EUA fazem 2º ataque em 24h no Iêmen contra os houthis, que prometem resposta forte

Bombardeio ocorreu em base de radares do grupo rebelde xiita apoiado pelo Irã e não deixou mortos ou feridos

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São Paulo

Os Estados Unidos voltaram a atacar alvos dos rebeldes houthis no Iêmen na madrugada deste sábado (13), noite de sexta (12) no Brasil, um dia após uma primeira onda de bombardeios em resposta à ofensiva do grupo iemenita a embarcações no mar Vermelho.

Caça Eurofighter Typhoon britâncio decola da base de Akrotiri, em Chipre, para atacar alvos no Iêmen
Caça Eurofighter Typhoon britâncio decola da base de Akrotiri, em Chipre, para atacar alvos no Iêmen - Lee Goddard/Ministério da Defesa do Reino Unido/AFP

À rede qatari Al Jazeera um alto funcionário do gabinete político do grupo rebelde disse que ninguém ficou ferido, mas prometeu uma resposta "forte e eficaz" aos ataques conduzidos por Washington.

Em comunicado publicado na rede X, o Comando Central americano confirmou que o ataque terrestre noturno foi feito com mísseis Tomahawk contra uma base de radares houthi.

Nas palavras dos militares, "para diminuir a capacidade dos rebeldes de atacar embarcações marítimas, incluindo navios comerciais".

Horas após a condução do ataque, o controle marítimo do Reino Unido comunicou que um míssil aparentemente lançado de Aden, cidade do Iêmen, caiu a cerca de 500 metros de um navio no mar Vermelho e que o oficial da embarcação relatou que estava sendo seguido por ao menos três pequenas embarcações durante o seu percurso. O navio-tanque tinha bandeira do Panamá e transportava petróleo russo.

Depois da primeira ofensiva da coalizão liderada pelos EUA com o Reino Unido na sexta-feira, o grupo rebelde prometeu dobrar a aposta e continuar com os ataques na rota marítima —a costa do Iêmen banhada pelo mar Vermelho é território dominado pelos rebeldes.

De acordo com uma autoridade de Washington que falou à CNN sob anonimato, os bombardeios deste sábado são uma ação isolada dos EUA e têm menor amplitude se comparados aos de sexta-feira.

O enviado especial da ONU no Iêmen, o sueco Hans Grundberg, disse em comunicado ver com extrema preocupação todos esses desdobramentos e afirmou que há um "contexto regional cada vez mais precário para a paz no Iêmen e a estabilidade e segurança na região".

Ao comentar sobre a primeira ofensiva, o presidente americano, Joe Biden —que chamou o grupo de terrorista—, havia reforçado que não hesitaria em lançar novos ataques.

John Kirby, porta-voz da Casa Branca, acrescentou que os ataques não tinham a intenção de desencadear uma guerra regional mais ampla. "Não estamos interessados em uma guerra com o Iêmen ou em um conflito de qualquer tipo", disse ele. "Tudo o que o presidente tem feito é tentar evitar qualquer escalada de conflito", acrescentou, afirmando que os EUA atingiram um "alvo militar válido e legítimo".

Os primeiros ataques levaram milhares de habitantes às ruas de Sanaa para protestar. Portando bandeiras palestinas e iemenitas, eles gritavam slogans como "morte à América" e "morte a Israel".

Em uma mensagem que causou poucas surpresas, o chanceler do Irã, Hossein Amir-Abdollahian, saiu em defesa dos rebeldes. Acredita-se que Teerã, também dominada por um regime xiita (como os houthis) seja o principal patrocinador das atividades dos rebeldes —assim como o faz com o Hezbollah libanês e com grupos que operam na Síria.

No X, o ministro disse que "Sanaa está totalmente comprometida com a segurança marítima" (a capital está sob controle dos rebeldes). "Em vez de atacar o Iêmen, a Casa Branca deveria parar imediatamente toda a cooperação militar com Israel contra o povo de Gaza e da Cisjordânia para que a segurança retorne à nossa região."

A menção não é em vão. Os houthis, assim como o Irã, são aliados do grupo terrorista palestino Hamas, em guerra contra Tel Aviv desde o último 7 de outubro. "A ação do Iêmen no apoio às mulheres e crianças de Gaza e no confronto com o genocídio do regime israelense é louvável", disse o chanceler iraniano.

Os houthis realizaram desde meados de novembro 27 ataques a navios em uma das rotas comerciais mais importantes do mundo. Eles afirmavam mirar embarcações ligadas a Israel em apoio aos palestinos na Faixa de Gaza e vinham desafiando alertas de Washington.

Quem são os houthis

  • Origem

    Grupo armado do Iêmen formado nos anos 1990 por parte da minoria muçulmana xiita do país, os zaiditas; nome vem do fundador do grupo rebelde, Houssein al Houthi (1959-2004)

  • Objetivo

    Controlar o Iêmen e integrar o que chamam de "eixo da resistência" liderado pelo Irã contra Israel, EUA e Ocidente em geral

  • Apoio

    Libanês Hezbollah fornece treinamento e conhecimento militar, e acredita-se que Irã forneça armas; são também aliados do Hamas

  • Tática

    Exército armado, que inclui também crianças recrutadas, conduz ataques aéreos em especial no mar Vermelho, que banha o Iêmen, contra navios de bandeira internacional

A ofensiva ocidental aprofunda os temores de que a guerra entre Tel Aviv e o Hamas em Gaza se transforme em um conflito regional mais amplo e arraste atores que iriam de Teerã a Washington.

A nova campanha é o principal teste direto dos EUA na guerra que destruiu boa parte da Faixa de Gaza e segue intensa. Antes, os americanos haviam matado o líder de uma facção iraquiana pró-Irã que promovera ataques contra bases suas no Oriente Médio como forma de apoiar o Hamas.

Quando o conflito estourou, Washington mandou dois grupos de porta-aviões à região, num sinal ao Irã e a seus prepostos de que reagiria caso alguém interferisse na ação de Tel Aviv.

O temor maior envolvia o Hezbollah, o mais poderoso adversário a fazer fronteira com Israel. A dissuasão, aliada a questões internas tanto no Líbano quanto no Irã, foi relativamente bem-sucedida, com o envolvimento do grupo fundamentalista restrito a um maior atrito na faixa fronteiriça entre os países.

Ao menos 2.000 navios tiveram de desviar suas rotas do mar Vermelho, faixa de trânsito de 15% do comércio por embarcações no mundo. Cerca de 40% do tráfego no canal de Suez, que liga o mar ao Mediterrâneo, parou. Fretes subiram, assim como o preço do petróleo, já que a região é usada como ligação entre o golfo Pérsico e a Europa.

Com Reuters e The New York Times

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