Trump ameaça não proteger aliados da Otan inadimplentes com gastos de defesa

Ex-presidente disse ter alertado membros da aliança de que encorajaria russos a fazer 'o que diabos eles quisessem'

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Washington | Reuters e AFP

O ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump indicou que, caso eleito, não protegerá os aliados da Otan, a aliança militar ocidental, de uma possível invasão da Rússia se os países atrasarem pagamentos ou não cumprirem as metas de gastos estabelecidas para a área da defesa.

O republicano disse ter alertado os membros da Otan de que encorajaria os russos a fazer "o que diabos eles quisessem" se os integrantes da aliança não atingirem os números estabelecidos.

Homem idoso de terno escuro, camisa branca e gravata vermelha está de pé em um palco, com público ao fundo, e aponta com o dedo
O ex-presidente Donald Trump, candidato à presidência dos EUA na eleição de novembro, participa de evento de campanha na Carolina do Sul. - Julia Nikhinson/AFP

Os comentários foram feitos no último sábado (10) durante um comício de campanha na Carolina do Sul e evidenciam o risco de fratura no pacto militar da aliança caso Trump ganhe um novo mandato na Casa Branca. As falas levaram a uma onda de respostas de representantes do Ocidente ao longo do domingo (11).

O ex-presidente, que há muito tempo critica a Otan e que tinha relações próximas com o presidente russo, Vladimir Putin, disse a apoiadores que a aliança "estava quebrada" até ele assumir a Presidência, em 2017.

Aparentemente relembrando uma reunião com líderes da aliança, ele mencionou o presidente de "um grande país", sem especificar qual, que o teria questionado sobre o apoio de Washington em caso de uma agressão russa. "Se não pagarmos e formos atacados pela Rússia, você nos protegerá?", teria perguntado o líder, segundo Trump.

"Eu disse: 'Vocês não pagaram? Vocês estão inadimplentes?' Ele disse: 'Sim, digamos que isso aconteceu.' Não, eu não os protegeria. Na verdade, eu os encorajaria [os russos] a fazer o que diabos quisessem. Vocês têm de pagar", afirmou o republicano.

O governo do atual presidente, Joe Biden, rechaçou os comentários feitos por Trump, descrevendo-os como "chocantes e desequilibrados". Um porta-voz da Casa Branca disse que "encorajar invasões de regimes assassinos" a países aliados de Washington coloca em perigo a economia e a segurança americana, além da estabilidade global.

O secretário-geral da Otan, o norueguês Jens Stoltenberg, disse em comunicado que "qualquer sugestão de que os aliados não se defenderão mutuamente mina toda a nossa segurança, incluindo a dos EUA, e coloca os soldados americanos e europeus em risco acrescido". "Qualquer ataque à Otan será recebido com uma resposta unida e contundente", acrescentou.

Já o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, afirmou que as "declarações imprudentes sobre a segurança da Otan servem apenas ao interesse de [Vladimir] Putin".

Os comentários de Trump são um sinal de que, caso eleito presidente novamente, ele pode ameaçar o compromisso com a defesa mútua que está no cerne da aliança da Otan, num momento em que os temores em relação à Rússia aumentaram após a guerra contra a Ucrânia.

Recentemente, o ex-presidente pressionou o Congresso americano para se opor à aprovação de novos pacotes de ajuda a Kiev.

O tratado da Otan contém uma cláusula que garante a defesa mútua dos estados membros se um deles for atacado. Trump, favorito à indicação presidencial republicana, foi um crítico ferrenho da aliança militar ocidental quando era presidente, ameaçando repetidamente sair da aliança.

Ele diminuiu o financiamento de defesa para a Otan e frequentemente reclamava que os EUA estavam pagando mais do que sua parcela justa.

Sobre a guerra da Rússia na Ucrânia, Trump pediu a desescalada e reclamou dos bilhões gastos até agora. Desde a invasão em larga escala de Moscou em fevereiro de 2022, a ajuda dos EUA à Ucrânia totalizou cerca de US$ 75 bilhões, enquanto outros membros da Otan e estados parceiros combinados forneceram mais de US$ 100 bilhões.

Os 31 membros da Otan, sendo o mais recente deles a Finlândia, concordaram com o objetivo de gastar ao menos 2% de seus respectivos PIBs (Produto Interno Bruto) com defesa, mas as estimativas da aliança revelam que apenas 11 dos países-membros gastam o correspondente a esse montante.

As declarações do republicano ocorrem em um momento no qual nações que compõem a Otan não escondem o temor de que Moscou conduza alguma ação militar contra seus territórios.

Em recente entrevista a Tucker Carlson, ex-apresentador da conservadora Fox News, Putin afirmou que a Rússia não tem interesse em atacar qualquer nação do flanco oriental da Otan. "Não temos interesse na Polônia ou na Letônia ou em qualquer outro lugar", disse ele, que caracterizou as falas ocidentais de "alarmismo".

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