do grupo, Hassan Nasrallah, fez uma ameaça à frota dos EUA, dizendo que ela era vulnerável.

Especula-se que o grupo, que tem um sofisticado arsenal de foguetes e mísseis, tenha tido acesso a modelos antinavio russos por meio do Irã, com capacidade de atingir alvos a 300 km de distância. Não há, contudo, confirmação disso.

O Hezbollah, contudo, teria muito a perder em caso de uma confrontação direta com os americanos: a chance de obliteração de suas bases pelo poder de fogo dos EUA seria muito grande, maior mesmo do que em uma guerra aberta com Israel, que o grupo e seus padrinhos em Teerã não desejam no momento.

Mas, como o abate do Reaper lembra, incidentes isolados podem levar a escaladas imprevisíveis.

Israel divulga balanço de ataques

As Forças de Defesa de Israel divulgaram nesta quinta (9) um balanço dos ataques sofridos durante a guerra com o Hamas, incluindo na contagem ações do Hezbollah e dos houthis.

Foram 9.500 lançamentos de foguetes, mísseis, morteiros e drones, 3.000 dos quais no ataque inicial do Hamas, em 7 de outubro. Em comparação, em todas as guerras de 2008 contra o Hezbollah e na operação contra o Hamas em 2014, foram lançados contra Israel 4.000 foguetes.

Na categoria foguetes e morteiros, 2.000 foram abatidos em voo, segundo Israel, com uma proporção não divulgada caindo sem danos e outra, com vítimas e destruição.

Os israelenses dizem que 12% dos artefatos lançados de dentro de Gaza pelo Hamas e pelo Jihad Islâmico falharam e caíram dentro do território palestino. Não há uma avaliação independente desses dados.

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