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ONGs denunciam prisão de ativista na Venezuela e novo desaparecimento forçado

Rocío San Miguel, especialista em Forças Armadas, há 20 anos luta contra perseguição política do regime local

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Organizações de direitos humanos da Venezuela denunciam neste domingo (11) a detenção da renomada ativista Rocío San Miguel, 57, especializada em questões militares, quando tentava deixar o país no Aeroporto Internacional Simón Bolívar, em Maiquetía.

A venezuelana Rocío San Miguel - Divulgação Provea

O regime de Nicolás Maduro demorou mais de dois dias para comentar a prisão, e não se sabe o paradeiro da especialista que também possui nacionalidade espanhola e mais de uma vez foi acusada pela ditadura de tramar contra o regime. Ela foi presa na noite de sexta (9).

A ausência de notícias fez outros renomados especialistas afirmarem que o caso da diretora da ONG Control Ciudadano (controle cidadão), que analisa as ações das Forças Armadas, pode configurar mais um episódio de desaparecimento forçado no país.

A prática vem se tornando corriqueira e já foi denunciada, entre outros, pelo Alto Comissariado da ONU para Direitos Humanos.

Na noite deste domingo, o Ministério Público venezuelano, por meio do procurador-geral Tarek William Saab, afirmou que San Miguel é acusada de vinculação com o caso "Brazalete Blanco", um suposto plano para matar Maduro e outras altas autoridades.

Não foram apresentadas provas.

"O desaparecimento forçado constitui uma múltipla violação dos direitos humanos, coloca as vítimas em uma situação de desamparo e seus familiares, na de incerteza, um tratamento cruel", disse a ONG Provea (Programa de Educação em Direitos Humanos).

"Mas, lamentavelmente, o desaparecimento forçado se tornou uma prática recorrente no amplo repertório repressivo das autoridades da Venezuela, executada com o objetivo de silenciar as críticas", seguiu.

San Miguel se tornou conhecida porque, além do fato de hoje ser uma das principais vozes independentes a analisar o regime, ela também foi um dos primeiros alvos da perseguição política na Venezuela em meio à autocratização do poder no início dos anos 2000.

Em 2004, quando atuava como funcionária no Conselho Nacional de Fronteiras da Venezuela, ela e outras duas colegas foram sumariamente demitidas após assinarem uma petição a favor de um referendo que votaria a revogação do mandato do então presidente Hugo Chávez.

Chávez afirmou que o referendo atentava contra a soberania nacional e exigiu às autoridades eleitorais que entregassem uma cópia da lista dos que assinaram a petição. Com seu nome na lista, ela foi demitida pouco depois e chegou a apresentar seu caso à CIDH, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos, e à corte de mesmo nome.

Em 2012, a CIDH chegou a emitir medidas cautelares de proteção a Rocío San Miguel e sua filha, afirmando que ambas eram ameaçadas por autoridades. Depois, em 2018, emitiu parecer favorável ao caso, mas deu até o próximo 6 de maio para que Caracas respondesse. Até aqui, o regime de Maduro não tem respeitado as decisões da comissão.

A possível nova detenção mais uma vez amplia os alarmes sobre o autoritarismo na Venezuela. Em especial porque é ampla a expectativa sobre a possibilidade de eleições presidenciais serem realizadas no país neste ano, ainda que o descrédito em relação ao pleito seja amplo, com boa parte da comunidade internacional e de especialistas prevendo que Maduro não se desprenderá tão fácil do poder.

Os temores cresceram após Caracas inabilitar eleitoralmente os principais nomes da oposição, com María Corino Machado à frente. Ela foi, aliás, uma das que saiu em defesa de Rocío San Miguel. "Pedimos solidariedade nacional e internacional com ela e com todos os presos e perseguidos políticos da Venezuela", escreveu neste domingo no X.

Outro opositor de peso, Henrique Capriles também comentou o assunto. "Mais uma vez o poder segue uma dinâmica de terror, perseguição, criminalização e arbitrariedades para neutralizar aqueles que pensam diferente", escreveu ele na mesma rede social.

O caso de um novo desaparecimento forçado também constitui mais um entrave aos chamados Acordos de Barbados, assinados entre regime e oposição em outubro passado para criar as bases para eleições presidenciais competitivas neste ano. As tratativas poderiam constituir um grande avanço nos esforços para atenuar a crise política e a asfixia socioeconômica no país, e também por isso foram amplamente saudadas pelo governo brasileiro, de Lula (PT).

No entanto, os acordos basicamente não saíram do papel desde então.

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