Mortos em operação de Israel em hospital de Gaza sobem para 90

Tel Aviv afirma que vítimas eram terroristas do Hamas, que nega uso militar de maior centro médico do território palestino

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Jerusalém | Reuters

O Exército de Israel revisou novamente o número de mortes durante uma operação no maior hospital da Faixa de Gaza, o Al-Shifa, que ocorreu na última segunda (18). Nesta quarta (20), Tel Aviv afirmou ter matado cerca de 90 pessoas e detido outras 160 —horas após a operação, os militares falavam em 20 mortes; na terça (19), a cifra divulgada era de 50 óbitos.

Os militares alegam que os mortos estavam armados e que o centro de saúde estaria sendo usado por líderes do Hamas, o que o grupo terrorista e os funcionários do hospital negam. Entre as vítimas estão o chefe de segurança interna da facção, Faiq Mahbouh, de acordo com o Exército e com o Hamas, e dois soldados israelenses.

Fumaça sobe na Cidade de Gaza durante ataque de Israel ao hospital Al-Shifa, o maior do território palestino - Dawoud Abu Alkas/Reuters

Considerado o principal hospital do território palestino até o início do conflito, o Al-Shifa é atualmente uma das poucas instalações de saúde parcialmente operacionais no norte de Gaza após quase todas as outras colapsarem por escassez de suprimentos e falta de condições de trabalho devido aos combates. O ataque é o segundo que o hospital enfrenta desde o início da guerra —no primeiro, em novembro, Israel foi duramente criticado pela ação.

Dentro do centro de saúde, o cenário era de pânico, segundo pessoas que estavam no prédio. À BBC, o vice-diretor do departamento de emergência do Al-Shifa, Amjad Eliwah, afirmou que havia cerca de 20 médicos, 60 enfermeiras e centenas de pacientes no local. Ele estava em contato com colegas que permaneciam no interior do prédio.

"Qualquer pessoa na área do hospital foi alvo", disse o médico à rede britânica. "Há muitos feridos, pessoas estão sangrando. Minha equipe está escondida nos corredores –eles receberam ordens de um alto-falante para não se moverem."

Horas após a operação, a emissora Al Jazeera afirmou que, durante a incursão, as forças israelenses detiveram e agrediram o correspondente Ismail al-Ghoul e destruíram um veículo usado pela equipe da rede de televisão. O Departamento de Estado dos Estados Unidos disse ter pedido informações a Israel sobre esse relato.

Principal aliado de Israel, Washington fez um novo esforço nesta terça para tentar evitar que a fome se alastre ainda mais pelo território palestino e que Tel Aviv siga com seus planos de uma ofensiva terrestre em Rafah, último refúgio para mais de um milhão de deslocados.

O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, anunciou uma viagem ao Oriente Médio, onde deve se encontrar com líderes do Egito e da Arábia Saudita para "discutir a construção correta para uma paz duradoura". Em um primeiro momento, Blinken não mencionou uma parada em Israel, mas nesta quarta (20) a imprensa local afirmou que o país foi incluído na viagem.

Além disso, no início da próxima semana, autoridades dos EUA e de Israel provavelmente se reunirão em Washington para discutir a operação em Rafah, afirmou a porta-voz da Casa Branca, Karine Jean-Pierre, nesta terça. De acordo com a funcionária, o presidente dos EUA, Joe Biden, pediu ao primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, para enviar uma equipe de militares, humanitários e agentes de inteligência.

A situação em Rafah é uma das mais delicadas do conflito. Mais da metade dos 2,3 milhões de habitantes da Faixa de Gaza se espremem nessa região na fronteira com o Egito que, antes da guerra, era lar de cerca de 280 mil palestinos. Atualmente, esse é o único grande centro urbano de Gaza que Tel Aviv ainda não invadiu com tropas, embora seja alvo frequente de bombardeios.

Israel, que no início da guerra impôs um bloqueio completo ao território palestino, diz agora que está abrindo novas rotas por terra, mar e ar. Atualmente, a entrada de ajuda acontece por apenas dois postos de controle na extremidade sul de Gaza, o que tem se mostrado ineficiente.

O monitor internacional da fome, no qual a ONU se baseia, disse na segunda que as carências alimentares no território palestino já ultrapassaram os níveis de fome.

Para o alto comissário de direitos humanos das Nações Unidas, as restrições de Israel à ajuda humanitária podem ser um crime de guerra. "O alcance das restrições contínuas de Israel à entrada de ajuda em Gaza, juntamente com a maneira como continua a conduzir hostilidades, pode constituir o uso da inanição como método de guerra, o que é um crime de guerra", disse Volker Türk nesta terça.

Israel nega responsabilidade na crise humanitária e diz que a ONU e outros órgãos deveriam fazer mais para levar alimentos e distribuí-los. A organização, por sua vez, afirma que isso é impossível sem garantia de segurança, uma responsabilidade de Tel Aviv. Até esta terça, 171 membros de agências das Nações Unidas haviam sido mortos no conflito.

Conversas para um possível cessar-fogo estão sendo retomadas no Qatar, após Israel ter rejeitado uma contraproposta do Hamas na semana passada. Uma delegação israelense chefiada pelo chefe de espionagem do país viajou para Doha na segunda.

O acordo na mesa prevê uma trégua durante a qual cerca de 40 reféns israelenses seriam libertados em troca de centenas de detentos palestinos. O principal entrave é o período do cessar-fogo —enquanto Israel diz que negociará apenas por uma pausa temporária nos combates, o Hamas afirma que não libertará reféns sem um plano mais amplo para encerrar a guerra.

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