Hamas propõe trégua de mais de 4 meses em Gaza com retirada das tropas de Israel

Tel Aviv não respondeu imediatamente, mas tem defendido a continuidade da guerra até a aniquilação do grupo terrorista

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Samia Nakhoul Andrew Mills
Riad | Reuters

O Hamas propôs um plano de cessar-fogo que condiciona a interrupção dos combates em Gaza por quatro meses e meio à libertação de todos os reféns e a um acordo para o fim da guerra.

A proposta do grupo terrorista —uma resposta a uma oferta enviada na semana passada por mediadores do Qatar e do Egito e aprovada por Israel e Estados Unidos— ocorreu durante o maior esforço diplomático até agora por uma interrupção prolongada dos combates.

Não houve retorno imediato de Tel Aviv, que, publicamente, defende a continuidade da guerra até que o Hamas seja eliminado.

Mesquita destruída por ataques israelenses durante guerra - Mohammed Salem - 29.nov.2023/Reuters

A ideia é implementar três fases de trégua, cada uma com duração de 45 dias. O acordo incluiria a troca de corpos e restos mortais, a devolução de reféns israelenses como contrapartida à libertação de prisioneiros palestinos, a reconstrução de Gaza e a retirada das forças israelenses.

O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, chegou durante a noite em Israel depois de se reunir com líderes do Qatar e do Egito, países mediadores do acordo.

Uma fonte com conhecimento das negociações disse que a contraproposta do Hamas não exigia uma garantia de cessar-fogo permanente no início, mas o fim do conflito teria que ser combinado durante a trégua e antes que os reféns finais fossem libertados.

Ezzat El-Reshiq, membro do escritório político do Hamas, confirmou que a proposta foi transmitida via Qatar e Egito para Israel e EUA.

"Estávamos ansiosos para lidar com isso com um espírito positivo para interromper a agressão contra nosso povo palestino e garantir um cessar-fogo completo e duradouro, além de fornecer alívio, ajuda, abrigo e reconstrução", disse ele à agência de notícias Reuters.

De acordo com o documento, na primeira fase de 45 dias todas as mulheres, homens menores de 19 anos, idosos e doentes que foram feitos de reféns pelo Hamas seriam devolvidos em troca da libertação de mulheres e crianças palestinas das prisões de Israel. Tel Aviv também retiraria tropas de áreas povoadas.

A implementação da segunda fase não começaria até que as partes concluíssem "negociações indiretas sobre os requisitos necessários para encerrar as operações militares mútuas e retornar à calma completa".

A segunda fase incluiria a libertação dos homens capturados pelo grupo palestino e "a retirada das forças israelenses de todas as áreas da Faixa de Gaza".

Corpos e restos mortais seriam trocados durante a terceira fase. A trégua também aumentaria o fluxo de alimentos e outras ajudas aos civis de Gaza, que enfrentam fome e escassez grave de suprimentos básicos em um cenário de grave crise humanitária devido ao cerco de Israel.

"As pessoas estão otimistas enquanto rezam para que essa esperança se transforme em um acordo real que ponha fim à guerra", diz à Reuters Yamen Hamad, pai de quatro filhos e abrigado em uma escola da ONU em Deir Al-Balah, no centro de Gaza.

Em Rafah, onde metade dos 2,3 milhões de habitantes do território palestino está encurralada contra a cerca de fronteira com o Egito, corpos de 10 pessoas mortas por ataques israelenses durante a noite foram colocados em um necrotério de hospital. Pelo menos dois dos pacotes cobertos eram do tamanho de crianças pequenas. Parentes choravam ao lado dos mortos.

"Cada visita de Blinken só piora as coisas em vez de acalmar as coisas. Recebemos mais ataques, mais bombardeios. E os EUA são o principal participante e chefe da guerra contra o povo palestino", disse o enlutado Mohammad Abundi.

Israel iniciou sua ofensiva militar depois que um ataque do Hamas no sul de Israel matou 1.200 pessoas e fez 253 reféns. O Ministério da Saúde de Gaza afirma que pelo menos 27.585 palestinos morreram com a ofensiva de Israel, incluindo milhares de crianças. Até agora, houve apenas uma trégua no conflito, no final de novembro, que durou uma semana.

Nesta quarta, durante uma homenagem nacional aos 42 franceses assassinados na incursão do Hamas a Israel, o presidente da França, Emmanuel Macron, afirmou que os ataques foram o "maior massacre antissemita do nosso século".

"A madrugada do último 7 de outubro emergiu o indizível das profundezas da história", declarou o político a familiares das vítimas no Palácio dos Inválidos, em Paris. "O Hamas lançou de surpresa um ataque maciço e odioso, o maior massacre antissemita de nosso século."

Blinken deve discutir a contraproposta do Hamas com o primeiro-ministro israelense Binyamin Netanyahu nesta quarta-feira (7).

O premiê está sob pressão crescente dos membros de extrema-direita de seu governo de coalizão e das famílias de reféns. Os primeiros ameaçam renunciar caso seja aprovado um acordo que não consiga erradicar o Hamas, enquanto os segundos exigem uma negociação para trazer seus entes queridos para casa.

Washington tem apresentado o acordo como parte dos planos para uma resolução mais ampla do conflito no Oriente Médio, que levaria eventualmente à reconciliação entre Israel e os vizinhos árabes e à criação de um estado palestino.

"Trabalharemos o mais duro possível para tentar obter um acordo e avançar", disse Blinken em uma coletiva de imprensa em Doha, capital do Qatar, na terça-feira (6).

Netanyahu rejeita a ideia de criar um Estado palestino, o que a Arábia Saudita considera um requisito para qualquer possibilidade de normalização das relações com Israel. O país árabe é o principal trunfo na busca de Israel pela aceitação dos vizinhos do Oriente Médio.

Nesta quarta, o Ministério das Relações Exteriores da Arábia Saudita informou aos EUA que não abrirá relações diplomáticas com Israel sem um Estado palestino.

Riad reiterou seu apelo aos membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU que ainda não reconheceram um Estado palestino a partir das fronteiras desenhadas em 1967, com Jerusalém Oriental como sua capital, para fazê-lo. A área inclui territórios ocupados por Tel Aviv na guerra de 1967 —a Cisjordânia e a Faixa de Gaza.

O país arábe acrescentou que os ataques israelenses contra a Faixa de Gaza também devem ser interrompidos e as forças israelenses devem se retirar do território.

O impulso diplomático ocorre em meio a intensos combates em Gaza. Israel tenta capturar a principal cidade no sul do enclave, Khan Yunis, enquanto vê combates ressurgirem em áreas do norte que dizia ter dominado meses atrás.

Na semana passada, Tel Aviv disse que planeja invadir Rafah, causando alarme entre organizações internacionais. As entidades lembram que um ataque ao último refúgio de Gaza causaria uma catástrofe humanitária para mais de um milhão de pessoas deslocadas.

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