Guerra em Israel vira munição para oposição, e governo Lula prepara estratégia no Congresso

Integrantes do PL de Bolsonaro e outros parlamentares fazem requerimentos para convocar ministros

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Brasília

O Palácio do Planalto se prepara para enfrentar no Congresso Nacional uma onda de ações da oposição, que busca usar a guerra entre Israel e o grupo terrorista Hamas para desgastar o governo Lula (PT).

Os adversários de Lula preparam requerimentos de convocação de ministros para dar explicações sobre o que veem como complacência do governo com o grupo terrorista Hamas.

O Planalto, por sua vez, articula uma estratégia contra essa ofensiva. Um dos objetivos é pelo menos transformar esses requerimentos de convocação em convite, forma considerada menos agressiva que dá margem para uma negociação maior sobre o comparecimento das autoridades.

Articuladores políticos do governo minimizam a ofensiva da oposição. Eles dizem que o governo tem acertado nas declarações que deu até o momento sobre o conflito, nas quais condenou os ataques terroristas, a morte de civis e defendeu um cessar-fogo na região.

O presidente Lula (PT) e o ministro Mauro Vieira (Itamaraty), alvo de convocações para ir ao Congresso. - Gabriela Biló -26.jun.2023/Folhapress

O ataque do grupo terrorista Hamas a Israel no último fim de semana ocorreu por terra, ar e mar. As ações contra Israel provocaram a morte de 1.400 pessoas. Do outro lado, morreram até o fim da tarde deste sábado (14) 2.724 palestinos na retaliação israelense e ficaram feridos 10.700, somando os que viviam na Faixa de Gaza e na região da Cisjordânia.

No Congresso brasileiro, foram preparados requerimentos de convocação para o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, e para o assessor especial da Presidência para assuntos internacionais, Celso Amorim.

O requerimento de convocação de Amorim na Câmara dos Deputados tem como justificativa pedir que ele explique fala dada em entrevista ao Painel, da Folha, no qual afirma que o ataque do Hamas teve como origem "anos de tratamento discriminatório" de Israel contra palestinos. Três deputados do PL ainda solicitaram aprovação de moção de repúdio a Amorim pela declaração.

Um autor de parte dos requerimentos de convocação é o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Eduardo assina dois requerimentos para convocar o chanceler Mauro Vieira. Um deles procura explicar "que medidas estão sendo adotadas após o ataque terrorista do grupo Hamas e qual é a posição oficial do Brasil em relação ao grupo terrorista e às violações que estão sendo praticadas contra o povo israelense".

Além dos requerimentos relativos às autoridades, o parlamentar ainda é coautor de um projeto de decreto legislativo que visa encerrar um acordo de cooperação entre o Brasil e a Organização para a Libertação da Palestina, em nome da Autoridade Nacional Palestina.

Recentemente, voltaram a circular fake news nas redes sociais buscando associar os acordos, e mesmo doações feitas pelo Brasil à Organização para a Libertação da Palestina, com falsos repasses para o Hamas.

Deputados e senadores têm explorado, em particular, a proximidade ideológica de alguns parlamentares do PT com a causa palestina. Alguns aliados de Lula chegaram a defender o Hamas no passado, o que amplia o potencial de desgaste para o governo.

Também buscam explorar o que consideram complacência do atual governo por não considerar o Hamas como um grupo terrorista. O Brasil adota a posição histórica de seguir a classificação ditada pela ONU (Organização das Nações Unidas), que não incluiu o grupo nessa categoria.

Parlamentares do PT, incluindo os atuais ministros Alexandre Padilha (Secretaria de Relações Institucionais) e Paulo Pimenta (Secretaria de Comunicação Social), chegaram a assinar em 2021 uma nota em apoio ao Hamas, quando o Reino Unido decidiu classificá-lo como uma organização terrorista.

Padilha também foi criticado por receber, antes da eclosão do conflito, um assessor parlamentar que, no dia dos ataques, debochou nas redes sociais de uma das vítimas israelenses. Sayid Tenório acabou exonerado do cargo que ocupava no gabinete do deputado Márcio Jerry (PC do B-MA).

O ministro da Secretaria de Relações Institucionais anunciou na terça (10) que encontrará em novembro com o presidente da Confederação Israelita do Brasil, Claudio Lottenberg. O anúncio ocorreu após repercussão de reunião, antes dos ataques, com integrantes do Instituto Brasil Palestina, incluindo Sayid Tenório, e com o chefe da representação do Brasil na Cisjordânia.

Lula, na primeira declaração sobre a guerra, disse ter ficado "chocado com os ataques terroristas", mas não citou o Hamas diretamente. A fala, seguida do tuíte do presidente na quarta (11), foi considerada acertada por aliados, que viram equilíbrio no posicionamento.

Na última quarta, Pimenta afirmou que o Brasil segue a classificação da ONU e que por isso não iria, por enquanto, mudar a sua posição sobre o Hamas.

"O Brasil tem uma posição histórica, existe uma delegação, uma competência para informar esse conceito de organização terrorista para o mundo inteiro, há uma convenção por parte de todos os países que compete ao Conselho de Segurança da ONU a definição de tudo isso", afirmou o ministro, em entrevista à GloboNews.

"O Brasil sempre respeitou e acompanhou as decisões da ONU sobre isso. Hoje, Estado Islâmico e Al Qaeda são organizações terroristas. Nós não vamos mudar essa posição, em função de uma situação específica. [É] uma posição histórica que faz com que o Brasil seja conhecido como um país protagonista da possibilidade de construção de acordos internacionais", completou.

Pimenta ainda disse que o episódio da nota em apoio ao Hamas tem "sido utilizado de forma absolutamente equivocada, por pessoas que tentam transformar qualquer coisa em disputa política".

Na sexta-feira (13), o site Poder 360 mostrou que uma professora que integrou grupo de trabalho do governo repostou uma mensagem das redes sociais que tratava o ataque terrorista do Hamas como o "início do desaparecimento da entidade sionista".

Ao Poder 360 Francirosy Barbosa disse que sua manifestação foi uma resposta ao "colonialismo" de Israel, mas que repudia completamente a morte de civis dos dois lados.

O Ministério dos Direitos Humanos disse que Francirosy não trabalha nem trabalhou no governo, apenas tendo integrado, sem remuneração, um grupo de trabalho para apresentar propostas de combate ao discurso de ódio e ao extremismo.

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