Descrição de chapéu América Latina drogas

Maior líder do tráfico do Equador foge da cadeia, e governo decreta estado de exceção

Fito, chefe dos Choneros, é apontado como um dos possíveis envolvidos no assassinato do presidenciável Villavicencio

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Quito | AFP

Fito, o líder da maior quadrilha de tráfico de drogas do Equador fugiu da prisão no domingo (7), informou o governo do do recém-empossado presidente Daniel Noboa nesta segunda-feira (8), no que se desenha como uma nova crise no sistema penitenciário local.

Durante a noite, Noboa anunciou que o país entraria em um novo estado de exceção para facilitar o trabalho das Forças Armadas. Ele afirmou que sua decisão vem em resposta às "tentativas dos grupos 'narcoterroristas' de nos amedrontar".

Adolfo Macias, mais conhecido como Fito, o líder dos Choneros, durante transferência de penitenciária, na última ocasião em que foi visto publicamente
Adolfo Macias, mais conhecido como Fito, o líder dos Choneros, durante transferência de penitenciária, na última ocasião em que foi visto publicamente - 12.ago.23/Divulgação Forças Armadas do Equador via AFP

As autoridades demoraram a reconhecer publicamente a fuga do criminoso. Mas já disseram que um efetivo de 3.000 agentes de segurança está nas ruas atrás do que descrevem como a busca urgente pelo "detento mais procurado".

Decretar estado de exceção tem se tornado uma prática corriqueira no Equador, na contramão do que prega o próprio nome dessa medida. Com ele, autoridades podem suspender o direito da chamada inviolabilidade das residências, da liberdade de trânsito no espaço público, de reuniões e de acesso à informação.

Um presidente pode fazer uso da medida sempre que houver uma agressão, um conflito armado ou uma grande comoção interna ou um desastre natural. Mas justamente por ser tão usado no Equador, normalmente mais de uma vez ao ano, a medida caiu em descrédito e virou alvo de críticas, em especial relacionadas a uma suposta militarização da sociedade.

O secretário de Comunicação, Roberto Izurieta, afirmou a uma TV local que "é muito provável" que tenha havido "infiltrações" na prisão poucas horas antes de uma operação que seria realizada ali. Teria sido naquele momento em que Adolfo Macías, 44, conhecido como Fito, escapou.

O Ministério Público abriu uma investigação sobre a fuga do chefe dos Choneros. O cartel é o mais temido do país sul-americano, e disputa rotas do tráfico de drogas com grupos com conexões com organizações do México e da Colômbia.

Fito, que estava preso na Penitenciária Regional de Guayaquil, com capacidade para cerca de 4.400 pessoas, cumpria desde 2011 uma pena de 34 anos por crime organizado, tráfico de drogas e assassinato.

Ele foi um dos principais nomes apontado nas investigações, ainda inconclusas, sobre o assassinato do candidato à Presidência Fernando Villavicencio, em agosto passado. Dias antes de ser morto a tiros durante um comício, o jornalista e deputado havia dito na rede X que estava sendo alvo de ameaças de Fito.

Esta é a segunda vez que Fito escapa da prisão. Em 2013, junto com outros presos, o traficante conseguiu burlar os controles do presídio de segurança máxima conhecido como La Roca, também em Guayaquil, mas foi recapturado após três meses.

Izurieta afirmou que "a força do Estado está em ação para encontrar esse sujeito extremamente perigoso". O próprio secretário lamentou que "o nível de infiltração" dos grupos criminosos no Estado seja "muito grande" e classificou o sistema penitenciário equatoriano de "falido".

A imprensa local relatou que, nesta segunda-feira, ocorreram incidentes preocupantes em várias prisões do país, e o sistema penitenciário confirmou que agentes foram feitos reféns em cinco centros de detenção.

Circularam nas redes sociais vídeos gravados em diferentes locais nos quais agentes penitenciários pedem para não ser mortos enquanto encapuzados os ameaçam com facas. Os reféns então leem um comunicado no qual pedem a Noboa que "não envie tropas para as prisões que sejam esquadrões da morte". "Estamos agora implorando para que sua ação seja mais cautelosa e, por favor, zele por nossas vidas, por nossa segurança."

Na Penitenciária Regional, onde Fito estava, caminhões com policiais e militares entraram e saíram no final de semana. Em um pátio, os detentos haviam escrito com pedras "papa Fito" (papai Fito). Em uma quadra esportiva do mesmo complexo, era possível ler "com Fito semeamos paz".

Um censo de 2022 afirmava que havia 31.321 detentos nos centros penitenciários do Equador naquele ano. Com o objetivo de separar os detentos mais perigosos, o presidente Noboa anunciou nesta segunda que construirá duas prisões de segurança máxima nas províncias de Pastaza e Santa Elena.

Fito foi visto pela última vez em setembro passado, quando foi temporariamente transferido para outra prisão de segurança máxima em Guayaquil após o assassinato de Villavicencio. Milhares de agentes o vigiavam, em uma das maiores operações militares e policiais realizadas no local pelo ex-presidente Guillermo Lasso.

O criminoso, que estudou na prisão para obter o título de advogado, desfrutava de privilégios. Mesmo dentro do presídio, ele protagonizou um videoclipe de um "narcocorrido" —subgênero musical mexicano que fala sobre questões ligadas ao narcotráfico, muitas vezes glorificando a prática— em sua homenagem, cantado por sua filha.

O vídeo de "El Corrido del León", do grupo identificado como Mariachi Bravo, mostrava o chefe dos Choneros com um chapéu e lendo um livro no pavilhão da prisão. De acordo com especialistas, os Choneros têm um contingente de pelo menos 8.000 homens.

A guerra pelo poder entre organizações do narcotráfico no Equador deixou mais de 460 presos mortos em massacres desde 2021. Os homicídios nas ruas aumentaram quase 800% entre 2018 e 2023, passando de 6 para 46 por cada 100 mil habitantes.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.