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Chilenos cantam hino e jogam flores em caixão de Sebastián Piñera

Apoiadores fizeram fila para se despedir de ex-presidente morto em acidente de helicóptero

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Santiago

Sob um calor de 33ºC, a bandeira do Chile virou toldo em meio à muvuca que tentava impedir os fura-filas. "Viemos nos despedir de um presidente democrático, estamos todos a favor do diálogo", gritava em tom de brincadeira a chilena Nubia Serrano, 56.

Caixão com o corpo de Sebastián Piñera no antigo palácio do Congresso Nacional, em Santiago
Caixão com o corpo de Sebastián Piñera no antigo palácio do Congresso Nacional, em Santiago - Rodrigo Arangua/AFP

A espera era para dar tchau a Sebastián Piñera, ex-presidente de direita que liderou o país duas vezes —de 2010 a 2014 e de 2018 a 2022. Ele morreu afogado nesta terça-feira (6), aos 74 anos, após o helicóptero que pilotava cair num lago na região de Los Ríos, no centro-sul chileno.

"Eu acho que ele está vendo a gente e está feliz", dizia Nubia enquanto esperava para ver o caixão no antigo palácio do Congresso Nacional, em Santiago.

Nubia Serrano, 56, foi ao velório do ex-presidente Sebastián Piñera em Santiago - Júlia Barbon/Folhapress

A família decidiu abrir as portas do velório à população na tarde desta quarta (6), e logo depois uma missa foi realizada com a presença de seis ministros da gestão atual de Gabriel Boric, que declarou luto nacional por três dias. A expectativa é que o velório aberto seja estendido até esta quinta (8).

Já na sexta (9), Piñera será transportado em cortejo até o palácio do governo La Moneda, onde será homenageado pelo atual presidente e depois conduzido até a Catedral de Santiago para uma missa fúnebre. O enterro então acontecerá no cemitério Parque del Recuerdo, na zona norte de Santiago.

Uma fileira de gente estacionou o carro na estrada, acumulou-se em pontes ou foi às ruas no entorno do palácio para ver o cortejo que levou o caixão do aeroporto até o centro da cidade. Eles receberam o carro balançando panos brancos, cantando o hino nacional e jogando pétalas vermelhas e brancas.

Dentro do Congresso, os apoiadores passavam por poucos segundos em volta do caixão, onde estavam membros da família. Era possível ver o rosto e o busto de Piñera, vestido com a faixa presidencial azul, branca e vermelha, mas não foi permitido fazer imagens.

No fim da tarde, a fila dava uma volta no quarteirão. As pessoas cantavam "Piñera, amigo, o povo está contigo" e "se sente, se sente, Piñera presidente" enquanto sustentavam bandeiras e broches vendidos com o rosto do político, que era considerado um líder relevante da direita chilena.

Entre elas estava Nubia, que exaltou a capacidade de diálogo do ex-presidente durante o "estalido social" que enfrentou em 2019, com massivos e violentos protestos contra a desigualdade social e o alto custo de vida no país. "Ontem adormeci enquanto chorava", contou, levando uma foto de Piñera e outra do papa João Paulo 2º (1920-2005) atadas com clipes no bolso da camisa.

A engenheira Verónica Espíndola, 50, adiou a viagem de volta para casa no interior para ver o velório. "Vim me despedir de um grande presidente, que é muito inteligente, que fez muitas coisas pelo Chile. As pessoas destacam muitas coisas que ele fez na pandemia. Mas foi o melhor presidente que o Chile teve nos últimos anos, e sempre", defendeu.

Já a advogada colombiana Milena Gomez, 41, que mora no Chile há oito anos, elogiou o diálogo que o ex-líder teve com o ex-presidente de seu país, Iván Duque (2018-2022). "Ele ajudou muito a nós trabalhadores que chegamos nessa época, sem tanta burocracia. Foi um estadista", afirmou.

Milena Gomez, 41, advogada chilena que mora no Chile há oito anos - Júlia Barbon/Folhapress

Os familiares de Piñera fizeram uma cerimônia privada horas antes, ainda na base aérea, na qual Boric cumprimentou e conversou por alguns minutos com a ex-primeira-dama Cecilia Morel.

Nesta quarta, a autópsia feita no corpo indicou que ele morreu por asfixia devido à submersão no lago. "Pulem vocês primeiro, porque, se eu pular junto, o helicóptero vai cair em cima de todos nós", ele teria dito aos outros três passageiros, que conseguiram escapar e chegar até a margem.

Estavam no helicóptero a irmã do ex-presidente, Magdalena, seu amigo Ignacio Guerrero e o filho dele, Bautista.

Piñera assumiu o governo chileno pela primeira vez em 11 de março de 2010, poucos dias depois de um terremoto que matou mais de 500 pessoas e foi o mais intenso do país desde 1960. Agora, morre em meio a outra tragédia, a pior desde o tremor de 14 anos atrás: os incêndios que assolam a região de Valparaíso e deixaram ao menos 131 vítimas.

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