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Milei convida papa a visitar Argentina após chamá-lo de 'representante do mal'

Primeiro pontífice latino-americano da história não foi nenhuma vez a sua terra natal em dez anos como líder da Igreja Católica

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São Paulo

O presidente da Argentina, Javier Milei, formalizou nesta quinta-feira (11) seu convite para que o papa Francisco, 87, que é argentino, faça uma visita ao país, no que seria sua primeira viagem oficial à terra natal desde que iniciou seu papado, há dez anos.

Manifestação de fiéis católicos perto de igreja de Lujan, na província de Buenos Aires, para marcar aniversário dos dez anos de papado de Francisco e de 15 anos de existência de organização católica local que reabilita usuários de drogas
Manifestação de fiéis católicos perto de igreja de Lujan, na província de Buenos Aires, para marcar aniversário dos dez anos de papado de Francisco e de 15 anos de existência de organização católica local que reabilita usuários de drogas - Luis Robayo - 11.mar.23/AFP

Pouco após ser eleito em novembro, o economista ultraliberal fez uma chamada telefônica com o papa, intermediada pelo oftalmologista do pontífice, o também argentino Fabio Bartucci, e o convidou de forma informal. Agora o convite chega por meio de carta ao Vaticano.

Em especial durante os meses iniciais de sua campanha rumo à Casa Rosada, Milei fez uma série de ataques verbais ao papa Francisco, uma figura que, por si só, já não goza de ampla popularidade na Argentina. Milei chegou a chamá-lo de "representante do mal na Terra", mas suavizou o tom à medida que se aproximavam as eleições que o elegeram.

Na carta, ele diz que a ida do papa à Argentina é uma "prioridade máxima" de seu governo para "proteger nossos compatriotas mais vulneráveis" e que ajudaria a semear "pacificação e humanismo entre os argentinos, ansiosos para superar suas divisões".

Ao longo das últimas semanas o país tem registrado protestos massivos e frequentes nas ruas contra as medidas econômicas e políticas anunciadas por Milei, algumas por decreto, outras por meio de projetos de lei que têm de ser aprovados pelo Congresso, onde ele não dispõe de maioria legislativa.

A formalização do convite ocorre pouco após a irmã caçula do presidente, Karina Milei, a quem ele nomeou secretária-geral da Presidência após mudar de forma polêmica a norma nacional sobre nepotismo, ter um encontro com o presidente da Conferência Episcopal argentina, o arcebispo Oscar Ojea. O encontro foi um pedido dela.

Não há nenhuma confirmação do papa, tampouco uma data estimada para a visita, segundo apurou o jornal La Nacion. Mas a expectativa do governo de Milei é que a ida do pontífice pudesse ocorrer o mais rápido possível.

"Sei que o tempo é escasso", escreveu ele. "Ainda assim, espero que possa viajar para a alegria geral de todo o povo argentino", diz Milei nos trechos finais da carta de duas páginas. Os mais otimistas, diz o La Nacion, calculam que a visita poderia se dar entre março e abril, talvez após a Semana Santa. Não há informação oficial.

A expectativa sobre uma visita do líder da Igreja Católica ao país é ampla, e já foram feitos inúmeros apelos. Em março de 2023, mês que marcou os dez anos de seu pontificado, por exemplo, o então presidente Alberto Fernández, sua vice, Cristina Kirchner, e vários políticos argentinos de peso subscreveram uma carta com mais de 300 assinaturas pedindo que Francisco considerasse fazer a viagem.

O tema é delicado por alguns motivos. Um deles reside em parte da opinião popular que critica o atual pontífice por seu papel à época da ditadura militar no país, ainda que ele já tenha negado que tivesse facilitado a entrega de pessoas perseguidas aos militares.

Mais recentemente, entra na conta também a saúde do papa, que sofre com crises de bronquite frequentes, além de fortes dores no joelho que o tem feito cancelar viagens de longas distâncias.

Em meados de dezembro, porém, o próprio Francisco sinalizou, em uma entrevista a uma TV do México, que ir à Argentina é uma possibilidade. Na ocasião, ele disse que a única viagem confirmada em sua agenda para 2024 é para a Bélgica, mas que outras duas estão em vias de se concretizarem: uma para alguma nação da Polinésia, que ele não especificou, e outra para a Argentina.

Na mesma ocasião, ele foi questionado sobre as ofensas que já foram feitas por Milei. "Nas campanhas, são ditas coisas 'como piada', coisas para chamar a atenção", afirmou. "Há que distinguir entre o que um político diz na campanha e o que ele faz depois, ao tomar suas decisões."

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