Descrição de chapéu The New York Times China

Medo e ambição impulsionam arsenal nuclear da China sob Xi

Líder expande capacidade atômica do país como nenhum outro em meio a tensões com os Estados Unidos

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Chris Buckley
Taipé | The New York Times

Dezenove dias após assumir o poder na China, Xi Jinping convocou os generais responsáveis pelo arsenal nuclear do país e fez uma demanda direta: a China precisava estar pronta para um possível confronto com um adversário formidável.

Segundo um resumo interno oficial de seu discurso em dezembro de 2012 para o braço nuclear e de mísseis convencionais da China, então chamado de 2º Corpo de Artilharia, verificado pelo The New York Times, Xi disse aos generais que a força era um "pilar de nosso status de grande potência". Eles devem, segundo o líder chinês, avançar "planos estratégicos para responder nas condições mais complicadas e difíceis à intervenção militar de um inimigo poderoso".

Publicamente, os comentários de Xi sobre questões nucleares têm sido escassos. Mas seus comentários a portas fechadas, revelados no discurso, mostram que a ansiedade e a ambição impulsionaram a aceleração da construção do arsenal nuclear da China na última década.

Jatos chineses em exercício militar em abril de 2018
Jatos chineses em exercício militar em abril de 2018 - abr.2018/AFP

Desde os primeiros dias, o dirigente chinês sinalizou que uma força nuclear robusta era necessária para marcar a ascensão da China como uma grande potência. Ele também refletiu o medo de que as armas nucleares relativamente modestas de Pequim pudessem ser vulneráveis aos Estados Unidos —o "inimigo poderoso"— com seu arco de aliados asiáticos.

Agora, com as opções nucleares da China mais sólidas, seus estrategistas militares veem as armas nucleares não apenas como um escudo defensivo, mas como uma espada em potencial para intimidar e subjugar rivais. Mesmo sem disparar uma arma nuclear, a China poderia mobilizar ou exibir seus mísseis, bombardeiros e submarinos para alertar outros países sobre os riscos de escalada para a beira do abismo.

"Uma capacidade poderosa de dissuasão estratégica pode forçar o inimigo a recuar de ações precipitadas, subjugando-os sem entrar em guerra", escreveu Chen Jiaqi, pesquisador da Universidade Nacional de Defesa da China, em um artigo de 2021. "Quem dominar tecnologias mais avançadas e desenvolver armas de dissuasão estratégica que possam deixar os outros para trás terá uma voz poderosa em tempos de paz e terá a iniciativa em tempos de guerra".

Este texto se baseia nos discursos internos de Xi e dezenas de relatórios e estudos do Exército de Libertação do Povo, as Forças Armadas chinesas, para traçar as motivações da acumulação de poderio atômico da China. Alguns foram citados em estudos recentes sobre a postura nuclear de Pequim; outros não foram mencionados antes.

Xi expandiu o arsenal atômico do país mais rapidamente do que qualquer outro líder chinês, aproximando seu país do nível dos Estados Unidos e da Rússia. Ele dobrou o tamanho do arsenal da China para cerca de 500 ogivas e, nesse ritmo, até 2035, poderia ter cerca de 1.500 delas —aproximadamente o mesmo número de dispositivos operacionais de EUA e Rússia atualmente, segundo autoridades americanas. (Os EUA e a Rússia têm milhares de ogivas a mais armazenadas).

A China também está desenvolvendo uma variedade cada vez mais sofisticada de mísseis, submarinos, bombardeiros e veículos hipersônicos capazes de realizar ataques nucleares. Ela atualizou seu local de testes nucleares em sua região de Xinjiang, no extremo oeste, abrindo caminho para possíveis novos testes subterrâneos.

Uma grande mudança na força atômica e na doutrina da China poderia complicar profundamente sua competição com os Estados Unidos. A expansão de Pequim já provocou intenso debate em Washington sobre como responder a isso, e lançou maiores dúvidas sobre o futuro dos principais tratados de controle de armas —tudo isso enquanto o antagonismo entre EUA e Rússia também levanta a perspectiva de uma nova era de rivalidade nuclear.

Xi e o presidente dos EUA, Joe Biden, tentaram acalmar as tensões desde o ano passado, mas encontrar estabilidade nuclear pode ser difícil se a China permanecer fora dos principais tratados de controle de armas enquanto os EUA enfrentam tanto Pequim quanto Moscou.

As crescentes opções nucleares da China podem moldar o futuro de Taiwan —ilha que Pequim vê como província rebelde e que depende dos EUA para segurança. Nos próximos anos, o regime comunista pode ganhar confiança de que pode limitar a intervenção dos EUA e de seus aliados em qualquer conflito.

Desde que a China testou sua primeira bomba atômica em 1964, seus líderes disseram que nunca seriam "os primeiros a usar armas nucleares" em uma guerra. Eles argumentavam que a China precisava apenas de um conjunto relativamente modesto de armas nucleares para ameaçar de forma crível potenciais adversários.

"A longo prazo, as armas nucleares da China são apenas simbólicas", disse em 1983 Deng Xiaoping, líder chinês morto em 1997, explicando a posição da China ao primeiro-ministro canadense Pierre Trudeau (pai do atual premiê, Justin Trudeau). "Se a China gastasse muita energia com elas, nos enfraqueceríamos".

Mesmo enquanto Pequim modernizava suas forças convencionais a partir da década de 1990, seu arsenal nuclear crescia. Quando Xi assumiu o cargo em 2012, o país tinha cerca de 60 mísseis balísticos intercontinentais capazes de atingir os Estados Unidos.

A China já estava desafiando cada vez mais seus vizinhos em disputas territoriais e via perigo nos esforços da administração Obama para fortalecer o poder dos EUA na Ásia e no oceano Pacífico. Em um discurso no final de 2012, Xi alertou seus comandantes de que os Estados Unidos estavam "intensificando o cerco estratégico e o cerco ao nosso redor".

Os dirigentes chineses também estavam preocupados com o enfraquecimento de seu poder de dissuasão atômica. Analistas militares chineses alertaram que os mísseis do Exército de Libertação do Povo estavam se tornando mais vulneráveis à detecção e destruição à medida que os Estados Unidos avançavam em tecnologia militar.

"Devemos ter armas afiadas para nos proteger e maças assassinas que os outros temerão", disse Xi a oficiais de armamentos do Exército no final de 2014.

No fim de 2015, ele deu um grande passo para modernizar a força nuclear. Em seu uniforme verde como chefe do Exército chinês, ele presidiu uma cerimônia em que o 2º Corpo de Artilharia renasceu como a Força de Foguetes, elevada a um força com estatuto semelhante ao do Exército, da Marinha e da Força Aérea.

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