Descrição de chapéu Haiti

Haiti cria conselho presidencial após renúncia de premiê e crise de violência

País abalado por explosão de violência tenta restaurar a ordem; decreto é publicado no diário oficial

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Porto Príncipe (Haiti) | AFP

Autoridades do Haiti instalaram nesta sexta-feira (12) um conselho de transição encarregado de restaurar a ordem e trazer estabilidade ao país assolado pela crise de violência. Em um mês, quase 100 mil pessoas fugiram da área metropolitana de Porto Príncipe devido à intensificação dos ataques de gangues armadas, segundo relatório da OIM (Organização Internacional para as Migrações) das Nações Unidas.

"O mandato do conselho presidencial de transição termina, no mais tardar, em 7 de fevereiro de 2026", diz o decreto publicado no diário oficial do país caribenho. Segundo o documento, os membros do conselho devem nomear rapidamente um primeiro-ministro —no mês passado, o premiê Ariel Henry renunciou em meio à crise no país.

Um manifestante reage enquanto pneus queimam na rua durante uma manifestação em Porto Príncipe, no Haiti - Clarens Siffroy - 12.mar.24/AFP

As negociações para criação do conselho foram intermediadas por líderes da Caricom (Comunidade do Caribe) e pelo chefe da diplomacia dos Estados Unidos, Antony Blinken.

A medida pode facilitar o envio de forças estrangeiras para lidar com a crise no país. O Quênia disse que poderia enviar policiais desde que seja instalado algum governo provisório no Haiti com quem dialogar. Outros países que haviam proposto enviar seus homens seguiram a mesma linha.

Diante da violência, Ariel Henry teve de ceder o poder para o governo de transição. O ex-premiê havia assumido o cargo em julho de 2021, cerca de duas semanas após assassinato a tiros do presidente Jovenel Moïse, que o tinha indicado ao posto. Desde então, o país enfrenta uma crise profunda na política e na segurança pública.

No início de março, porém, a situação se tornou insustentável, com gangues unindo forças para atacar locais estratégicos da capital, Porto Príncipe, e exigindo a renúncia do premiê.

A violência aprofundou a crise humanitária. Segundo relatório divulgado pelo escritório de direitos humanos da ONU, os conflitos entre gangues no país mataram mais de 1.500 pessoas desde o início do ano, incluindo crianças. Algumas dessas mortes foram causadas por linchamentos, apedrejamentos e queimaduras.

"Fatores estruturais e conjunturais levaram o Haiti a uma situação cataclísmica, caracterizada por uma profunda instabilidade política e instituições extremamente frágeis", diz o texto.

Já o relatório da OIM constatou que entre 8 de março e 9 de abril, 94.821 pessoas fugiram da capital com destino principalmente a regiões do sul, que já acolhem 116 mil deslocados nos últimos meses. A agência ressalta que esses números não refletem necessariamente todo o fluxo, já que alguns deslocados não passam pelos pontos de controle em que os dados são coletados.

De acordo com a organização, as províncias de destino não têm infraestruturas adequadas e as comunidades de acolhimento não têm recursos suficientes que lhes permitam enfrentar os fluxos massivos.

De acordo com os dados, a maioria (63%) das quase 100 mil pessoas que fugiram da capital já estava deslocada internamente, muitas vezes refugiada primeiro com familiares na área metropolitana de Porto Príncipe. Alguns já haviam saído de seus territórios mais de três vezes.

Apesar da escalada recente, a crise no Haiti vem de séculos, desde a independência da França, em 1804. Depois de uma série de sucessão de governos no século 19 derrubados por revoltas ou assassinatos, o país foi dominado pela ditadura violenta de François "Papa Doc" Duvalier e seu filho, Jean-Claude "Baby Doc" até meados dos anos 1980.

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