Paquistão volta a eleger Shehbaz Sharif premiê, e oposição acusa fraude

Apoiadores do popular ex-primeiro-ministro Imran Khan, atualmente preso, protestam nas ruas durante fala do eleito

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Islamabad | Reuters

O Parlamento do Paquistão elegeu Shehbaz Sharif para um segundo mandato como primeiro-ministro do país na manhã deste domingo (3), três semanas após as tensas eleições nacionais serem seguidas por atrasos na formação de um governo de coalizão.

Shehbaz Sharif, eleito premiê do Paquistão para um segundo mandato, durante entrevista coletiva em Lahore
Shehbaz Sharif, eleito premiê do Paquistão para um segundo mandato, durante entrevista coletiva em Lahore - Arif Ali - 13.fev.24/AFP

O anúncio foi feito pelo presidente da Assembleia Nacional, Ayaz Sadiq. Sharif obteve 201 votos, mais do que os 169 necessários para ocupar o cargo de premiê. Derrotou, assim, Omar Ayub, o candidato apoiado pelo popular ex-premiê Imran Khan, que teve 92 votos.

Como esperado, a declaração foi recebida com protestos da aliança Sunni Ittehad Council (SIC), apoiada por Khan. Os políticos pediam a libertação de Khan e bradavam palavras de ordem, afirmando que Sharif chegou ao poder por meio de um processo de fraude eleitoral.

Em um discurso após o anúncio, Sharif abordou a necessidade de reformas econômicas e a estratégica diplomática do país, mas não anunciou mudanças importantes na política. "O trabalho é difícil, mas não é impossível", disse ele sobre o esforço para tirar o Paquistão das múltiplas crises em que está mergulhado.

Ele convidou a oposição para conversar. A SIC, porém, continuou a protestar durante toda a declaração, segurando cartazes com fotos de Khan e entoando "ladrões de mandato".

A eleição de 8 de fevereiro passado foi marcada por cortes na rede telefônica celular, prisões e violência. A divulgação dos resultados, por sua vez, foi incomumente atrasada, desencadeando acusações de que a votação havia sido fraudada.

Sharif, 72, voltou ao cargo que ocupava até agosto passado, quando o Parlamento foi dissolvido antes das eleições, e um governo provisório assumiu. Nenhum partido obteve maioria sozinho. O eleito é o irmão mais novo do ex-primeiro-ministro Nawaz Sharif, que liderou a campanha eleitoral de seu partido, o Pakistan Muslim League-Nawaz (PML-N).

Os candidatos apoiados por Khan conquistaram a maioria dos assentos, mas o PML-N e o Partido do Povo do Paquistão concordaram em formar um governo de coalizão, o que permitiu que Shehbaz Sharif fosse eleito premiê.

Em seu mandato anterior, ele conseguiu negociar um acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), mas o processo foi marcado por desafios, e as medidas exigidas pelo acordo, que expira em abril, contribuíram para o aumento dos preços no país.

O novo governo terá que iniciar negociações com o FMI para o próximo acordo a fim de fortalecer a economia do país, ao mesmo tempo em que lida com o crescente descontentamento devido à pobreza. O governo também terá que lidar com os desafios contínuos dos apoiadores de Khan.

"Não é a primeira vez que Shabaz Sharif se torna premiê sem ser eleito", disse o assessor próximo de Khan, Zulfikar Bukhari, à agência de notícias Reuters. "Mas desta vez a nação não permitirá que ele escape. Isso só fará o Paquistão afundar ainda mais economicamente."

Khan, um ex-astro do críquete —tão popular entre os paquistaneses quanto o futebol é entre os brasileiros—, foi premiê de 2018 até maio do ano passado, quando caiu após ser condenado pela Justiça por outro caso de corrupção.

Sua posterior prisão gerou protestos. Ele foi solto provisoriamente em agosto de 2023, mas depois voltou para a cadeia. Ele já foi condenado por supostos crimes que vão de vendas de segredos de Estado e de presentes obtidos quando era premiê a um casamento ilegal.

Três de suas condenações ocorreram em apenas uma semana, pouco antes de os paquistaneses irem às urnas, o que fez escalarem as acusações de perseguição política.

A última das acusações, relacionada ao suposto casamento ilegal, foi uma das que mais gerou repercussões pela peculiaridade.

Khan e a esposa, Bushra, foram condenados a sete anos de prisão e multados em 500 mil rúpias (cerca de R$ 30 mil). Ela foi acusada de não cumprir o período de espera exigido pela religião islâmica, chamado "iddat", após se divorciar do companheiro anterior e se casar com Khan.

No caso da venda de presentes, Khan e a esposa foram acusados de vender mimos avaliados em mais de US$ 500 mil (R$ 2,5 milhões) em Dubai. Os itens teriam sido recebidos de 2018 a 2022, quando ele ainda ocupava o cargo de primeiro-ministro.

No caso do vazamento de informações secretas, o ex-premiê foi considerado responsável por divulgar o conteúdo de um telegrama secreto enviado ao governo de Islamabad pelo embaixador do Paquistão em Washington. O político defende que o material já tinha aparecido na imprensa por outras fontes antes de ele citá-lo.

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