Descrição de chapéu guerra israel-hamas

Invasão de Israel em Rafah causaria 'mortes massivas' e 'crimes atrozes', diz ONU

Entidade diz que ataque não pode ser permitido e denuncia expansão de assentamentos israelenses na Cisjordânia

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Genebra | Reuters

O escritório de direitos humanos das Nações Unidas disse nesta sexta-feira (8) que uma invasão terrestre de Israel na cidade de Rafah, no sul da Faixa em Gaza, não pode ser permitida, uma vez que uma ofensiva do tipo causaria muitas mortes, em especial de civis.

"Qualquer ataque terrestre a Rafah resultaria em uma perda massiva de vidas e aumentaria o risco de mais crimes atrozes. Isso não pode ser permitido", afirmou Jeremy Laurence, porta-voz do escritório de direitos humanos da ONU.

Palestino leva corpo de criança ao hospital Al-Najar, em Rafah, no sul da Faixa de Gaza; cidade superlotada tem sido bombardeada desde início do conflito, e Israel ameaça invadir por terra
Palestino leva corpo de criança ao hospital Al-Najar, em Rafah, no sul da Faixa de Gaza; cidade superlotada tem sido bombardeada desde início do conflito, e Israel ameaça invadir por terra - Mohammed Abed - 8.mar.2024/AFP

O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, rejeitou um cessar-fogo e voltou a ameaçar a invasão da superlotada Rafah, único grande centro urbano de Gaza em que Tel Aviv ainda não adentrou com tropas e onde vivem centenas de milhares de palestinos deslocados pelo conflito. O Exército israelense tem bombardeado a cidade desde o início da guerra com o Hamas.

"Quem nos disser para não agir em Rafah está nos dizendo para perder a guerra e isso não vai acontecer", voltou a dizer Netanyahu nesta quinta (7). Israel indicou que o próximo dia 10, início do Ramadã muçulmano, seria o prazo para o início da ofensiva do centro urbano na fronteira com o Egito, único local de entrada de ajuda humanitária para além dos insuficientes lançamentos aéreos de auxílio.

A fala do premiê israelense também expôs o impasse nas negociações entre Tel Aviv e o grupo terrorista palestino. O Hamas deixou nesta quinta o Cairo, onde se desenrolava durante a semana o diálogo por um acordo sobre o conflito, com os mediadores Egito e Qatar e sem a presença do governo de Israel.

Os dois lados da disputa acusaram-se de bloquear as tratativas e pouco cedem em suas propostas: o governo Netanyahu exige listagem, localização e devolução de reféns em troca de prisioneiros palestinos, e a facção terrorista demanda um cessar-fogo, o retorno de deslocados internos às suas casas e a retirada de tropas israelenses de Gaza para tratar da troca de reféns e detidos.

Ainda nesta sexta, o escritório de direitos humanos da ONU voltou a condenar a expansão dos assentamentos israelenses na Cisjordânia, reiterando que a prática constitui crime de guerra. Segundo a organização, os assentamentos foram ampliados em níveis recordes. Até a diplomacia dos Estados Unidos, aliados históricos de Tel Aviv, tem chamado a atenção para o fato de que a expansão dos assentamentos é "contraproducente" e prejudica o alcance de "uma paz duradoura".

"A violência dos colonos e as violações relacionadas aos assentamentos atingiram níveis chocantes e correm o risco de eliminar qualquer possibilidade prática de estabelecer um Estado palestino viável", disse Volker Türk, chefe do Conselho de Direitos Humanos da ONU, em comunicado sobre relatório que será apresentado no final de março.

A missão diplomática de Israel em Genebra afirmou que o relatório deveria ter incluído as mortes de 36 israelenses em 2023 na região. "Os direitos humanos são universais, no entanto, as vítimas israelenses do terrorismo palestino são ignoradas pelo escritório repetidamente", disse em um comunicado.

O relatório de 16 páginas, baseado no monitoramento da ONU e de outras fontes, documentou 24,3 mil novas unidades habitacionais israelenses na Cisjordânia ocupada durante o período de um ano até o final de outubro de 2023. Segundo o texto, é o número mais alto registrado desde o início do monitoramento, em 2017.

O documento também relata que houve aumento dramático em intensidade, gravidade e regularidade tanto da violência dos colonos israelenses quanto do Estado contra os palestinos na Cisjordânia ocupada, especialmente desde os ataques do Hamas em Israel no dia 7 de outubro. Desde então, mais de 400 palestinos foram mortos pelas forças de segurança israelenses ou por colonos, segundo o texto.

Israel capturou a Cisjordânia na guerra de 1967 e reivindica o direito à terra onde os assentamentos estão se expandindo. Seu Exército diz que está realizando operações de contraterrorismo na Cisjordânia e visando a suspeitos militantes.

A área foi dividida pelos Acordos de Paz de Oslo em 1993, assinados entre Israel e autoridades palestinas com a mediação de Washington, em três áreas administrativas que retalhou o território e o deixou sob administração parcial da Autoridade Nacional Palestina, criada na ocasião. Israel tem expandido e incentivado o assentamento de colonos israelenses principalmente na porção que Tel Aviv controla —segundo os acordos, a meta era transferir essa área para os palestinos com o tempo, o que nunca ocorreu.

O relatório da organização de direitos humanos da ONU observou ainda que as políticas do governo de Israel, o mais à direita na história do país e que inclui nacionalistas religiosos próximos dos colonos, pareciam alinhadas a um "nível sem precedentes" com os objetivos do movimento dos colonos israelenses. O texto documenta casos de ocupantes civis vestindo uniformes militares israelenses completos ou parciais e carregando rifles do Exército em ataques e episódios de assédio a palestinos.

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