Israel amplia cerco a hospitais em Gaza e invade 2 deles no sul, dizem relatos

Estratégia, que acusa locais de ocultar infraestrutura do Hamas, remete àquela utilizada no Al-Shifa; terroristas negam

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Cairo | AFP e Reuters

Israel cercou mais dois hospitais na Faixa de Gaza, Al-Amal e Nasser, ambos na cidade de Khan Yunis, no sul do território, informou neste domingo (24) o Crescente Vermelho, braço da Cruz Vermelha para países islâmicos.

A organização declarou que um de seus colaboradores no Amal foi morto quando Tel Aviv, que já bombardeava o local de forma intensa, enviou tanques para os arredores do local.

Homem com crianças feridas por bombardeio de Israel busca atendimento para elas no hospital Al-Najjar, em Rafah, no sul da Faixa de Gaza - Mohammed Abed/AFP

Ainda segundo a entidade, as tropas israelenses exigem que tanto funcionários e pacientes do centro médico quanto deslocados de guerra que haviam se refugiado em seu entorno deixem a área, e lançaram bombas de fumaça para expulsá-los.

Além disso, demoliram uma série de edifícios nas proximidades, o que de acordo com o Crescente Vermelho impede a atuação de suas equipes e as coloca em perigo.

Ao mesmo tempo, moradores de Khan Yunis relataram que blindados de Israel avançaram em um bairro perto do Nasser. Tel Aviv não respondeu às acusações, que não puderam ser verificadas de forma independente pela agência de notícias Reuters.

De todo modo, a estratégia aparentemente utilizada no Amal e no Nasser remete àquela utilizada pelas forças israelenses no hospital Al-Shifa, na Cidade de Gaza, em uma operação ainda em curso.

Uma das poucas instalações de saúde parcialmente operacionais no norte de Gaza depois de quase todas as outras colapsarem por escassez de suprimentos e falta de condições de trabalho devido aos combates, ela teve a sua área invadida pela segunda vez na segunda-feira (18) —a primeira, em novembro, foi altamente controversa, e não estão claras as motivações para o retorno das forças a um local supostamente já ocupado.

Israel afirma que ambos o Shifa e o Amal abrigam bases de comando e armas do Hamas, e disse ter matado 170 terroristas e capturado outros 480 só no primeiro desde a segunda-feira. A facção terrorista nega usar os locais para fins militares, e diz que as vítimas da operação no Shifa eram pacientes feridos e palestinos deslocados que viviam ao redor do complexo hospitalar.

Moradores em áreas próximas do centro médico afirmam ainda que os enfrentamentos não ocorrem no interior dele, e sim em seus arredores, e que as forças israelenses explodiram dezenas de casas, apartamentos e ruas na área.

Os ataques a hospitais têm potencial para agravar ainda mais a crise humanitária na faixa, onde bombardeios e combates diários convivem com a fome, a sede e a falta de condições de higiene generalizadas.

Em visita ao Cairo, capital do Egito, o secretário-geral da ONU, António Guterres, afirmou que a sensação ao se olhar para Gaza hoje é de que "os quatro cavaleiros [do Apocalipse], Guerra, Fome, Peste e Morte, estão galopando por ela".

Ele havia estado no dia anterior na fronteira com Rafah, porta de entrada do envio de suprimentos para o território palestino. Neste domingo, ele disse ser "necessário que Israel elimine os últimos obstáculos e estrangulamentos à ajuda" humanitária, enfatizando que a maneira mais eficiente de fazer essas entregas era por terra, opondo-se em certa medida aos planos alternativos de algumas entidades e nações vem bolando para entregar suprimentos por via aérea e marítima.

Também urgiu por um cessar-fogo —o Conselho de Segurança da ONU deve votar nesta segunda (25) uma nova proposta de trégua depois de aquela apresentada pelos Estados Unidos ser vetada pela Rússia e pela China na sexta (22).

"O mundo inteiro reconhece que é hora de silenciar as armas", disse Guterres. "O ataque diário à dignidade humana dos palestinos está criando uma crise de credibilidade para a comunidade internacional."

Contrariando as recomendações de Guterres, porém, Israel informou à ONU neste domingo que não aprovará mais o envio de comboios de alimentos de sua agência refugiados palestinos, a UNRWA, para o norte de Gaza.

"Isso é ultrajante e torna intencional a obstrução da assistência vital durante uma fome provocada pelo homem. Essas restrições devem acabar", disse o chefe da organização, Philippe Lazzarini, na plataforma X.

A UNRWA passa por uma crise de legitimidade desde que Israel acusou vários de seus funcionários de participarem dos ataques do Hamas de 7 de outubro, que desencadearam a guerra.

A incursão terrorista ao sul de Israel naquela data resultou na morte de cerca de 1.200 pessoas e no sequestro de outras 250, das quais, estima-se, em torno de cem seguem presas em Gaza e outras 30 estariam mortas.

A retaliação do Estado judeu, por sua vez, deixou 32.226 mortos e 74.518 feridos segundo informações das autoridades de Gaza, ligadas ao Hamas, deste domingo.

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