Descrição de chapéu União Europeia imigrantes

Chefs de cozinha se mobilizam contra nova lei de imigração na França

Profissionais assinam manifesto em solidariedade aos muitos trabalhadores sem documentos que trabalham no setor

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RFI

Centenas de profissionais do setor de bares e restaurantes da França publicaram nesta terça-feira (16) um manifesto contra a lei de imigração, recordando os valores de hospitalidade da cozinha francesa e assegurando o seu apoio aos muitos imigrantes sem documentos que trabalham no setor.

"Nós nos opomos a esta lei e exigimos que seja implementada uma verdadeira política de integração, especialmente por meio do trabalho, para benefício do nosso setor e da sociedade como um todo", afirma o texto assinado por 200 personalidades do mundo da cozinha.

Manifestantes em ato contra lei de imigração francesa na praça da República, em Paris
Manifestantes em ato contra lei de imigração francesa na praça da República, em Paris - Gonzalo Fuentes - 14.jan.2024/Reuters

Entre eles estão chefs que já possuíram ou que ainda possuem a estrela Michelin, a mais alta distinção da gastronomia, como Olivier Roellinger, Michel Bras e Mauro Colagreco, e também a jovem guarda da cozinha multicultural, como Manon Fleury e Abdel Alaoui.

"Colocaremos sempre o talento, o desejo e a coragem à frente da nacionalidade, da origem ou do estatuto administrativo", defende o manifesto, que recorda que o setor precisa "formar, recrutar e desenvolver dezenas de milhares de pessoas".

Quanto aos imigrantes sem documentos nas chamadas "profissões de escassez", o texto final da lei de imigração dá aos agentes de segurança o poder de decisão sobre a regularização da situação dessas pessoas.

Aprovado pelo Parlamento francês em 19 de dezembro, o texto, entre outras ações, restringe o pagamento de ajudas sociais a estrangeiros, estabelece cotas migratórias, muda o acesso à nacionalidade para nascidos em solo francês e restabelece o "crime de residência ilegal".

"A cozinha, herança francesa, deve parte da sua excelência à sua abertura ao mundo", afirmam os dois jovens chefs colombianos que participam do manifesto, Esteban Salazar e Juan Pablo Rojas Pineda, que primeiro lançaram um apelo nas redes sociais e que preparam agora um jantar beneficente no dia 29 de janeiro em Paris.

Lei segue contestada

Uma delegação de deputados dos quatro grupos de esquerda (LFI, PS, ambientalistas e comunistas) apelou contra a lei de imigração. Eles foram ouvidos na manhã desta terça-feira pelo Conselho Constitucional, que se pronunciará sobre a questão no dia 25 de janeiro.

O socialista Boris Vallaud, os deputados do partido de esquerda França Insubmissa Danièle Obono e Andrée Taurinya, o ecologista Benjamin Lucas e os comunistas Elsa Faucillon e Davy Rimane apresentaram, em entrevista coletiva, os seus argumentos contra o texto, considerado uma "vitória ideológica" da ultradireita francesa, representada por Marine Le Pen.

"Viemos defender o nosso apelo contra uma lei que a primeira-ministra, o ministro do Interior e o próprio presidente da República concordaram estar repleta de ataques à Constituição", lembrou Boris Vallaud. O presidente do Partido Socialista na Assembleia Nacional qualificou o texto como uma "lei anti-imigração", que "normaliza os temas e o programa do [partido de ultradireita] Reunião Nacional".

No dia seguinte à adoção do texto controverso, a então primeira-ministra, Élisabeth Borne, reconheceu que certas medidas eram inconstitucionais, e o próprio Emmanuel Macron remeteu o assunto ao Conselho Constitucional.

"Uma situação grotesca" para Benjamin Lucas. "Tanto na substância como na forma, o governo confundiu a lei com um panfleto inspirado na extrema direita", criticou.

Denunciando de "quarenta a sessenta artigos", os deputados de esquerda exigem a derrubada total da lei. Eles se opõem, especialmente, ao condicionamento do acesso a determinados auxílios sociais ao tempo de residência, ao endurecimento das regras de reagrupamento familiar e à fixação de cotas de admissão no território francês.

"Há muitas outras coisas a fazer para permitir um acolhimento digno aos exilados e para promover a imigração, que não é um perigo, mas sim uma mais-valia para o nosso país", argumentou Danièle Obono.

Com AFP

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