Descrição de chapéu guerra israel-hamas

Irã ataca base de grupo rival no Paquistão com mísseis e drones

Ação ocorre um dia após bombardeio na Síria e no Iraque, elevando ainda mais tensão na região

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São Paulo

Um dia depois de atacar com mísseis campos de grupos rivais no Iraque e na Síria, o Irã bombardeou de forma inédita na madrugada desta quarta (17, noite de terça no Brasil) a base do grupo radical Jaish al-Adl no também vizinho Paquistão —uma potência nuclear.

Com isso, e ainda que por motivos aparentemente distintos da guerra entre Israel e Hamas, ligados a um atentado no sul iraniano no começo do ano, Teerã estende a tensão que permeia o Oriente Médio para o Sul da Ásia —a fronteira da antiga e fracassada "guerra ao terror", a reação dos Estados Unidos aos atentados de 11 de setembro de 2001.

Bombeiros verificam escombros de prédio atingido pelo Irã em Erbil, capital do Curdistão iraquiano
Bombeiros verificam escombros de prédio atingido pelo Irã em Erbil, capital do Curdistão iraquiano - Kurdistan 24/AFP

A ação matou, segundo o governo paquistanês, duas crianças e feriu outras três. "Essa violação da soberania do Paquistão é completamente inaceitável e pode ter consequências sérias", disse a chancelaria do país, em nota.

O incidente é confuso, tanto que as agências de notícias oficiais do Irã retiraram os relatos que haviam publicado do ar. No Fórum Econômico Mundial de Davos, na Suíça, o chanceler iraniano, Hossein Amir-Abdollahian, havia se encontrado nesta terça (16) com o premiê interino do Paquistão, Anwaar-ul-Haq Kakar. Eles não deram declarações sobre o tema da conversa.

Há anos o Paquistão abriga grupos acusados de agir contra interesses do Irã, muitos deles bancados por seu grande aliado, a Arábia Saudita. O Jaish al-Adl, ou Exército da Justiça, havia sido acusado no passado de sequestrar policiais de fronteira iranianos.

Sauditas, que guardam os locais mais sagrados do islamismo e representam a maioria sunita da religião, opõem-se aos minoritários xiitas do Irã, teocracia que concentra esse ramo da fé. No ano passado, contudo, a relação dos dois países melhorou após um acordo mediado pela China que restabeleceu relações diplomáticas entre eles.

No meio disso ficaram Paquistão, Síria e Iraque, entre outros lugares que mantêm bases de combatentes e terroristas contrários a Teerã. Islamabad está numa situação particularmente delicada, dado que o patrocínio que por anos foi dos EUA ao país agora é assumido pela mesma Pequim que busca aproximar os rivais no Orientre Médio.

Os ataques aconteceram nas montanhas da província paquistanesa do Baluchistão, uma área bastante montanhosa a 50 km da fronteira com o Irã. Embora escaramuças eventuais tenham ocorrido no passado, como a morte de quatro guardas de Islamabad na região em 2023, não se tem notícia de um ataque dessa complexidade, com mísseis e drones.

O Paquistão tem cerca de 170 ogivas nucleares, desenvolvidas numa corrida contra a arquirrival Índia ao longo dos anos. Sua sociedade é fortemente dividida em linhas sectárias, e o Exército é o poder moderador de suas infinitas crises políticas.

O país perdeu muito de seu poderio regional —foi, por exemplo, o patrono do Talibã que conquistou e reconquistou o vizinho Afeganistão entre 1996 e 2021, com uma ocupação americana no meio do caminho. Hoje, trabalha na esfera chinesa de influência.

O ataque do Irã seguiu o padrão dos da véspera. Todos esses grupos são suspeitos, na visão de Teerã, pelo mega-ataque terrorista que matou cerca de 90 pessoas no começo do ano no país. O Estado Islâmico havia reivindicado a autoria, mas não está claro se ele tem ligação com essas agremiações sunitas.

Os EUA e a França, que estão operando contra rebeldes pró-Irã houthis do Iêmen no mar Vermelho, condenaram os ataques na Síria e no Iraque, chamando-os de "irresponsáveis". Se eles não têm a ver diretamente com a guerra Israel-Hamas, é certo que elevam a tensão exacerbada em toda a região.

O Irã apoia o grupo terrorista palestino, os houthis, o Hezbollah libanês e outras agremiações e países contrários a Tel Aviv e aos EUA.

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