Descrição de chapéu The New York Times

Chefão do lobby de armas nos EUA renuncia em meio a julgamento por corrupção

Wayne LaPierre, que liderou Associação Nacional do Rifle por 30 anos, é acusado de desviar verbas para gastos pessoais

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Danny Hakim
The New York Times

Wayne LaPierre, CEO da Associação Nacional do Rifle (NRA, na sigla em inglês), principal lobista pró-armas dos Estados Unidos, anunciou sua renúncia ao cargo nesta sexta-feira (5).

A decisão se dá dias antes daquele que se tornou a voz e o rosto da NRA nos últimos 30 anos enfrentar um julgamento por corrupção em Nova York. O processo de seleção do júri já começou, e as declarações iniciais estavam programadas para a semana que vem.

Wayne LaPierre discursa na convenção anual da Associação Nacional do Rifle (NRA) em Indianópolis, Indiana, nos EUA - Evelyn Hockstein - 14.abr.23/Reuters

A decisão não foi motivada por um acordo com a procuradora-geral de Nova York, Letitia James, autora da ação que o levou ao banco dos réus. Segundo o The Wall Street Journal, Andrew Arulanandam, porta-voz de longa data do líder do NRA, assumirá o posto de CEO interino a partir do afastamento efetivo de LaPierre, em 31 de janeiro.

"É com orgulho por tudo o que conquistamos que anuncio minha renúncia na NRA", disse LaPierre em nota. "Fui membro desta organização por boa parte da minha vida adulta, e nunca deixarei de apoiá-la, assim como sua luta pela defesa da liberdade da Segunda Emenda [da Constituição americana, que garante aos cidadãos a posse e o porte de armas]. Minha paixão pela nossa causa arde tão profundamente quanto sempre."

LaPierre revelou sua decisão durante uma reunião do conselho da NRA em Irving, no Texas. A entidade afirmou que seu agora ex-presidente "citou razões de saúde" ao justificar seu afastamento.

O episódio pode mudar o rumo do julgamento de LaPierre em Manhattan, já que a procuradora-geral de Nova York buscava justamente destitui-lo de sua posição, além de penalizar ele e outros três réus financeiramente.

LaPierre teve um papel fundamental no lobby de armas no EUA. A última metade de sua gestão na NRA foi, porém, marcada por escândalos e turbulências internas.

James começou a investigar a entidade em 2020, após denúncias de que LaPierre estaria desviando verbas da organização para gastos pessoais.

Em maio de 2004, por exemplo, ele teria faturado sob o nome da NRA uma compra de quase US$ 40 mil (R$ 195 mil na cotação atual) em uma loja do estilista italiano Ermenegildo Zegna em Beverly Hills, na Califórnia. Ainda teria gasto mais de US$ 250 mil (R$ 1,2 milhão) em destinos turísticos como Palm Beach, na Flórida, nas Bahamas, no Caribe, e mo Lago de Como, na Itália, em viagens que ele alega serem despesas comerciais legítimas.

A NRA tem enfrentado dificuldades há tempos. Se há cinco anos ela reunia quase 6 milhões de membros, hoje seus integrantes somam 4,2 milhões. Além disso, sua receita caiu 44% desde 2016 de acordo com auditorias internas.

Também seus problemas com a Justiça não são de hoje, com seus gastos legais tendo disparado para dezenas de milhões de dólares anuais. Alguns afirmam que as mesmas investigações que levaram ao julgamento de LaPierre estariam por trás do pedido de recuperação judicial que a organização apresentou a um tribunal do Texas em 2021 pedindo sua realocação —na época, o grupo afirmou em nota que buscava sair de "um ambiente político e regulatório corrupto".

Ao mesmo tempo, LaPierre conseguiu tornar o movimento pelo direito à posse das armas um dos bastiões do Partido Republicano durante seus anos de liderança. Uma proibição temporária de armas de fogo de estilo militar promulgada no início de seu mandato seria inaceitável para os conservadores atuais, por exemplo.

A entidade sofreu pressões após massacres realizados com armas de fogo nos Estados Unidos nos últimos anos, por defender a manutenção de facilidades para a compra de armas. Dificultar o acesso a armamentos é um caminho apontado como forma de evitar que cidadãos comuns façam ataques em escolas, supermercados e outros espaços públicos.

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