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Irã usa abuso sexual para reprimir mulheres, inclusive menores de idade, diz ONG

Anistia Internacional afirma que manifestantes foram estuprados por agentes de segurança após irem a protestos

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São Paulo

Agentes de segurança ligados ao regime do Irã teriam abusado sexualmente e estuprado mulheres e homens, alguns deles menores de 18 anos, envolvidos nos protestos que em 2022 tomaram o país com o lema "Mulheres, Vida, Liberdade", segundo um relatório divulgado nesta quarta-feira (6) pela ONG Anistia Internacional.

A organização entrevistou 45 pessoas detidas pelos agentes, que são descritas como sobreviventes. Destas, 16 teriam sido estupradas, grupo que inclui 6 mulheres, 7 homens, uma adolescente de 14 anos e dois adolescentes de 16 e 17. Meninas de menos de 12 anos também teriam sido submetidas a outras formas de abuso sexual.

Protesto nos arredores da Assembleia Nacional da França, em Paris, com cartazes nas ruas contendo fotos de vítimas da repressão no Irã
Protesto nos arredores da Assembleia Nacional da França, em Paris, com cartazes nas ruas contendo fotos de vítimas da repressão no Irã - Julien de Rosa - 6.dez.22/AFP

De acordo com as acusações detalhadas nas 120 páginas do relatório, estariam envolvidos nas violações membros dos mais variados grupos, entre eles: a Guarda Revolucionária do Irã, braço mais poderoso de seu Exército; a milícia paramilitar Basij e o Ministério da Inteligência.

Já os sobreviventes, diz a Anistia Internacional, seriam mulheres que removeram o véu islâmico (o hijab) durante os protestos, assim como meninos e homens que se somaram ás mulheres nas ruas para protestar contra a opressão e a discriminação de gênero no país.

Há descrição das cenas de violência sexual. As pessoas detalham terem sido estupradas com o uso de bastões de madeira e de metal, garrafas de vidro e mangueiras, além dos órgãos sexuais e de dedos dos agentes.

Os supostos crimes teriam ocorrido em centros de detenção, delegacias, assim como escolas e edifícios residenciais que a Anistia afirma que eram usados ilegalmente como locais de detenção.

A ONG afirma ter compartilhado o material publicado nesta quarta-feira com autoridades do Irã há pouco mais de uma semana, no último dia 24, mas não ter recebido qualquer resposta das autoridades.

"Procuradores e juízes iranianos foram cúmplices ao ignorar as denúncias de estupro feitas por esses sobreviventes e, mais do que isso, utilizam as supostas confissões obtidas por meio desse tipo de tortura para acusar essas pessoas de maneira infundada, condenando-os à prisão ou à morte", diz a Anistia em comunicado.

Protestos massivos eclodiram no Irã no último ano após a morte da jovem curda Mahsa Amini que, durante visita com a família à capital do país, Teerã, foi detida pela chamada polícia moral por supostamente não usar de maneira correta o véu islâmico. Mahsa foi internada pouco após ser detida e morreu ainda sob custódia. Familiares e manifestantes denunciaram que ela teria sido agredida pelos agentes.

A repressão de Teerã contra os manifestantes foi ampla, e as autoridades também responderam com ainda mais restrições. Em setembro deste ano, um ano após a morte de Mahsa, o Parlamento do país endureceu as regras sobre o uso o hijab, prevendo multas e penas de cadeia às mulheres que não usarem o véu em espaços públicos e em imagens publicadas na internet.

Também como uma resposta global às ações do regime, o Nobel da Paz 2023 foi laureado pelo comitê norueguês à ativista iraniana Narges Mohammadi, uma histórica defensora dos direitos das mulheres que está presa em uma das principais cadeias de seu país e longe da família, que vive exilada em Paris.


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