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Quem é Fito, líder de facção que levou Equador a declarar estado de emergência

Chefe dos Choneros controlava e lucrava na prisão em Guayaquil da qual fugiu e onde cumpria pena de 34 anos

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BBC News Brasil

A fuga da prisão de Adolfo Macías, conhecido como Fito, levou o Equador a declarar situação de emergência no país todo. Ele é o líder da facção criminosa Los Choneros, considerada uma das mais perigosas do país, e essa não é a primeira vez que ele foge.

Adolfo Macias, mais conhecido como Fito, o líder dos Choneros, durante transferência de penitenciária, na última ocasião em que foi visto publicamente
Adolfo Macias, mais conhecido como Fito, o líder dos Choneros, durante transferência de penitenciária, na última ocasião em que foi visto publicamente - 12.ago.23/Divulgação Forças Armadas do Equador via AFP

Fito, 44, cumpria pena em uma prisão no litoral próximo de Guayaquil, a maior cidade do Equador, desde 2011. Ele foi condenado a 34 anos por crime organizado, narcotráfico e homicídio. Segundo a imprensa do país, Fito sumiu pouco antes de sua transferência para uma prisão de segurança máxima. Mais de 3.000 policiais foram deslocados para procurá-lo até nos telhados e nos esgotos da prisão.

A princípio, considerou-se a possibilidade de Fito ter se escondido dentro da própria prisão, que é controlada pelos Choneros. A facção tem raízes na Província de Manabí e tem fortes laços com o Cartel de Sinaloa, um dos maiores grupos criminosos do mundo e com base no México. Além de conflitos com outras facções do narcotráfico, Los Choneros são acusados de homicídios, roubos e extorsões.

As autoridades demoraram a reconhecer publicamente a fuga, mas subsequentes rebeliões em várias prisões no país tornaram o sumiço de Fito difícil de esconder.

Na segunda-feira (8), o recém-empossado presidente Daniel Noboa declarou estado de emergência de 60 dias no país devido à fuga de Fito e às rebeliões. Também foram relatados sequestros de policiais.

Nesta terça-feira (9), a invasão de um canal de televisão por criminosos armados chamou a atenção internacional para a situação de segurança pública no país. Ainda não está claro se os invasores são dos Choneros ou de outro grupo criminoso.

Após a tomada do canal de TV, o presidente declarou a existência de um "conflito armado interno" no país. "Ordenei às Forças Armadas que realizassem operações militares para neutralizar estes grupos", disse.

País procurado por criminosos

"O Equador tem desempenhado, já há algum tempo, um papel central no transporte de cocaína para os Estados Unidos e a Europa. Também faz fronteira com a Colômbia exatamente na área onde a folha de coca é produzida", diz à BBC Carolina Sampó, médica e pesquisadora do Conselho Nacional de Pesquisa Científica e Técnica da Argentina.

"Se somarmos a isso a fragilidade do Estado e a falta de recursos das instituições estatais, significa que o Equador infelizmente se tornou um espaço não só de trânsito, mas também de onde o crime opera." Segundo ela, o país se tornou "procurado" por organizações criminosas.

Como consequência, o Equador sofre há alguns anos com o aumento da violência, exacerbada pelas lutas com os carteis da Colômbia e do México.

Mais de uma fuga

Fito tornou-se o líder de Los Choneros depois da morte do líder anterior, Júnior Roldán, que havia saído da prisão. As autoridades afirmaram que a morte de Roldán ocorreu na Colômbia.

Esta não é a primeira vez que Adolfo Macías escapa da prisão. Junto com outros criminosos, ele já havia fugido em 2013, depois de cumprir apenas 2 anos de pena na prisão de segurança máxima conhecida como A Rocha, na cidade de Guayaquil.

Ele escapou navegando em um barco no rio Daule, que corre paralelo à prisão. Três meses se passaram até que as autoridades conseguissem capturá-lo e levá-lo de volta à instituição penitenciária.

Segundo o jornal local Primicias, o criminoso não só se formou em direito na prisão de Guayaquil, mas a partir de lá controlava suas operações de tráfico de drogas. Segundo o jornal, em maio de 2023 Fito tinha um patrimônio de mais de US$ 23 milhões (mais de R$ 112 mi). Sob a liderança de Macías, a quadrilha também é suspeita de manter um esquema de extorsão contra o restante dos presos.

Piscinas, festas e extorsão

Um dos presos que conviveu com Macías em uma prisão regional afirma que ele construiu piscinas em espaços dos pavilhões destinados ao banho de sol, organizava festas, gravava vídeos, dava coletivas de imprensa e usava drones armados.

"Os prisioneiros não têm escolha, têm que ser cúmplices", disse um homem ao Primicias, sob anonimato. "Eles nos ameaçam e ameaçam nossas famílias. Los Choneros cobram uma 'mensalidade' dos presos, sem contar as coisas que eles nos obrigam a comprar."

A última vez em que Fito foi visto publicamente foi no segundo semestre do ano passado, quando foi transferido temporariamente para outra prisão de segurança máxima em Guayaquil, após o assassinato do candidato presidencial Fernando Villavicencio.

Caos em prisões e tomada de canal de TV

Após a fuga de Fito, foram registradas rebeliões em pelo menos seis prisões no Equador, com relatos de que vários carcereiros foram feitos reféns por prisioneiros. Tudo isso levou o governo a declarar o estado de emergência.

Isto significa que a polícia poderá contar com o apoio das Forças Armadas na manutenção da ordem e da segurança, inclusive nas prisões. Além disso, foi imposto um toque de recolher para todas as cidades entre 23h e 5h.

O plano de segurança de Noboa inclui uma nova unidade de inteligência, armas táticas para aplicação da lei e segurança, e um plano para manter temporariamente prisioneiros perigosos em navios-prisão. Desde 2021, mais de 400 mortes foram relatadas nas prisões do Equador devido a confrontos entre gangues rivais.

Nesta terça-feira, um grupo de homens armados invadiu um estúdio de televisão e ameaçou funcionários que estavam transmitindo ao vivo. A programação da emissora TC, da cidade de Guayaquil, foi interrompida pelo grupo, que usava capuz e estava armado. Imagens mostram a equipe sendo forçada a se deitar no chão antes da transmissão ao vivo ser interrompida.


Esta reportagem foi publicada originalmente aqui.

Colaborou Cristina J. Orgaz

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