Chefe da diplomacia da UE diz que Otan não é aliança 'à la carte' após ameaça de Trump

Ex-presidente dos EUA disse em discurso de campanha que interromperia proteção a países inadimplentes da organização

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Bruxelas | AFP

Após o ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump ameaçar em discurso de campanha interromper a proteção a países da Otan que estão inadimplentes com gastos de defesa, o chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, afirmou nesta segunda-feira (12) que a aliança militar não pode "depender do estado de espírito" de Washington.

"Sejamos sérios: a Otan não pode ser uma aliança 'à la carte'", disse o diplomata espanhol antes de entrar em uma reunião dos ministros da Cooperação e Desenvolvimento da UE, em Bruxelas. Ele acrescentou que a organização "não pode ser uma aliança que funcione dependendo do humor do presidente dos EUA".

O diplomata Josep Borrell chega a reunião do Conselho Europeu em Bruxelas
O diplomata Josep Borrell chega a reunião do Conselho Europeu em Bruxelas - John Thys - 1º.fev.24/AFP

"[A Otan] existe ou não existe, mas não vou perder tempo comentando qualquer ideia tola que surja durante esta campanha nos EUA", emendou.

No sábado, o ex-presidente e provável candidato republicano à Casa Branca causou reação ao afirmar que, se eleito novamente, não defenderia os países da aliança militar que estão atrasados nos seus pagamentos. Trump foi ainda mais longe e afirmou que encorajaria a Rússia a fazer "o que diabos eles quisessem" com esses Estados.

Aparentemente relembrando uma reunião com líderes da aliança, ele mencionou o presidente de "um grande país", sem especificar qual, que o teria questionado sobre o apoio de Washington em caso de uma agressão russa. "Se não pagarmos e formos atacados pela Rússia, você nos protegerá?", teria perguntado o líder, segundo Trump.

"Eu disse: 'Vocês não pagaram? Vocês estão inadimplentes?' Ele disse: 'Sim, digamos que isso aconteceu.' Não, eu não os protegeria. Na verdade, eu os encorajaria [os russos] a fazer o que diabos quisessem. Vocês têm de pagar", afirmou o republicano.

Os comentários foram feitos no último sábado (10) durante um comício de campanha na Carolina do Sul e evidenciam o risco de fratura no pacto militar da aliança caso Trump ganhe um novo mandato na Casa Branca. As falas levaram a uma onda de respostas de representantes do Ocidente ao longo do domingo (11).

As declarações ainda são um sinal de que, caso eleito presidente novamente, Trump pode ameaçar o compromisso com a defesa mútua que está no cerne da aliança da Otan, num momento em que os temores em relação à Rússia aumentaram após a guerra contra a Ucrânia.

O tratado da Otan contém uma cláusula que garante a defesa mútua dos estados membros se um deles for atacado. Trump tinha relações próximas com o presidente russo, Vladimir Putin, e foi um crítico ferrenho da aliança militar ocidental quando era presidente, ameaçando repetidamente sair da aliança.

Ele diminuiu o financiamento de defesa para a Otan e frequentemente reclamava que os EUA estavam pagando mais do que sua parcela justa.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.