EUA matam líder de grupo pró-Irã que atacou bases no Iraque

Ação em meio a semana de atentados eleva medo de que a guerra se espalhe na região

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São Paulo

Após Israel matar um líder do Hamas no Líbano e o Irã sofrer um atentado que deixou ao menos 84 mortos, mais uma ação violenta elevou a tensão no Oriente Médio, em chamas desde que o grupo terrorista palestino atacou o Estado judeu e disparou uma intensa guerra retaliatória na Faixa de Gaza.

Nesta quinta (4), os Estados Unidos promoveram um ataque com drone para matar em Bagdá o chefe de um grupo pró-Irã baseado no Iraque.

Forças de segurança iraquianas patrulham rua de Bagdá após ataque com drone americano
Forças de segurança iraquianas patrulham rua de Bagdá após ataque com drone americano - Ahmed Saad/Reuters

O Pentágono o identificou como Mushtaq Jawad Kazim al-Jawari e disse ter matado outro membro do Harakat Hezbollah al-Nujaba, organização apoiada por Teerã considerada responsável por vários ataques contra bases e postos militares americanos no Iraque desde o início da guerra Israel-Hamas, em 7 de outubro.

Antes, as mídias árabe e israelense haviam citado a vítima principal como Mushtaq Taleb al-Saidi, conhecido como Abu Taqwa. O principal alvo desse e de outros grupos é a base iraquiana de Ain al-Asad, no centro-norte do Iraque, de onde os EUA lançam ataques com drones em toda a região —inclusive, provavelmente, o que matou o líder.

O governo do Iraque protestou contra a ação, considerando-a uma quebra de sua soberania.

Já a morte de Saleh al-Arouri em Beirute, na terça (2), não chegou a ser admitida por Israel —embora não seja segredo para ninguém, dados os comentários posteriores das Forças de Defesa do país, de que nenhum líder do Hamas está seguro na região.

Já o atentado brutal contra uma cerimônia que relembrava os quatro anos do assassinato do principal general iraniano, Qassim Suleimani, foi reivindicado nesta quinta pelo grupo terrorista Estado Islâmico, que já atacou o regime de Teerã antes. Foi a mais mortífera ação contra o país desde a revolução que instaurou a teocracia em 1979..

Suleimani havia sido morto também em Bagdá pelos EUA em 2020, em um ataque com drone ordenado pelo então presidente Donald Trump.

Suleimani era o cérebro por trás da estratégia de Teerã de confrontar interesses americanos e israelenses no Oriente Médio por meio do apoio a grupos terroristas e organizações paramilitares. Na conta entram tanto xiitas —aderentes do mesmo ramo minoritário do islã que tem no Irã seu centro, como o Hezbollah libanês— e sunitas, do grupo majoritário, como o Hamas.

As ações americanas e israelenses na região, com a exceção óbvia de guerras abertas, costumam ser pontuais —ataques com drones, por exemplo. Ainda assim, a animosidade que a matança gerou fez crescer a agressividade retórica na região.

A Guarda Republicana, elite militar do país da qual Suleimani era comandante da principal força, repetiu nesta quinta as palavras do presidente Ebrahim Raisi e do líder supremo Ali Khamenei de vingança, mas sem citar alvos.

Desnecessário dizer que o ataque americano em Bagdá irá alimentar ainda mais o caldo de tensão e suspeitas no Oriente Médio. O país árabe tem uma posição única: após a guerra de 2003 e a presença continuada dos EUA, hoje tem resquícios americanos importantes, mas está alinhado ao vizinho Irã.

Ambos os países têm maioria xiita (90%-95% no Irã, 65%-70% no Iraque) e travaram uma sangrenta guerra nos anos 1980, quando Bagdá era comandada pela minoria sunita liderada por Saddam Hussein —executado em 2006. Hoje, estão bastante próximos.

Ainda assim, há um número incerto de bases iraquianas usadas por forças americanas para treinamento de soldados locais e ataques a posições remanescentes do Estado Islâmico na região. Na prática, em um arranjo instável, elas são usadas para outros fins também. Há cerca de 2.500 soldados americanos no país, além de outros 900 em postos na Síria, também objeto de ataques de forças pró-Irã.

Ali, a situação é ainda mais complexa, dada a guerra civil em curso e a presença de potências como Rússia, Turquia e Irã em campo. Israel tem bombardeado com frequência o país, com quem está tecnicamente em guerra —em 1967, anexou dos árabes as colinas de Golã.

Desde o começo do confronto de Israel com o Hamas, o governo de Joe Biden incrementou suas forças na região, enviando aeronaves, sistemas antiaéreos e dois grupos de porta-aviões para garantir seu apoio a Tel Aviv. Por ora, isso dissuadiu Teerã de entrar diretamente na guerra.

Entre seus prepostos, o Hezbollah também mantém um ritmo baixo de engajamento, com trocas de fogo diárias com Israel —nesta quinta, um comandante do grupo no sul do Líbano (40%-50% de xiitas) estava entre os cinco mortos em um ataque. Mas nada de guerra aberta, como ocorreu pela última vez em 2006.

Já os houthis do Iêmen, xiitas como cerca de 40% da população e apoiados por Teerã na guerra civil que consome o país desde 2014, têm tido mais eficácia em termos de impacto: seus ataques a navios no mar Vermelho, quase diários, obrigaram empresas de transporte a mudar rotas, encarecendo custos e levando os EUA a formar uma força-tarefa naval para tentar coibir as ações.

Também nesta quinta, os EUA e aliados divulgaram um ultimato aos houthis, determinando o fim das ações hostis sob pena de consequências mais duras. O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, embarcou para uma viagem a Israel e países da região para discutir a crise no geral.

O desenho todo, desta forma, sugere as frentes caso a guerra hoje focada em Gaza de fato escale. Nesta quinta, Israel intensificou suas ações no sul da faixa, em Khan Yunis. Segundo autoridades ligadas ao Hamas, já morreram 22,4 mil pessoas na região na guerra. O atentado que a disparou matou 1.200, e ainda há 129 reféns em poder da facção terrorista.

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