Netanyahu aprova plano de invasão de Rafah e chama demandas do Hamas de absurdas

Cidade no sul do território é último refúgio para milhares de palestinos; Casa Branca diz querer ver planos de Israel

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São Paulo

O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, aprovou um plano para invadir Rafah, segundo comunicado do seu gabinete emitido nesta sexta-feira (15). A cidade no sul da Faixa de Gaza abriga mais da metade dos 2,3 milhões de habitantes do território palestino após grande parte da região ter sido reduzida a ruínas por bombardeios de Tel Aviv.

De acordo com Israel, Rafah é o último reduto do Hamas em Gaza, e uma ofensiva na região é necessária para atingir o objetivo alegado da guerra —a aniquilação do grupo terrorista que invadiu o sul do território israelense no início de outubro, desencadeando o conflito. Para o escritório de direitos humanos da ONU, porém, a invasão "resultaria em uma perda massiva de vidas e aumentaria o risco de mais crimes atrozes".

Palestinos rezam durante Ramadã perto das ruínas de uma mesquita destruída em Rafah - Mohammed Salem/Reuters

O escritório do premiê, que não deu um prazo para o ataque, afirmou ainda que enviará uma delegação ao Qatar para negociar uma trégua na guerra que se desenrola em Gaza, apesar de Bibi, como o líder é chamado, ter classificado as demandas do Hamas de "absurdas".

"O primeiro-ministro aprovou os planos de ação em Rafah. As Forças Armadas de Israel estão se preparando operacionalmente", afirmou o gabinete do premiê. "Em relação aos reféns, as demandas do Hamas ainda são irreais. Uma delegação israelense partirá para Doha após o gabinete de segurança discutir a posição de Israel."

Para os Estados Unidos, porém, a proposta do Hamas certamente está "dentro dos limites do acordo", segundo afirmou o porta-voz de segurança nacional da Casa Branca, John Kirby, nesta sexta. "Estamos cautelosamente otimistas de que as coisas estão avançando na direção certa, mas isso não significa que esteja concluído".

A jornalistas, Kirby afirmou ainda não ter visto o plano de invasão. "Gostaríamos de ter a oportunidade de ver", continuou, acrescentando que os EUA não apoiariam qualquer plano sem propostas "críveis" para abrigar os habitantes de Gaza.

O grupo terrorista apresentou na quinta-feira (14) um plano de cessar-fogo de várias semanas que permitiria a entrada de ajuda humanitária em Gaza. A proposta prevê a devolução de reféns israelenses em troca da libertação de prisioneiros palestinos —incluindo cem pessoas que cumprem penas de prisão perpétua, de acordo com a agência de notícias Reuters.

Em fases posteriores, o acordo também pede negociações para encerrar a guerra, mas Tel Aviv segue condicionando o fim do conflito à saída do Hamas do poder na Faixa de Gaza.

Embora Israel não tenha aceitado, os termos usados pelo país foram notavelmente mais brandos do que os escolhidos para descrever a oferta do Hamas no mês passado, quando Netanyahu chamou a proposta do grupo terrorista de "completamente delirante" e "de outro planeta".

Sami Abu Zuhri, um alto funcionário do grupo, disse à Reuters que a rejeição de Israel às demandas mostrou que Bibi estava determinado a "prosseguir com a agressão" e "minar todos os esforços para chegar a um acordo de cessar-fogo". Caberia a Washington pressionar seu aliado a aceitar uma trégua, disse ele.

Os negociadores falharam em chegar a um acordo de cessar-fogo para a guerra em Gaza a tempo do mês sagrado muçulmano do Ramadã, que começou no último domingo (10). Mas Washington e mediadores árabes ainda estão determinados a negociar para evitar um ataque israelense a Rafah e permitir a entrada de ajuda humanitária.

Segundo a ONU, todos habitantes de Gaza sofrem com crise alimentar, e um quarto deles está à beira da fome, especialmente no norte, após Israel impor bloqueios ao território. Israel, que fechou todas as rotas terrestres para Gaza, exceto duas passagens na extremidade sul, nega que seja culpado pela fome no território. As agências de ajuda dizem que precisam de melhor acesso e segurança, ambas responsabilidades das forças israelenses que bloquearam a faixa e invadiram suas cidades.

A distribuição da ajuda limitada que chega tem sido caótica e frequentemente violenta.

Em um dos piores incidentes relatados até agora, autoridades de saúde de Gaza disseram que pelo menos 29 pessoas foram mortas e mais de 150 ficaram feridas em dois ataques distintos atribuídos a Israel contra palestinos que formavam filas para receber a ajuda. Israel negou a autoria dos disparos e, nesta sexta, rebateu a acusação alegando que o próprio Hamas atirou contra a multidão.

Há sinais crescentes de atrito entre Washington e seu aliado histórico no Oriente Médio. O líder da maioria no Senado dos EUA, Chuck Schumer, líder do Partido Democrata, pediu nesta quinta que os israelenses substituam Netanyahu, cujas políticas linha-dura, segundo ele, estão arruinando a reputação internacional de Israel. Em resposta, Biden afirmou nesta sexta que Schumer fez "um bom discurso" e que suas preocupações são compartilhadas por muitos americanos.

O premiê israelense não comentou as declarações do senador americano. Seu partido, o Likud, disse que Israel não era uma república de bananas e que espera-se que Schumer respeite o governo de Israel em vez de miná-lo.

Com Reuters

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