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Migrantes inundam Nova Jersey para driblar restrições de chegada a Nova York

Solicitantes chegam em ônibus vindos principalmente do Texas, na fronteira com o México

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Stefanos Chen Jeffery C. Mays
The New York Times

Centenas de migrantes com destino à cidade de Nova York foram levados para Nova Jersey durante o feriado do fim do ano, em uma aparente tentativa de contornar uma ordem recente da cidade que busca limitar o fluxo caótico de chegadas.

Desde sábado (30), 13 ônibus vindo dos estados do Texas e de Louisiana transportando cerca de 450 migrantes chegaram a Nova Jersey, incluindo um veículo que chegou cedo na segunda-feira (1º) em Jersey City, de acordo com Steve Fulop, prefeito da cidade. Outras paradas incluíram os terminais municipais em Secaucus, Fanwood, Edison e Trenton.

O aumento nas chegadas em Nova Jersey parece ser uma forma de contornar uma ordem de emergência da semana passada emitida pelo prefeito de Nova York, Eric Adams, que exige das empresas de ônibus fretados um aviso prévio de 32 horas sobre a chegada de migrantes e a restrição de horários em que eles desembarcar.

Migrantes recém chegados a Nova York em frente ao hotel Roosevelt, em Manhattan
Migrantes recém chegados a Nova York em frente ao hotel Roosevelt, em Manhattan - Spencer Platt - 28.set.2023/Getty Images/AFP

"Eles estão usando Nova Jersey essencialmente como uma parada para contornar os limites dos ônibus que podem chegar a Nova York", disse Fulop, acrescentando que ainda não se preocupa com a passagem dos migrantes pelo estado.

Os veículos traziam acompanhantes que ajudaram os migrantes a fazer a baldeação para trens e ônibus com destino à cidade de Nova York. O gabinete do governador do Texas —estado de onde vêm a maioria dos ônibus—, Greg Abbott, não respondeu a um pedido de comentário do New York Times.

Um porta-voz do governador da Louisiana, o democrata John Bel Edwards, disse que, embora uma das empresas de ônibus seja do estado, os migrantes a bordo do ônibus vinham do Texas e que sua gestão não teria envolvimento.

Um porta-voz do governador de Nova Jersey, Philip Murphy, também democrata, afirmou que "quase todos" os solicitantes de asilo que chegaram de ônibus "continuaram com suas viagens rumo ao destino final na cidade de Nova York". O porta-voz acrescentou que o estado está "coordenando de perto" com autoridades locais de Nova Jersey, do governo federal e da cidade de Nova York.

Adams assinou a ordem sobre o tema no último dia 27 para trazer mais estrutura ao processo de desembarque de ônibus com migrantes perto do terminal rodoviário da Autoridade Portuária, no centro de Manhattan, em horários estranhos e sem aviso prévio.

Adams afirmou que a cidade estava sendo destruída pela crise migratória. Desde o primeiro semestre de de 2022, a cidade de Nova York registrou mais de 161.500 solicitantes de asilo, dos quais 68 mil estão em abrigos e sob os cuidados da cidade. A cidade de Nova York é obrigada por decreto judicial a fornecer abrigo para aqueles que pedem.

Quatorze ônibus do Texas chegaram em um único dia na semana anterior à emissão da ordem, um recorde desde que a cidade começou a registrar um grande número de migrantes enviados por Abbott, o governador republicano do Texas.

O estado fronteiriço enviou migrantes para cidades administradas por democratas na tentativa de chamar a atenção para as dificuldades dos estados na fronteira sul e forçar o presidente Joe Biden a "proteger a fronteira", disse o gabinete do governador. Abbott afirmou que enviou 25 mil migrantes para a cidade de Nova York.

"O governador do Texas, Greg Abbott, continua tratando os solicitantes de asilo como peões políticos e agora está deixando famílias em cidades e estados vizinhos no frio e na escuridão da noite com passagens de trem para viajar para a cidade de Nova York, assim como ele tem feito em Chicago", disse Kayla Mamelak, porta-voz de Adams, em comunicado.

Adams afirma que sua ordem executiva foi baseada em leis da cidade de Chicago que impunham limites sobre quando e onde os migrantes poderiam ser desembarcados. Autoridades de Chicago dizem que, em resposta às restrições, ônibus do Texas começaram a desembarcar migrantes no Aeroporto Internacional O'Hare, em "ruas aleatórias" e nos subúrbios vizinhos.

De acordo com a ordem de Adams, os ônibus só poderiam chegar de segunda a sexta-feira, das 8h30 ao meio-dia, e os motoristas deveriam ter listas descrevendo quais passageiros chegaram ao país nos últimos 90 dias, quantos poderiam buscar abrigo de emergência e se os passageiros estavam viajando como adultos solteiros ou como parte de uma família.

As empresas que violarem a ordem poderão ser acusadas de contravenção, o que pode resultar em três meses de prisão e multa de US$ 500 para indivíduos e US$ 2.000 para companhias. O Departamento de Polícia também pode apreender os ônibus.

Alguns dos subúrbios ao redor de Chicago começaram a aprovar regras semelhantes para regular quando ônibus fretados com migrantes podem desembarcar os passageiros. Camille Joseph Varlack, chefe de gabinete de Adams, disse na semana passada que eles alertaram os municípios vizinhos sobre a ordem executiva. "Não é nossa intenção transferir nenhum ônus", disse Varlack à WABC-TV na semana passada.

As áreas ao redor de Chicago têm experimentado chegadas inesperadas de migrantes, semelhantes às ocorridas em Nova Jersey, desde que a cidade implementou as leis relativas ao assunto. No domingo, o prefeito de Chicago, Brandon Johnson, disse nas redes sociais que um avião particular vindo de San Antonio, no Texas, chegou ao Aeroporto Internacional de Chicago Rockford, a cerca de 135 quilômetros do centro de Chicago, com 350 solicitantes de asilo a bordo.

Em Nova York, Power Malu, cuja organização Artists Athletes Activists (Artistas, atletas e ativistas) tem se encontrado com migrantes no terminal de ônibus da Autoridade Portuária e os encaminhado para o centro de recepção da cidade, disse que sua equipe não viu nenhum ônibus de solicitantes de asilo chegar lá desde sexta-feira, quando o Departamento de Polícia começou a aplicar a ordem.

Ele chamou as regras de chegada muito rigorosas e afirmou que viu mais migrantes chegando ao centro de recepção no Hotel Roosevelt a pé depois de serem deixados em outro lugar.

"Eles vão vir para a cidade de Nova York porque estão desesperados e procurando oportunidades. Isso [a ordem executiva] não vai diminuir o fluxo e não vai impedi-los", disse Malu.

Michael Gonnelli, prefeito de Secaucus, em Nova Jersey, onde vários migrantes desembarcaram durante o fim de semana, disse em um comunicado no domingo que as novas regras podem ser muito difíceis de serem aplicadas e estavam "resultando em consequências inesperadas" para os centros de trânsito em Nova Jersey.

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