Podcast faz previsões sobre política internacional em 2024; confira algumas

Especialistas da Chatham House discutem favoritismo de Trump nas eleições nas EUA e potencial avanço da ultradireita na Europa

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Neste ano de 2024, pouco mais de 40 países terão eleições para escolher primeiros-ministros ou presidentes. O personagem de maior relevo, Donald Trump, vai às urnas em novembro e é o favorito nas pesquisas para voltar à Casa Branca.

O ex-presidente dos EUA Donald Trump se aproxima de apoiadores após comício do Partido Republicano em Rapid City, em Dakota do Sul - Andrew Caballero-Reynolds - 8.set.23/AFP

Ele chefia a ultradireita do Partido Republicano e, caso supere as barreiras dos tribunais, já representa problemas sérios, como a promessa de retirar os Estados Unidos da Otan, a aliança militar ocidental.

Esta é uma das questões levantadas em recente podcast da Chatham House, centro britânico de pesquisas em política internacional.

O curioso, diz no episódio Leslie Vinjamuri, diretora do programa americano da entidade, é que os governos europeus não estão se preparando para a possível reviravolta que Trump representaria. A indiferença é mais nítida na Alemanha, país que no pós-Guerra construiu vínculos militares estreitos com os EUA.

Mas vejamos 2024 sob outras lentes. Por mais que o podcast privilegie o enfoque eleitoral, nenhum dos participantes arrisca-se em prognósticos sobre a guerra entre a Rússia e a Ucrânia para além da constatação de que os ucranianos continuam a dever a seus aliados da Europa uma ofensiva digna desse nome.

Quanto a Israel-Hamas, nenhum desfecho previsível ainda em janeiro, diz Gideon Rachman, comentarista-chefe do Financial Times. Inexistem discussões sobre quem exercerá o poder em Gaza depois do Hamas ou a possibilidade de Binyamin Netanyanu convocar eleições parlamentares. Ele hoje as perderia e, apegado ao poder, deve fazer de tudo para retardá-las, inclusive prolongando um estado de emergência mesmo que não seja mais necessário.

Ben Bland, pesquisador de temas asiáticos da Chatham House, destaca em sua área as eleições em Taiwan. Elas serão delicadas em razão da reação da China à possibilidade de uma reeleição dos separatistas, que defendem para a ilha o estatuto de país sem vínculos com o continente.

Bland prevê um jogo internacional de pressões para evitar a eclosão de um conflito armado. Ele acrescenta que tampouco a China estaria interessada na eclosão de uma guerra em razão de todos os seus problemas econômicos internos.

O ano que se inicia promete também ser complicado para a Europa, diz Armida van Rij, pesquisadora sobre o continente na entidade britânica. Ela acredita haver um campo fértil para a expansão da extrema direita em razão da impossibilidade prática da eliminação da imigração clandestina ou de um consenso sobre os direitos dos imigrantes pelos atuais governos no continente.

As eleições para o Parlamento Europeu, quando cidadãos dos 27 países-membros avaliarão ao mesmo tempo questões como a imigratória, devem oferecer um bom termômetro sobre situação.

E com ela voltamos aos EUA. Trump e sua bancada no Congresso reiteram que o México só fechará suas fronteiras para os ilegais com muros e muito berro. Os republicanos obviamente não reconhecem a política adotada por Biden, de estimular com maior abertura a imigração legal e reprimir a entrada de clandestinos.

No entanto, nota Leslie Vinjamuri, não tem sido fácil o trabalho do governo de Joe Biden, que equilibra sucessos e fracassos. E os trumpistas sabem disso.

Ainda no Legislativo, os republicanos ligados ao ex-presidente bloqueiam o prosseguimento do auxílio americano à Ucrânia. Argumentam que um presidente incapaz de resolver problemas internos —o que não é verdade— não conseguirá ter bons resultados com os externos.

Em junho próximo se reúnem os membros da Otan, e será recolocada a candidatura da Ucrânia. É complicado porque o convite deve ser unânime entre os integrantes do grupo, e ao menos a Hungria, aliada da Rússia, antecipou seu veto a ele.

Mas se der Trump em novembro, a partir de 2025 pode tomar corpo a ameaça dele de deixar a aliança. O que deixaria os europeus livres para debater a entrada da Ucrânia na Otan não fosse um imenso detalhe: o arsenal nuclear americano, o segundo maior do planeta, não teria mais nada a ver com o grupo no mesmo momento em que, do lado oposto das fronteiras dos países da aliança, a Rússia ameaça usar sua bomba atômica numa guerra restrita como a da Ucrânia.

Mesmo sem se estender nesses argumentos, já que para o público europeu do podcast os conceitos são mais familiares, Leslie Vinjamuri é autora de um trabalho mais extenso sobre o tema em um relatório recente publicado pela Chatham House. Nele, a especialista escreve que o favoritismo eleitoral de Trump alimenta impasses na discussão sobre a política externa no Congresso americano. "E isso acaba comprometendo a reputação do país como cumpridor de seus compromissos com aliados."

E há sobretudo a imagem dos EUA como país democrático que o trumpismo vem comprometendo desde o mandato anterior do dirigente republicano. Basicamente, a oposição é transformada em inimiga, o que azeda o convívio entre os contrários.

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