Reunião afasta risco de ruptura entre Venezuela e Guiana, diz governo Lula

Líderes não recuam, mas concordam em manter diálogo; Amorim rechaça ameaças à integridade territorial e intervenção estrangeira

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São Paulo

O governo brasileiro afirma considerar que a reunião entre o ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, e o presidente da Guiana, Irfaan Ali, nesta quinta-feira (14), afastou a possibilidade de uma ruptura. Ao menos no curto prazo.

Nenhum dos dois líderes recuou de suas posições, principalmente no que diz respeito à legitimidade da Corte Internacional de Justiça de decidir a disputa pelo território de Essequibo –Ali, por óbvio, defende a decisão e a competência do tribunal, e Maduro as rechaça.

Dois dias antes do plebiscito em que Caracas diz ter obtido apoio de 96% dos venezuelanos para anexar Essequibo, a Corte exortou o regime de Maduro a não "modificar a situação" do território.

Mas ambos concordaram em continuar com o diálogo e marcar uma data para novas reuniões, que serão periódicas, a cada três meses. O próximo encontro deve ocorrer no Brasil.

O presidente da Guiana, Irfaan Ali, e o ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, apertam as mãos durante reunião em São Vicente e Granadinas - Divulgação/Palácio Miraflores - 14.dez.23/Reuters

Na visão do governo brasileiro, que propôs a negociação e se coloca como fiador do processo entre Guiana e Venezuela, a reunião desinflou a guerra verbal e reduziu o risco de a escalada retórica sair do controle e levar ao conflito.

Na reunião, além de Maduro e Ali, só falaram o primeiro-ministro de São Vicente e Granadinas, Ralph Gonsalves, que está na presidência de turno da Celac (Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos), e Celso Amorim, assessor internacional do presidente Lula.

De acordo com informações obtidas pela Folha, Amorim passou recados aos dois países. O ex-chanceler disse que "não interessa à região o uso da força ou a ameaça de uso da força" —um recado claro para Maduro— e tampouco interessa à região que "forças estrangeiras intervenham" –mensagem para Ali, que não descartou a possibilidade de hospedar uma base americana. Após as ameaças de Maduro de anexar Essequibo, os EUA fizeram exercícios militares aéreos na região.

Ainda que a temperatura tenha baixado, a diplomacia brasileira ainda tem preocupações no curto prazo. Na segunda-feira (18), está prevista negociação de uma declaração na Organização dos Estados Americanos (OEA), para ser votada na terça-feira (19).

O Brasil não apoia o texto que está circulando, que é de autoria da Guiana e tem forte endosso dos Estados Unidos e de Luis Almagro, secretário-geral da OEA.

O texto, segundo informações a que a Folha teve acesso, afirma que houve violação da integridade territorial da Guiana, antecipando algo que não se concretizou. Além disso, reflete todas as visões da Guiana sobre os direitos do país a Essequibo e é bastante agressivo em sua condenação a Caracas.

Na visão do governo brasileiro, uma declaração com esse teor seria contraproducente e comprometeria a interlocução com Maduro. Brasília defende a linha da declaração divulgada pelo Mercosul na semana passada, que alerta para "ações unilaterais que devem ser evitadas", mas não entra em pormenores sobre a quem pertence Essequibo.

Ao Brasil não interessa que seja divulgada uma declaração nem que o assunto seja tratado na OEA, que tem enorme influência dos EUA. Brasília quer manter a mediação no âmbito da América Latina, em instâncias como a Celac, que promoveu a reunião desta quinta.

Ainda assim, os governos de Lula e de Joe Biden têm mantido interlocução frequente durante a crise. Amorim teve conversas com o conselheiro de segurança nacional dos EUA, Jake Sullivan.

O chanceler Mauro Vieira conversou na quarta-feira (13) com o secretário de Estado americano, Antony Blinken, e com o ministro das Relações Exteriores do Reino Unido, David Cameron, nesta quinta. Com o chefe da diplomacia dos EUA não foi abordada a possibilidade de uma declaração da OEA. Blinken teria falado sobre a percepção de que Maduro estaria fazendo apenas uma bravata eleitoral, mas que a situação poderia sair do controle e se agravar.

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