União Europeia dá sinal verde para início de negociações de adesão da Ucrânia

Zelenski comemora decisão, mas processo pode durar anos devido à necessidade de reformas profundas

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São Paulo

Os líderes da União Europeia concordaram nesta quinta-feira (14) em iniciar as negociações para a adesão da Ucrânia. Segundo diplomatas e autoridades do bloco, o até então inesperado sinal verde veio quando o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, concordou em sair da sala, sabendo que os outros líderes iriam adiante e votariam. A cúpula entre os líderes dos 27 membros do bloco ocorreu em Bruxelas, sede da UE.

Com o fracasso da resposta ucraniana contra a a invasão da Rússia, o presidente Volodimir Zelenski vem assistindo a um cansaço generalizado do Ocidente em relação à guerra no Leste Europeu. Diante deste cenário, o ucraniano esteve nesta semana nos Estados Unidos, de onde saiu apenas com promessas, e passou também por Oslo. Na capital norueguesa, fez um discurso em que reiterou seu pedido de aval da UE ao início de negociações para a entrada da Ucrânia no bloco.

O presidente da Ucrêania, Volodimir Zelenski, discursa ao lado do primeiro-ministro da Noruega, Jonas Gahr Store, em Oslo. - Cornelius Poppe/NTB /AFP - 13.dez.23

"Parabenizo todos os ucranianos por este dia. A história é feita por aqueles que não se cansam de lutar pela liberdade", disse Zelenski ao comemorar a decisão desta quarta.

Orbán, entretanto, tem vetado a discussão e criticado a reação ocidental à guerra. Para ele, a Ucrânia não está preparada para iniciar conversas sobre a adesão. "Os 26 Estados-membros foram inflexíveis quanto à necessidade de tomar essa decisão, de modo que a Hungria decidiu que, se 26 decidirem assim, eles devem seguir seu próprio caminho, e a Hungria não deseja participar dessa decisão ruim", afirmou.

Os motivos da objeção do premiê húngaro não paravam por aí. Budapeste tinha, até a última quarta, os fundos da UE congelados por conta do cenário antidemocrático do país. Agora, a Hungria tem acesso a até € 10,2 bilhões (mais de R$ 54 bilhões) em reembolsos para projetos econômicos, após o bloco concluir que o país havia cumprido as condições de independência de seu Judiciário.

Os EUA, que até o momento não conseguiram obter o aval do Congresso quanto a um pacote de ajuda de US$ 60 bilhões para a Ucrânia, não tardaram a parabenizar a UE pelo passo considerado histórico. Nas redes sociais, o conselheiro de segurança nacional dos EUA, Jake Sullivan, disse ter recebido "com satisfação" a notícia da abertura de negociações.

O premiê da Alemanha, Olaf Scholz, também se manifestou pelas redes sociais indicando que a decisão constitui "um forte sinal de apoio" à Ucrânia. Segundo fontes diplomáticas, foi Scholz que, em meio ao debate, propôs a Orbán que ele se retirasse da sala para que a decisão fosse adotada por unanimidade pelos presentes.

Agora, não é somente Zelenski que está contente com a decisão do bloco. O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, afirmou que a UE também decidiu abrir negociações de adesão com a Moldova, bem como concedeu à Geórgia o status de candidato à integração ao bloco. A Bósnia-Herzegovina também entra na lista de países esperançosos e se tornará candidata assim que atingir "o grau necessário de conformidade" com os critérios.

Apesar do clima de celebração, as conversas devem demorar anos. Isso porque a Ucrânia apresenta alguns desafios únicos para a admissão no bloco de 27 membros. A adesão requer amplas reformas administrativas —há 35 capítulos nos códigos da UE que estabelecem normas a cumprir em áreas que vão do Judiciário a serviços financeiros e até segurança alimentar.

Se for aceita, a Ucrânia se tornará o maior país do bloco em área e o quinto mais populoso. Por outro lado, os candidatos são muito mais pobres do que qualquer outro membro atual do bloco europeu, com PIB per capita em torno da metade da nação mais pobre, a Bulgária. Todos também têm histórias recentes de política volátil, agitação doméstica, crime organizado arraigado e conflitos não resolvidos com separatistas pró-Kremlin que proclamam soberania sobre o território protegido por tropas de Moscou.

Com AFP e Reuters

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