O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que acompanha com crescente preocupação o aumento das tensões entre Venezuela e Guiana pela disputa de Essequibo, região rica em petróleo e minas. Em discurso no encontro com chefes de Estado na Cúpula do Mercosul, nesta quinta-feira (7), ele disse não querer que essa questão se torne uma ameaça à paz e à estabilidade na América do Sul.
"Uma coisa que nós não queremos aqui na América do Sul é guerra. Nós não precisamos de guerra, não precisamos de conflito", afirmou Lula. Ele continuou: "Nós precisamos construir a paz, porque somente com muita paz a gente pode desenvolver o nosso país, a gente pode gerar riqueza e a gente pode melhorar a vida do povo brasileiro".
O presidente pediu que a Celac (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos) faça a mediação entre os dois países, mas colocou o Brasil à disposição para sediar as reuniões entre Venezuela e Guiana. Lula ainda solicitou que tanto o organismo internacional quanto a Unasul (União de Nações Sul-Americanas) busquem um "encaminhamento pacífico da questão".
"Caso considerado útil, o Brasil e o Itamaraty estarão à disposição para sediar qualquer e quantas reuniões forem necessárias", afirmou. "Não queremos que esse tema contamine a retomada do processo de integração regional ou constitua ameaça à paz e à estabilidade."
No discurso, Lula propôs aos demais presidentes do Mercosul que aprovassem uma declaração para apaziguar as tensões no continente, argumentando que o bloco não pode ficar alheio ao cenário.
O comunicado conjunto, divulgado no final da tarde, diz que "a América Latina deve ser um território de paz" e que os países da região devem "trabalhar com todas as ferramentas de sua longa tradição de diálogo".
"Nesse contexto, alertam sobre ações unilaterais que devem ser evitadas, pois adicionam tensão, e instam ambas as partes ao diálogo e à busca de uma solução pacífica da controvérsia, a fim de evitar ações e iniciativas unilaterais que possam agravá-la", segue o documento.
O texto foi assinado por todos os países do bloco —isto é Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai — e pelo Peru, Chile, Equador e Colômbia. A Bolívia, que está em processo de entrada no Mercosul, e o Suriname, um Estado associado, não aderiram ao manifesto.
A Bolívia tem relação histórica de proximidade com a Venezuela que foi restabelecida sob a gestão do presidente boliviano, Luis Arce, presente na Cúpula do Mercosul. As relações diplomáticas entre os dois países tinham sido rompidas durante o governo da antecessora de Arce, Jeanine Áñez, em 2019.
Arce é aliado político do ex-presidente boliviano Evo Morales, que por sua vez, é próximo do ditador venezuelano, Nicolás Maduro.
Já o Suriname, segundo informações de membros do Itamaraty, optou por não assinar que não havia um representante de alto escalão do país que pudesse tomar sozinha a decisão para apoiar ou não o texto.
Inicialmente, a ideia era que o comunicado fosse apenas do Mercosul, mas acabou recebendo o endosso de 8 dos 10 países da América do Sul que não estão envolvidos no conflito.
Segundo interlocutores da chancelaria brasileira, o texto traz um recado a Maduro ao falar sobre "ações unilaterais". Na última terça-feira (5), o ditador anunciou que a petrolífera estatal PDVSA concederá licenças para a exploração de petróleo, gás e minerais em Essequibo, região pivô da disputa e que fica, em grande parte, dentro do território da Guiana.
No domingo (3), 96% dos eleitores venezuelanos que participaram de um plebiscito convocado por Maduro votaram a favor da criação de um território do país dentro da região. Eles também apoiaram a concessão de nacionalidade aos 125 mil habitantes do território.
A ideia de emitir um comunicado em conjunto com os demais membros do Mercosul já era debatida pelo governo brasileiro. Na noite de quarta (6), Lula se reuniu com o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, e com o assessor especial da Presidência, Celso Amorim, para debater a melhor forma de fazer esse pronunciamento em conjunto, sem agravar ainda mais a controvérsia entre Venezuela e Guiana
A ideia, segundo pessoas próximas ao governo, era divulgar o comunicado antes da reunião do Conselho de Segurança da ONU que deve discutir a questão, marcada para esta sexta-feira (8).
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