John Kerry vai deixar cargo de enviado climático dos EUA, diz NYT

Decisão de renunciar vem logo após Xie Zhenhua, seu homólogo na China, anunciar que também está se aposentando

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Lisa Friedman
The New York Times

John Kerry, enviado especial do presidente Joe Biden para o clima, planeja deixar a administração Biden, de acordo com duas pessoas familiarizadas com seus planos.

Kerry, 80, tem atuado como o principal diplomata do presidente sobre mudanças climáticas desde o início de 2021, trabalhando para persuadir governos ao redor do mundo a reduzir agressivamente suas emissões de gases de efeito estufa que aquecem o planeta.

John Kerry, assessor especial dos Estados Unidos para o clima
John Kerry, assessor especial dos Estados Unidos para o clima - Ludovic Marin - 02.dez.23/AFP

Ele liderou a equipe de negociação dos Estados Unidos em três cúpulas climáticas das Nações Unidas, reafirmando a liderança americana após a retirada do país do Acordo de Paris durante a administração Donald Trump.

Kerry defendeu a cooperação entre EUA e China, os dois maiores poluidores do mundo, em relação ao aquecimento global, mesmo em momentos de tensão.

Na quarta-feira (10), Kerry se encontrou com Biden na Casa Branca para informar o presidente de sua intenção de renunciar, de acordo com uma pessoa familiarizada com a reunião. No sábado, sua equipe soube de sua decisão em uma reunião organizada às pressas, disse uma pessoa que pediu para permanecer anônima.

Kerry disse à equipe que pretende deixar o cargo nos próximos meses, e é amplamente esperado que ele se envolva na campanha presidencial de 2024 para ajudar a divulgar o trabalho de Biden em relação às mudanças climáticas. Ainda não foi escolhido um sucessor.

Enquanto isso, Kerry planeja participar do Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça, na próxima semana. A Casa Branca não respondeu a um pedido de comentário.

Os planos de Kerry foram relatados pela primeira vez pelo Axios.

Ex-senador de Massachusetts, candidato presidencial democrata e secretário de Estado do presidente Barack Obama, Kerry trouxe um status de celebridade para as cúpulas climáticas globais.

Amplamente considerado um incansável defensor da ação climática, Kerry viajou para 31 países na tentativa de restaurar a confiança dos EUA em relação às mudanças climáticas e persuadir outros países a fazerem mais para ajudar a manter a temperatura média global abaixo de 1,5°C acima dos níveis pré-industriais. Esse é o limite além do qual os cientistas dizem que os perigos do aquecimento global —incluindo enchentes, secas, incêndios florestais e colapso do ecossistema.

Kerry desempenhou um papel fundamental ao instar Biden a estabelecer uma meta mais agressiva para as emissões de gases de efeito estufa dos EUA, o que o presidente fez ao se comprometer a reduzir as emissões em cerca de metade até 2030. Mas o histórico de Kerry em persuadir outras nações a agir foi misto.

Em novembro, EUA e China concordaram em enfrentar juntos o aquecimento global, aumentando a energia eólica, solar e outras energias renováveis com o objetivo de substituir os combustíveis fósseis.

Esse acordo foi significativo e foi alcançado após anos de diplomacia entre Kerry e seu homólogo chinês, Xie Zhenhua. No entanto, ficou aquém da promessa da China de eliminar gradualmente o uso intensivo de carvão, o combustível fóssil mais poluente, ou de parar de construir novas usinas de carvão.

A decisão de Kerry de renunciar vem logo após o anúncio de Xie de que ele também está se aposentando. Isso levantou preocupações sobre como será a diplomacia climática entre os EUA e a China após a saída das duas pessoas mais interessadas em cooperação.

O futuro do cargo de enviado climático nos Estados Unidos também é incerto. Biden criou o cargo para Kerry, que trabalhava diretamente para o presidente e não estava sujeito à confirmação do Senado quando foi nomeado, fato que irritou muitos republicanos. Os legisladores republicanos criticaram o papel de Kerry e lançaram investigações sobre seus contatos com grupos ambientais.

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