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Podcast esmiuça imigração, um dos temas apimentados na disputa Biden-Trump

Produção do CFR analisa políticas dos EUA para lidar com crise na fronteira e o que faz milhares tentarem cruzá-la

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São Paulo

Os imigrantes serão um dos temas apimentados da campanha presidencial americana deste ano. Como previsível, o republicano Donald Trump dirá que o país está vulnerável com a entrada de criminosos, enquanto o presidente Joe Biden defenderá a cautela e o respeito às leis.

O assunto foi objeto de recente podcast do Council on Foreign Relations (CFR), grupo americano de pesquisas com sede em Washington. A convidada foi Dara Lind, uma das especialistas num assunto que, no passado, azedou as relações do então presidente Trump com o governo do México. Isso por conta da construção de um muro que impermeabilizaria o território americano às tentativas de imigração clandestina.

Migrantes em busca de refúgio nos Estados Unidos fazem fila em El Paso, no Texas
Migrantes em busca de refúgio nos Estados Unidos fazem fila em El Paso, no Texas - Brandon Bell - Getty Images via AFP

Mas vejamos a atual ordem de grandeza do problema. Nos últimos dois anos, cerca de 4 milhões de imigrantes foram detidos ao tentarem atravessar as fronteiras ao sul dos Estados Unidos sem a documentação apropriada. Há duas décadas eles eram no máximo 500 mil por ano. E ainda: estima-se que 8 milhões de estrangeiros façam hoje uma imensa fila para obter o estatuto de refugiado. Cerca de 60% dos pedidos serão rejeitados.

Os casos não são julgados pelas guardas de fronteira ou por autoridades migratórias. São tribunais que dependem do Departamento de Justiça e que tentam distinguir os que procuram imigrar por motivos políticos daqueles que querem uma carteira de trabalho por razões econômicas.

Essas duas categorias, diz o podcast, têm um histórico curioso. Na segunda metade do século 20 prevaleciam mexicanos que queriam ganhar mais e viver melhor no país vizinho. Mas as nacionalidades passaram a ser outras. Hoje são majoritários os cidadãos de Guatemala, Honduras e El Salvador. E eles não buscam apenas uma carteira de trabalho. Querem refúgio político.

É um estatuto que também mudou. Não são pessoas perseguidas pelas ditaduras de seus países. Elas são agora vítimas de milícias e do crime organizado. Nos tribunais que recebem esses candidatos à emigração o argumento é que os governos não conseguem conter os criminosos e que estes cobram impostos ou ameaçam matar aqueles que não pagam.

Mas nem todos os tribunais são coniventes com os candidatos. Alguns exigem provas de perseguição que não se conseguem fornecer. Grosso modo, é o caso dos tribunais do Texas. Não é o que acontece num estado de tradição mais liberal como a Califórnia. Informados sobre a tendência negativa das sentenças, o estrangeiro simplesmente falta à audiência. E cai na clandestinidade porque não tem documentos.

São também os pequenos tribunais que julgam candidatos de países com repressão política inegável, como a Venezuela. Mas nem sempre é fácil demonstrar a perseguição oficial. O caso corrente é o de professores do ensino médio venezuelano que não querem ser repatriados porque o regime bolivariano tentará se vingar da suposta traição.

Há um último capítulo para os refugiados políticos. Foi uma exceção aberta aos que chegavam do Afeganistão. Os EUA se retiraram do país no início do governo Biden, e o poder político e militar voltou às mãos dos radicais islâmicos. Na época, a Casa Branca abriu as fronteiras para os afegãos, mesmo sabendo que eles não tinham qualificação linguística ou profissional para trabalharem nos EUA.

Os afegãos, de certo modo, deram carona para os candidatos à emigração da Ucrânia. E há pouco mais de um ano, uma decisão do governo Biden passou a beneficiar cidadãos de Cuba, Nicarágua, Venezuela e Haiti. Candidatos desses países têm um percurso burocrático menos penoso.

A especialista Dara Lind cita uma desonestidade cometida por partidários de Donald Trump ao mencionarem como ideal os números da imigração nos meses posteriores a abril de 2020. Acontece que a Covid-19 acabou por algum tempo com as filas nas fronteiras, com as travessias patrocinadas por contrabandistas de pessoas e com toda essa tragédia que documentários mostram com frequência. Mas aquele período não é exemplar e não serve de parâmetro.

Há, por fim, os efeitos ambíguos de uma inovação recente que a administração Biden introduziu no sistema de acolhimento ou expulsão de aspirantes à imigração. Trata-se de um aplicativo chamado CBP One. Por meio dele, o imigrante, ainda fora dos EUA, marca uma entrevista com agentes da imigração em que explicará os motivos políticos para aspirar à residência.

Com a entrevista marcada, o candidato pode entrar em território americano. A malandragem está em sumir depois da entrada e cair na clandestinidade dos sem-papéis, porque o cidadão não teria como reivindicar o estatuto de refugiado. Uma motivação humanitária à qual as instituições americanas são hoje mais sensíveis.

The Crisis at the U.S. Southern Border, With Dara Lind

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