Descrição de chapéu Haiti violência

Aliado do principal líder de gangues no Haiti morre durante operação policial

Tiroteio na capital acontece no momento em que políticos avançam na escolha de um conselho de transição

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São Paulo

Uma operação policial na capital do Haiti, Porto Príncipe, provocou um tiroteio nesta quinta-feira (21) e matou Ernst Julme, aliado do principal líder de gangues do país caribenho, Jimmy "Barbecue" Cherizier. Sua morte representa um revés para os planos dos grupos criminosos, que querem ter ainda mais poder sobre a cidade.

Conhecido também como Ti Grèg, Julme havia escapado recentemente da maior prisão do Haiti em uma fuga em massa. Ele era chefe da gangue Delmas 95, além de membro da aliança Viv Ansanm, ligada a Barbecue.

Policiais participam de confronto com gangues perto do Palácio Nacional, em Porto Príncipe, no Haiti - Ralph Tedy Erol - 21.mar.2024/Reuters

Na véspera, supostos membros de gangues haviam sido mortos e queimados em Pétionville, área afluente e próxima da capital onde ficam diversas embaixadas, inclusive a brasileira, e sobre a qual os grupos criminosos tentam avançar.

Os atos de violência nessa região, que vitimaram um líder conhecido como Makandalem, indicam o ressurgimento de um movimento civil de justiceiros conhecido como Bwa Kale, segundo policiais e fontes com conhecimento do assunto ouvidas pela Reuters. A imprensa local relatou outra morte ligada ao grupo fora da capital nesta quinta, mas a agência de notícias não conseguiu verificar a informação.

O Haiti é palco de uma explosão de violência causada por gangues que se uniram para pedir a saída do primeiro-ministro Ariel Henry. Na semana passada, o impopular chefe de governo, que está no poder desde o assassinato do presidente Jovenel Moïse, em 2021, prometeu renunciar assim que um conselho de transição e um líder temporário forem escolhidos para assumir o poder até as próximas eleições.

A decisão parece cada vez mais próxima —nesta quinta, Farhan Haq, porta-voz adjunto do secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, afirmou que o chefe da organização recebeu com satisfação os relatos de que as partes haviam indicado todos os representantes para o conselho.

O órgão, que vai tentar reunir a fragmentada classe política fragmentada do Haiti, terá a tarefa de nomear um substituto para o premiê. O plano de transição foi debatido na Jamaica pela Caricom (Comunidade do Caribe) ao lado de representantes do governo e da oposição do país.

Segundo a agência de notícias AFP, Henry está na Califórnia após deixar Porto Rico, onde havia aterrissado por não poder retornar a seu país. Os atuais distúrbios começaram quando o premiê esteve no Quênia para organizar o envio de reforço policial no âmbito de uma missão internacional supervisionada pela ONU e liderada pelo país africano.

Nas últimas semanas, no entanto, os planos sofreram reveses. Nairóbi chegou a dizer que não enviaria mais a operação após Henry anunciar sua renúncia, mas depois recuou. Apesar disso, a declaração queniana jogou a missão, que ainda não tem financiamento, em um cenário de mais incerteza.

Enquanto isso, a população sofre com os efeitos da grave crise de segurança. Na manhã desta sexta, vários corpos carbonizados jaziam em diferentes bairros de Porto Príncipe, de onde mais de 33 mil pessoas fugiram nos últimos 15 dias, segundo a OIM (Organização Internacional para as Migrações).

"Os ataques e a insegurança generalizada estão obrigando cada vez mais pessoas a deixar a capital em busca de refúgio nas províncias, correndo o risco de viajar em estradas controladas por gangues", afirmou a entidade.

Com dados coletados nas estações rodoviárias mais utilizadas, a organização observou que 33.333 pessoas deixaram a capital entre 8 e 20 de março, principalmente para os departamentos do Grande Sul, que já acolhem cerca de 116 mil deslocados que fugiram nos últimos meses.

Segundo a OIM, essas províncias não têm infraestrutura suficiente para tantas pessoas, e seus centros de acolhimento não têm recursos para deslocamentos massivos.

Segundo o IPC, uma organização que estabelece uma escala usada pelas Nações Unidas e governos para avaliar a fome, cerca de 4,97 milhões de pessoas de uma população de 11,5 milhões estavam enfrentando níveis de crise ou piores de insegurança alimentar no país.

"O aumento da fome está alimentando a crise de segurança que está devastando o país. Precisamos de ação urgente agora —esperar para responder em grande escala não é uma opção", disse Jean-Martin Bauer, diretor do Programa Mundial de Alimentos no Haiti.

Com Reuters e AFP

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