Como Trump isolou Nikki Haley na Carolina do Sul para triunfar em primárias

Ex-presidente criou extensa rede de apoio para criar embaraços contra a última adversária dentro do Partido Republicano

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Tim Reid Gram Slaterry Nathan Layne
Reuters

A vitória de Donald Trump contra Nikki Haley nas primárias da Carolina do Sul, estado de origem da republicana, neste sábado (24), contou com ações metódicas para isolá-la e eliminar a ameaça que a candidatura dela representava, de acordo com assessores e pessoas próximas às duas campanhas.

Apesar de vitórias amplas nas primárias de Iowa, New Hampshire e Nevada, era crucial para Trump levar a prévia na Carolina do Sul, um estado-chave que com frequência prevê o candidato indicado pelo Partido Republicano à eleição presidencial dos Estados Unidos. Ao contrário de em 2016, Trump enfrentava uma rival eleita duas vezes para governar o estado, onde ela ainda é popular.

O plano era isolar Haley politicamente ao garantir o apoio de dezenas de autoridades locais o mais rápido possível e, com isso, demonstrar publicamente que ela não tinha como alavancar seu caminho para a Presidência através da Carolina do Sul, disseram assessores com conhecimento da estratégia de Trump.

O ex-presidente Donald Trump cumprimenta o governador da Carolina do Sul, Henry McMaster, durante as primárias no estado
O ex-presidente Donald Trump cumprimenta o governador da Carolina do Sul, Henry McMaster, durante as primárias no estado - Win McNamee - 24.fev.2024/Getty Images via AFP

A vitória do ex-presidente no sábado não foi esmagadora, mas ele ainda teve como margem confortáveis 20 pontos percentuais. "Estávamos enfrentando uma governadora de dois mandatos. Isso exigiu uma demonstração de força. Precisávamos de apoios para impedir que doadores e eleitores olhassem para Nikki", disse um assessor sênior da campanha de Trump à Reuters sob condição de anonimato.

Chris LaCivita, um dos gerentes da campanha de Trump, afirmou que o endosso vindo de figuras conhecidas da Carolina do Sul desempenhou um papel crítico para sufocar a concorrência no estado.

Segundo ele, outra parte crucial do sucesso de Trump foi colher dados sobre os milhares de eleitores que compareceram aos comícios do ex-presidente. "É aí que o trabalho real no estado começa, depois que vamos embora", disse.

Em discreto condomínio de escritórios na cidade de North Charleston, a equipe da campanha do republicano tem trabalhado há meses para usar os dados de apoiadores com o intuito de se comunicar regularmente com os eleitores em potencial. Trump usou um plano semelhante para vencer em Iowa e New Hampshire.

Até dezembro, Haley ainda dizia publicamente que a Carolina do Sul era onde finalmente venceria Trump e mudaria o rumo da disputa pela indicação do partido. Em vez disso, pode ser lembrado como o estado onde sua campanha sofreu o golpe fatal —ela afirma seguir na disputa ao menos até a Super Terça, dia que concentra várias prévias estaduais, em 5 de março.

No dia 24 de janeiro, um mês antes da disputa na Carolina do Sul, Trump havia reunido o apoio de 158 autoridades republicanas do estado, incluindo legisladores, prefeitos e xerifes, em exercício ou de mandatos anteriores. Haley havia recebido apoio de 1 deputado federal, 11 legisladores estaduais e 2 prefeitos.

"Essa série de endossos a Trump importa. O número é absolutamente constrangedor para Nikki Haley", disse LaCivita. "Se você tem o chefe de polícia local ou um membro da Câmara municipal discursando a favor de Trump em um churrasco ou em uma reunião na cidade, isso é um fator multiplicador dos nossos esforços com a base eleitoral."

Trump empregou táticas semelhantes para tentar forçar o governador da Flórida, Ron DeSantis, a sair da corrida. O ex-presidente destacou durante a campanha sua vantagem esmagadora em número de apoios na Flórida para alimentar o discurso de que ele era o favorito absoluto para vencer a indicação. DeSantis encerrou sua campanha em janeiro.

Liderando este trabalho na Carolina do Sul estava o atual governador do estado, Henry McMaster; Ed McMullen, ex-embaixador dos EUA na Suíça e veterano da política estadual; e Justin Evans, um agente da política local que comandou a primeira campanha política de Haley, em 2010.

McMullen disse que ele e aliados que endossaram o ex-presidente começaram a esboçar um plano para garantir o domínio do empresário no estado já em junho de 2022, meses antes de Trump anunciar oficialmente a candidatura, em novembro daquele ano. Haley declarou sua candidatura em fevereiro de 2023.

Os contatos com membros da Câmara e do Senado estaduais começaram logo em maio de 2023. Legisladores relutantes em apoiar Trump foram convidados para reuniões particulares com ele em visitas do republicano ao estado.

Haley chegou a afirmar que não se incomodava com os numerosos endossos que Trump recebeu, embora aliados dela tenham mencionado traição e abandono ao se referirem aos apoios públicos ao rival.

Um endosso muito procurado por Trump foi o de Tim Scott, senador pelo estado em Washington e rival nas primárias republicanas —ele desistiu da corrida em novembro do ano passado.

Scott foi nomeado para o cargo no Senado em 2013 por Haley quando ela era governadora. Por isso, garanti-lo a seu lado em comícios foi uma grande jogada de Trump, segundo doadores e agentes das duas campanhas.

Uma pessoa próxima do empresário afirma que ele ligou para Scott logo após a desistência do rival da corrida, enquanto aliados de Trump ainda discutiam sobre um eventual endosso do senador.

Uma pessoa próxima a Haley diz que ela trocou mensagens de texto com Scott depois da desistência, mas nunca discutiu de fato um apoio. Não está claro por que eles nunca falaram diretamente sobre o assunto, mas o relacionamento entre Scott e Haley se deteriorou ao longo de uma campanha durante a qual ambos se alfinetaram diversas vezes, segundo essa pessoa.

Em um comício em New Hampshire no dia 19 de janeiro, quatro dias antes da eleição primária naquele estado, Scott endossou Trump.

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