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Trump é criticado por dizer que judeus que votam em democratas odeiam Israel

Entidades judaicas condenam fala 'difamatória' e chamam republicano candidato à Presidência de antissemita

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Washington | Reuters

O ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, causou indignação na Casa Branca, no Partido Democrata e em líderes de grupos judaicos ao dizer que os judeus americanos que votam em democratas odeiam sua religião e Israel.

"Qualquer pessoa judia que vote nos democratas odeia sua religião, odeia tudo sobre Israel e deveria se envergonhar. O Partido Democrata odeia Israel", disse Trump em entrevista com seu ex-conselheiro Sebastian Gorka, publicada nesta segunda-feira (18).

Grupos como a Liga Anti-Difamação, o Comitê Judaico Americano e o Conselho Democrático Judaico da América, condenaram os comentários do republicano por vincular a religião à forma como as pessoas votam.

Ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em Palm Beach, na Flórida
Ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em Palm Beach, na Flórida - Giorgio Viera - 19.mar.2024/AFP

"Acusar os judeus de odiarem a sua religião porque poderiam votar num determinado partido é difamatório e patentemente falso. Os líderes sérios que se preocupam com a histórica aliança EUA-Israel deveriam concentrar-se em fortalecer, em vez de desmantelar, o apoio bipartidário ao Estado de Israel", afirmou no X o presidente da Liga Anti-Difamação, Jonathan Greenblatt.

"Outro dia, outra declaração antissemita de Donald Trump, que tem repetidamente difamado a esmagadora maioria dos judeus americanos. Ele nos chamou de 'desinformados ou desleais' pela primeira vez em 2019 e repetiu isso hoje. O sentimento é mútuo", disse Halie Soifer, presidente do Conselho Democrático Judaico da América.

Questionada sobre os comentários de Trump, a Casa Branca criticou o ex-presidente e rival de Joe Biden na eleição de novembro. "Não há justificativa para espalhar estereótipos tóxicos e falsos que ameaçam os concidadãos", disse o porta-voz da Casa Branca, Andrew Bates, em comunicado.

"Trump está fazendo discursos altamente partidários e odiosos. Estou trabalhando de forma bipartidária para garantir que a relação EUA-Israel se mantenha por gerações, sustentada pela paz no Oriente Médio", afirmou o democrata Chuck Schumer, líder da maioria no Senado.

Na última quinta-feira (14), Schumer, pessoa eleita de origem judaica com mais alto cargo nos Poderes dos EUA e apoiador de longa data de Israel, criticou o primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, dizendo que ele é um obstáculo à paz cinco meses após a guerra em Gaza.

Biden disse que muitos americanos compartilham das preocupações de Schumer, e Netanyahu chamou de inapropriado o discurso do senador.

O porta-voz do Comitê Nacional Democrata, Alex Floyd, afirmou em comunicado também nesta segunda-feira que os judeus americanos "merecem algo melhor do que os ataques repugnantes e ofensivos que Trump continua a lançar contra a comunidade judaica".

Já a campanha de Trump defendeu seus comentários. "O Partido Democrata se transformou em um bando totalmente anti-Israel, antissemita e pró-terrorista", disse a porta-voz da campanha do republicano, Karoline Leavitt, em comunicado.

A Coalizão Judaica Republicana também defendeu os comentários de Trump. O porta-voz da organização, Sam Markstein, afirmou que não sabia o que Trump quis dizer com seu comentário de que os judeus americanos que votam nos Democratas odeiam sua religião, mas que as posições dos democratas eram problemáticas.

Durante seu mandato como presidente, Trump foi criticado em 2017 por estabelecer uma equivalência entre supremacistas brancos que gritavam "judeus não nos substituirão" e manifestantes contra o racismo que entraram em confronto em Charlottesville, no estado de Virgínia. Trump disse que havia "pessoas boas dos dois lados".

Trump, por outro lado, reconheceu Jerusalém como capital de Israel, transferindo a embaixada dos EUA de Tel Aviv para lá e reconhecendo a soberania israelense sobre as colinas de Golã, capturadas da Síria na guerra de 1967.

Desde que o republicano deixou o cargo, críticos citaram sua reunião em 2022 com o supremacista branco Nick Fuentes em seu resort na Flórida, que Trump disse ter acontecido inadvertidamente. Biden também criticou Trump por ecoar nazistas ao usar a palavra "verme" para descrever inimigos políticos.

O governo Biden tem apoiado a ofensiva de Israel na Faixa de Gaza contra o Hamas, onde autoridades de saúde palestinas dizem que 32 mil pessoas foram mortas desde 7 de outubro, dia em que o grupo terrorista atacou o território israelense, matou cerca de 1.200 pessoas e capturou 253 reféns.

Ainda que com rusgas recentes com Netanyahu em razão da escala da ação militar de Tel Aviv em Gaza, Biden sofre pressão de alas democratas por seu forte apoio a Israel.

Nos estados de Michigan e Minnesota, por exemplo, com grande população de origem árabe, votos em branco na primária democrata —na qual Biden não teve rivais com qualquer chance de levar a indicação do partido— deixaram clara a insatisfação com o posicionamento da Casa Branca no conflito em Gaza.

Por isso o democrata tem mudado recentemente sua posição para pressionar por um cessar-fogo e negociações que levem à implementação da chamada solução de dois Estados, israelense e palestino, na região —algo previsto pelos Acordos de Oslo, há mais de 30 anos, e nunca consolidado..

Uma pesquisa do Centro de Pesquisa Pew realizada em 2020, quando Trump e Biden se enfrentaram pela primeira vez, revelou que 71% dos judeus americanos pesquisados se identificavam com o Partido Democrata, enquanto 26% simpatizavam com o Partido Republicano.

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