Sem acordo sobre fronteiras, Senado bloqueia pacote de Biden de ajuda à Ucrânia

Fracasso ocorre após apelo feito pelo presidente; Departamento de Estado diz que, sem novo repasse, recursos acabam em breve

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Washington

Sem conseguir chegar a um acordo para aliar ajuda à Ucrânia e Israel com aumento da segurança na fronteira com o México, senadores dos Estados Unidos bloquearam nesta quarta-feira (6) o avanço de um pacote proposto pela Casa Branca para repassar recursos ao aliado em guerra com a Rússia.

Eram necessários 60 votos favoráveis para que o pedido avançasse, mas, com 49 votos contrários pelos republicanos, o texto foi bloqueado. O senador Bernie Sanders, um independente que em geral vota com os democratas, também se opôs, sob a justificativa de falta de condicionalidades para o repasse a Israel.

Os presidentes da Ucrânia, Volodimir Zelenski, e dos EUA, Joe Biden, durante visita à Casa Branca em setembro - Jim Watson/AFP

O fracasso ocorreu após um pronunciamento pelo próprio presidente, Joe Biden, que cobrou a oposição para que "pare de brincar com a segurança nacional". O governo já alertou que, caso o Congresso não aprove novos repasses, o dinheiro repassado para Kiev vai acabar no final deste mês.

No Senado, a principal divergência não é a Ucrânia, mas a fronteira com o México. Republicanos condicionam seus votos a mudanças para coibir a imigração, o que sofre resistência de democratas.

O líder da minoria, o senador Mitch McConnell, afirmou que os republicanos vão rejeitar um projeto de lei que não trate das "prioridades de segurança nacional da América de modo sério". O líder da maioria, Chuck Schumer, acusa a oposição de fazer o pacote de refém.

Biden, no pronunciamento da Casa Branca, afirmou que o partido está dando ao presidente russo, Vladimir Putin, "o melhor presente que ele poderia esperar". "Qualquer disrupção na nossa habilidade de suprir a Ucrânia claramente fortalece a posição de Putin."

"Não se enganem: a votação de hoje [quarta] será lembrada por muito tempo. E a história vai julgar duramente aqueles que viraram as costas para a causa da liberdade. Nós não podemos deixar Putin vencer", completou.

Mais cedo, o presidente teve uma reunião virtual com outros chefes de Estado do G7 e o líder ucraniano, Volodimir Zelenski, na qual enfatizou o apoio americano ao país.

O alerta sobre o fim iminente dos recursos já aprovados foi reforçado pelo Departamento de Estado nesta quarta, ao anunciar mais US$ 175 milhões em armas e equipamentos para a Ucrânia. "A não ser que o Congresso aprove o pedido de financiamento suplementar para segurança nacional, este vai ser um dos últimos pacotes de auxílio de defesa que nós poderemos prover à Ucrânia", afirmou a pasta.

Em outubro, o presidente enviou um pedido de US$ 106 bilhões ao Congresso, abrangendo repasses para Ucrânia, Israel, ajuda humanitária a Gaza, reforço das operações no Indo-Pacífico e nas fronteiras americanas. Desde então, o valor subiu para US$ 110 bilhões. Desse montante, US$ 61 bilhões são para Kiev e US$ 14,3 bilhões para Tel Aviv.

Republicanos no Senado são menos avessos ao envio de dinheiro aos aliados do que seus colegas na Câmara, mas para isso exigem concessões que os democratas não estão dispostos a fazer, embora o partido de Biden já tenha sinalizado alguma flexibilidade.

Nesta terça, uma reunião confidencial sobre o pacote entre congressistas e os secretário de Estado, Antony Blinken, e Defesa, Lloyd Austin, acabou em gritaria e em abandono da sala por parte dos republicanos, que acusaram os democratas de ignorarem as fronteiras na discussão. Zelenski participaria do encontro à distância, mas cancelou pouco antes.

O fracasso no Senado é um revés inesperado para o governo Biden, que esperava que a oposição mais forte viesse da Câmara, onde republicanos são maioria e em que uma ala mais radical já manifestou ser contrária a enviar mais recursos ao exterior. Mesmo o atual presidente da Casa, Mike Johnson, já votou contra outros pedidos de repasse, embora agora tenha sinalizado apoio, desde que contenha provisões para a fronteira.

O pacote do presidente precisa ser aprovado pelo Senado e pela Câmara.

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