Túnel secreto em sinagoga de Nova York gera disputa entre judeus e leva a 9 prisões

Espaço subterrâneo foi construído por membros do movimento ultra-ortodoxo Lubavitch para expandir o local histórico

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Eliza Shapiro Katherine Rosman
Nova York | The New York Times

Uma briga de décadas sobre a direção de um dos grupos judaicos hassídicos mais proeminentes de Nova York se transformou em caos quando uma parcela do grupo entrou em confronto com a polícia local por causa de um túnel que havia sido secretamente construído até a sinagoga principal do movimento, um dos locais religiosos mais significativos da cidade americana.

O túnel, uma passagem entre a sede do grupo, o movimento Chabad-Lubavitcher, e pelo menos uma propriedade adjacente, foi descoberto no final do ano passado. Na última segunda-feira (8), um caminhão de cimento foi levado para preenchê-lo, mas alguns judeus hassídicos tentaram impedir a ação e preservá-lo.

Inspetores do Departamento de Edifícios de Nova York nos arredores da sinagoga onde o túnel foi construído
Inspetores do Departamento de Edifícios de Nova York nos arredores da sinagoga onde o túnel foi construído - Jonah Markowitz - 9.jan.24/The New York Times

A polícia foi chamada, e os agentes disseram que encontraram um grupo de homens quebrando uma parede do espaço de oração que levava ao túnel. Após um confronto, nove pessoas foram presas.

Motti Seligson, porta-voz dos Lubavitchers, descreveu aqueles que haviam criado o túnel como um grupo de "estudantes extremistas". "Isso é, obviamente, angustiante para o movimento Lubavitch e para a comunidade judaica em todo o mundo", disse ele.

O conflito ocorreu na altura do número 770 da Eastern Parkway, no Brooklyn, onde fica a sede global do movimento. O local é apelidado simplesmente de "o 770". Ainda não se sabe exatamente quem construiu o túnel, como eles fizeram isso ou o que esperavam alcançar.

Mas dois homens que disseram ter conversado com alguns daqueles que quebraram a parede da sinagoga disseram que o motivo era acelerar a expansão da sinagoga, uma medida que eles dizem que o líder do movimento Lubavitcher, o rabino Menachem Mendel Schneerson, conhecido como o "rebbe", pediu há mais de três décadas.

A expansão desejada faz parte de um conflito sobre o futuro do movimento que remonta há pelo menos 30 anos. O grupo hassídico tem lidado com uma disputa interna desde a morte do rebbe em 1994. Nenhum sucessor foi nomeado desde então.

A liderança informal dos Lubavitchers está comprometida em cumprir os ensinamentos e a visão do rebbe. Mas uma facção menor dentro do movimento afirma que o rebbe é, na verdade, o Messias, e alguns desse grupo acreditam que ele nunca morreu de fato. Disputas legais sobre o papel do 770, incluindo se uma placa em um prédio adjacente poderia se referir ao rebbe como falecido, arrastam-se há anos.

Membros da comunidade hassídica indicaram que um grupo de estudantes messiânicos provavelmente foi responsável pela construção do túnel, que eles acreditam ser uma forma de respeitar o rebbe Lubavitcher, a quem se referem no presente. "Eles fizeram isso para expandir o 770 e torná-lo maior", disse um homem que se identificou como Zalmy Grossman e disse conhecer alguns dos presos. "Eles vieram para cumprir os desejos do rebbe."

Omri Rahamim Bahar, 22, estuda no 770 desde que chegou a Nova York vindo de Israel há quatro anos. Ele disse que outros membros da comunidade ficaram frustrados com a inação dos líderes em expandir o prédio para lidar com a lotação durante os cultos. Então, alguns começaram a tomar medidas por conta própria, em parte criando um túnel de um prédio adjacente que leva à parede do santuário.

Após a chegada do caminhão de cimento na última segunda-feira, alguns dos homens decidiram invadir o santuário de dentro do túnel. Um vídeo mostrou pelo menos um homem emergindo do túnel coberto de poeira, sob aplausos dos apoiadores.

Capa do New York Post mostra homem saindo do túnel - Reprodução

"Claro que é difícil e não é bom ver a parede principal do santuário com um buraco, mas sei que não há outra maneira", disse Bahar.

Vídeos feitos na segunda-feira de dentro do prédio mostraram cenas tumultuadas, com a maioria dos jovens judeus hassídicos sentados no túnel, aparentemente tentando impedir que ele fosse preenchido.

Vídeos e fotos também mostraram alguns homens arrancando painéis de madeira das paredes e grupos usando bancos grandes para impedir a polícia de intervir e, depois, entrando em confronto com os policiais, antes que um policial parecesse usar algum tipo de spray para dispersar a multidão.

A notícia do caos se espalhou rapidamente nas redes sociais e se transformou em uma proliferação de postagens antissemitas nas redes sociais, em particular no X.

Um porta-voz do Departamento de Edifícios da cidade disse que os inspetores ainda estavam no local em 770 na terça-feira (9) à noite e estavam investigando a integridade estrutural do prédio após os danos.

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