Presidente da Guiana diz que fronteira não será tema de reunião bilateral com Maduro

Irfaan Ali encontra ditador venezuelano nesta quinta-feira (14) em São Vicente e Granadinas

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Georgetown (Guiana) | AFP

O presidente da Guiana, Irfaan Ali, afirmou que a fronteira de seu país não estará em discussão na reunião bilateral marcada para esta quinta-feira (14) com o ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, em São Vicente e Granadinas. Os líderes devem se encontrar pela primeira vez desde o agravamento da disputa territorial por Essequibo, território guianense rico em petróleo que é reivindicado por Caracas.

"Já deixamos claro que a Corte Internacional de Justiça (CIJ) decidirá a controvérsia sobre as fronteiras entre Guiana e Venezuela. Nos mantemos firmes nesta questão", escreveu Irfaan Ali na plataforma X ao divulgar uma carta que enviou a Ralph Gonsalves, primeiro-ministro do país caribenho.

Montagem mostra presidente da Guiana, Irfaan Ali (à esq.), e o ditador da Venezuela, Nicolás Maduro
Montagem mostra presidente da Guiana, Irfaan Ali (à esq.), e o ditador da Venezuela, Nicolás Maduro - Keno George e Federico Parra/AFP

Segundo o documento, o encontro terá o objetivo de "desescalar o conflito por meio de diálogo apropriado", além de "evitar o uso ou ameaça de uso da força". Trata-se da segunda carta enviada pelo presidente guianense a Gonsalves na crise, dessa vez em resposta à declaração feita por Maduro na segunda (11), na qual o ditador disse que iria abordar na reunião "diretamente a controvérsia territorial".

O encontro bilateral foi anunciado no sábado (9) em um comunicado da Celac (Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos), divulgado horas depois de uma conversa telefônica do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com Maduro, na qual o brasileiro pediu ao venezuelano para "evitar medidas unilaterais que levem a uma escalada da situação".

As falas de Lula repetem a declaração na qual Brasil, Uruguai, Paraguai, Argentina, Colômbia, Peru, Equador e Chile manifestaram "profunda preocupação" com o assunto, divulgada durante a Cúpula do Mercosul na semana passada. "A América Latina deve ser um território de paz e, no presente caso, trabalhar com todas as ferramentas de sua longa tradição de diálogo", diz o comunicado.

Desde que Maduro radicalizou a campanha pela anexação e exploração de Essequibo, Irfaan Ali, o presidente guianense, vem reiterando que o assunto deve ser decidido pela CIJ. No último dia 1º, a corte determinou que a Venezuela não deve tomar qualquer atitude que possa modificar a situação atual do território.

Maduro, porém, não reconhece a jurisdição da CIJ no caso. O regime venezuelano organizou em 3 de dezembro um plebiscito no qual 96% dos eleitores teriam se manifestado em favor da criação de um novo estado em Essequibo e da concessão de nacionalidade aos 125 mil habitantes da região. Em resposta, Ali intensificou os contatos com os Estados Unidos.

Também na semana passada o Exército americano anunciou que conduziria exercícios militares aéreos com as Forças de Defesa da Guiana, atividade definida por Caracas como uma "infeliz provocação" rumo "à direção errada". "Qualquer alegação de que existe uma operação militar dirigida contra a Venezuela em qualquer parte do território da Guiana é falsa, enganosa e provocativa", afirmou Irfaan Ali.

O presidente da Guiana ainda definiu como "afirmação enganosa" a acusação feita pelo regime de Maduro sobre concessões petrolíferas da Guiana em uma "zona marítima ainda por delimitar". "Todos os blocos petrolíferos estão localizados dentro das águas da Guiana", afirmou o líder guianense.

Diante do aumento da tensão na fronteira entre os países, o ministro da Defesa brasileiro, José Múcio Monteiro, disse que o Brasil não vai ser "instrumento de incidente diplomático" na crise. Na prática, a fala indica um entrave a eventuais ações terrestres da Venezuela contra a Guiana, uma vez que as forças militares de Maduro necessariamente teriam que passar pelo Brasil.

Após a realização do plebiscito na Venezuela o Exército brasileiro antecipou o envio de 16 blindados para Boa Vista (RR). O Itamaraty, no entanto, diz acreditar que o risco de um potencial conflito entre os dois países seja baixo. A movimentação militar é vista apenas como uma estratégia de dissuasão diante das iniciativas de Maduro.

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